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Crítica | Fear the Walking Dead – 7X15: Amina

Ser eletrocutado é uma tortura mais branda...

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Depois de assistir ao 100º episódio de Fear the Walking Dead, minha conclusão é uma só: eu teria preferido um daqueles episódios comemorativos padrão dessa marca comemorativa em que tudo o que vemos são flashbacks para os melhores e mais emocionantes momentos da série até esse ponto. Tenho a mais absoluta convicção de que, mesmo considerando que passear pelo passado de FTWD não seria particularmente agradável, isso pelo menos teria proporcionado uma meia dúzia de momentos memoráveis que as sete temporadas certamente tiveram e não essa modorrência ignominéica – sim, baixou o Odorico Paraguaçu aqui – composta de Alicia desmaia, Alicia acorda, Alicia fala com sua versão criança, Alicia liberta passarinho, Alicia sobe escada para salvar Strand, Alicia desce tudo off-screen magicamente e assim por diante.

Pode não ter sido o pior episódio da série até aqui – mas ele concorre bravamente pelo título, podem ter certeza -, mas eu, que vejo séries e filmes sem me mexer do sofá sequer para ir ao banheiro, tive que pausar para respirar fundo, andar um pouco, beber água, comer alguma coisa, limpar o banheiro, botar gasolina no carro, fazer compras no mercado, surfar pela internet a cada 10 minutos desse inacreditável suplício zumbificado. Andrew Chambliss e Ian Goldberg conseguiram mais um feito incrível que foi terminar de destruir toda e qualquer simpatia que eu ainda tinha por Alicia. E eu até reconheço que Alycia Debnam-Carey tem atuado bem como uma semi-zumbi febril que não sabe muito bem o que quer da vida, mas não deu. Simplesmente não deu aturar a vergonha que foi esse roteiro cheio de filosofia de botequim, daquelas bradadas em alto e bom som, entre amigos bêbados, naquele pé sujo da esquina.

Será que Chambliss e Goldberg realmente acharam que escreveram algo merecedor de alguma láurea, algum texto profundo, que gere discussões, que seja capaz de surpreender algum espectador de mais de seis anos de idade? Porque é o que parece que eles quiseram fazer, como se fazer surgir uma criança que não tira o capacete e que só Alicia vê e ouve fosse o suprassumo narrativo, enquanto que é mais do que evidente que isso não passa, com muita boa vontade, do que Éric Rohmer chamaria, muito apropriadamente, de “ó do borogodó” (ou, foneticamente, com muito bico, “ô du bôrrôgôdô”). A dupla “”criativa”” – repararam nas aspas duplas? – deve ter terminado de ditar o roteiro para seu horrorizado assistente e brindado com Champagne essa incomparável conquista capaz de fazer Vince Gilligan e Peter Gould se envergonharem do que escrevem naquela série do advogado malandro, porque só pode, viu?

E toda essa filosofada chinfrim foi para que mesmo? Para ver algumas cenas rapidíssimas das demais temporadas, um pouquinho de Madison para criar aquele prenúncio ridículo de tão safado e, rufem os tambores, Alicia salvar Victor Strand em sua torre incendiada, tudo isso enquanto o conceito de PADRE é ressuscitado? Não só a promessa de transformar o sujeito em um dos únicos vilões minimamente razoáveis da série foi pelo ralo no episódio anterior, como, aqui, ele parece um tristemente hilário pastiche de princesa em apuros que precisa ser resgatada pela Libertadora de Passarinhos. E o mais divertido de tudo – uso o adjetivo em questão ironicamente, claro – é que qualquer cena que contenha algum tipo de dificuldade técnica ou lógica ganha o mesmo tratamento no episódio, ou seja, um corte seco, uma elipse e voilà, tudo está resolvido. Eu acho que fui capaz de ouvir ecos das discussões de Chambliss, Goldberg, Michael E. Satrazemis e todos os demais envolvidos por essa atrocidade achando o máximo esse artifício, pois, se Alicia adulta ouve e fala com a Alicia jovem, eu também posso pelo menos ouvir essa galera lá no Hemisfério Norte fazendo besteira…

Prometo que não vou falar sobre radiação, pois já cansei disso, mas não posso deixar os botes passarem. De onde eles surgiram? E que maré é essa que espera Alicia ir e vir cambaleando umas cinco vezes lá do prédio em chamas? E mais: que quantidade mirrada é essa de gente que saiu lá da torre? Acabou o dinheiro para contratar extras na porta do estúdio ou Satrazemis resolveu adotar o estilo Dogma 95 de filmar? E as bênçãos que pedem um a um a Alicia? Sério. Eu ri daquilo, mas ri de nervoso já com o dedo no “pause” para mais uma vez sair para comprar jujuba no mercado.

E chega. Cansei de escrever. Não tenho mais o que dizer sobre Amina, um dos mais idiotas episódios comemorativos que já tive o desprazer de ver (e eu vi muuuuitos…). Minto. Não tenho mais o que dizer sobre Fear the Walking Dead como um todo, pois essa série está mais para algo que os americanos produzem especificamente para torturar terroristas em Guantánamo. Terror gera terror, não é isso que dizia o poeta?

Fear the Walking Dead – 7X15: Amina (EUA, 29 de maio de 2022)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Ian Goldberg, Andrew Chambliss
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Mo Collins, Alexa Nisenson, Karen David, Christine Evangelista, Colby Hollman, Jenna Elfman, Rubén Blades, Demetrius Grosse, Aisha Tyler, Sydney Lemmon, Gus Halper
Duração: 50 min.

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