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Crítica | Fear the Walking Dead – 7X02: Six Hours

Mad Morgan: Estrada dos Mortos

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Confesso que estou adorando o visual criado pelo apocalipse nuclear dentro do apocalipse zumbi da nova temporada de Fear the Walking Dead. A pegada que evoca imagens de longas realistas como O Dia Seguinte (como eu tinha pavor desse telefilme!), com pitadas de insanidade de Mad Max e da atmosfera de clássicos modernos como Blade Runner 2049 inegavelmente trouxe algo novo para a desgastada série, com a direção de Michael E. Satrazemis, mais uma vez, trabalhando bem para trazer um pouco do terror de volta. No entanto, quer parecer que os showrunners Andrew Chambliss e Ian Goldberg, que pela segunda vez seguida escreveram o roteiro, não querem realmente nos deixar aproveitar a aflição causada pela desolação nuclear.

Isso já havia acontecido em The Beacon, com aquele começo assustador que chamei de guia de turismo pelo Texas radioativo, cortesia do finado Will. A mudança de ritmo, lá, veio rápida demais, com toda a construção atmosférica abrindo espaço para a complexa (ou seria confusa?) trama envolvendo um Victor Strand vilanesco que agora se acha um grande general. Em Six Hours, o mesmo desperdício se repete, com o agravante de a história de Morgan, Grace e a pequena Mo ser complicada demais, cheias de conveniências demais e, no final das contas, apressada demais.

Nem bem vemos que o casal permaneceu no submarino, uma escolha sábia considerando tanto a proteção contra radiação que ele oferece, como a facilidade de defesa do lugar que só tem uma entrada, somos informados que o problema deles é comida, o que leva Grace a sair em uma expedição de forma que sejamos informados que seis horas é todo o tempo que um ser humano pode ficar flanando na radiação e que ela sofre do trauma da perda de Athena e deseja por um fim à sua vida. No lugar de desenvolver essa premissa naturalmente, eis que, no momento seguinte, descobrimos que Morgan vinha secretamente criando um carro que realmente parece tirado da franquia Mad Max, de forma que eles possam fugir dali. Começa, então, uma road trip que qualquer pessoa que fosse introduzida hoje, pela primeira vez na vida, a um filme do gênero, diria que não tem futuro e que é mais outra maneira de lidar com o complexo de messias de Morgan, artifício que cansou antes mesmo de começar anos atrás.

O que segue – o casal completamente queimado pela radiação e os zumbis atômicos – é outro momento que poderia ser explorado com vagar, sem que o episódio precisasse criar aquilo tudo somente para que Morgan e Grace descubram sobre o mítico refúgio Padre (para onde, em tese, Alicia foi) e um novo vilão (estava demorando…) seja introduzido, mas cuja identidade só descobrimos ao final: o caçador de recompensas Emile tinha um irmão gêmeo que, agora, caça Morgan. Hummm, ok, legal e tal, mas, querem saber? Desnecessário. Ou, pelo menos, desnecessárias foram as voltas e mais voltas que o episódio dá para chegar a esse ponto, o inclui até mesmo uma visita de Howard e seus minions e, mais do que isso, uma ridícula descoberta de um tesouro alimentício no assoalho do submarino.

E com isso eu quero dizer algo muito simples, que Six Hours não é exatamente um episódio, mas sim diversos trechos de vários episódios costurados juntos, como uma colcha de retalhos, em quase 50 minutos, o que, obviamente, retira o possível impacto de todas as situações criadas, reveladas e mostradas, inclusive e especialmente a abordagem de horror clássico que o episódio ensaia fazer. O tumulto é grande, a sana de se conectar os pontos é maior ainda e tudo acaba assaz artificial, da viagem de carro um tanto quanto aleatória que Morgan insiste em fazer (não teria sido melhor usar o carro para procurar comida?), passando pelos deformados Fred e Bea com um bebê desmorto à tiracolo (vou dizer logo: faltou coragem de mostrar a criaturinha linda) em uma daquelas coincidências de revirar os olhos e pela chegada “iluminada” do vingativo Josiah (Demetrius Grosse) que eu espero que não seja apenas mais um vilão descartável dessa série cheia deles. Por último, acho que nem preciso falar da lógica ilógica dos efeitos da radiação, pois isso é algo que decidi ignorar para manter minha sanidade assistindo à temporada, ok?

O que eu queria era simplicidade. A situação dos sobreviventes já é terrível o suficiente com o duplo apocalipse para que seja verdadeiramente necessário adicionar penduricalhos narrativos tão cedo na temporada. Fear the Walking Dead, ao que parece, mais uma vez oferece um começo com potencial que é sabotado por pretensões megalômanas que normalmente acabam cedendo ao seu próprio peso. Espero estar enganado desta vez, mas acho que não estou…

Fear the Walking Dead – 7X02: Six Hours (EUA, 24 de outubro de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Ian Goldberg, Andrew Chambliss
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Mo Collins, Alexa Nisenson, Karen David, Christine Evangelista, Colby Hollman, Jenna Elfman, Keith Carradine, Rubén Blades, Omid Abtahi, Demetrius Grosse
Duração: 46 min.

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