Home TVEpisódio Crítica | Fear the Walking Dead – 8X04: King County

Crítica | Fear the Walking Dead – 8X04: King County

Desperdiçando o grande momento de Morgan Jones.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

É raro, bem raro, especialmente sob a batuta de Andrew Chambliss e Ian Goldberg, mas Fear the Walking Dead consegue oferecer lampejos de excelência quando a dupla de showrunners se esforça um pouquinho. O grande problema é que, com poucas exceções, como foi o caso de The End of Everything) esses lampejos só ficam assim mesmo, como algumas ideias boas que servem de base para episódios que acabam sendo ruins ou até mesmo para temporadas inteiras, como foi o caso, por exemplo, de usar mísseis balísticos para transformar o Texas em um inferno nuclear. Lindo na teoria, péssimo na execução. Em King County, o conceito de fazer Morgan Jones retornar para sua casa para ele terminar de matar seu filho é boa, além de ser tematicamente perfeita para uma temporada que gravita ao redor da relação entre pais e filhos.

O que aconteceu com Duane para além de ele ter sido mordido era um dos poucos “segredos” da franquia The Walking Dead e, como a série mãe já acabou e FTWD está na última temporada, reviver esse assunto agora, assunto esse que eu confesso que já havia esquecido completamente, cria uma circularidade narrativa interessante para Morgan. O problema, como de hábito, repousa na execução e o que poderia ter sido um episódio contemplativo, sólido e até emocionante, abrindo espaço para Lennie James mostrar que pode incorporar mais do que apenas o chato de galochas que viveu nesses últimos vários anos, não passa de mais um capítulo qualquer, ainda que acima dos que o antecederam na temporada, um sarrafo muito baixo, obviamente.

E o que dá errado aqui? Simples. Primeiro a chegada surpresa de Grace, explicando que recebeu uma transmissão que Morgan diz que não havia enviado, somente para descobrir que a pequena Mo estava escondida no carro (surpresa dentro da surpresa?) e que ela é que mandara a mensagem, pois ela é uma gênia de nove anos capaz de deduzir coisas sobre seus pais que nunca viu antes só com pistas visuais em meio a um pântano de mortos-vivos. Só com esses três, o episódio já começa a ficar tumultuado e a se desviar de seu objetivo. Mas isso não basta para os showrunners e eles precisam de mais gente. Eis que chegam, então, Dwight e Sherry caçando Morgan porque eles querem salvar o filho deles que ficou lá em PADRE e, no lugar de eles imediatamente pedirem para o garoto dar aquela rasteira esperta em Shrike que resolve tudo magicamente, eles dão uma de malvadões hesitantes para enrolar a progressão narrativa.

Percebem aonde eu quero chegar? FTWD não tem mais rumo. E eu sei que isso não é novidade, mas caramba, estamos na última temporada! Só que não adianta. A produção não sabe mais fazer uma coisa simples de maneira eficiente sequer. Tudo precisa de dramalhão – a revelação de que Grace está morrendo de radiação somente para ela começar em seguida a morrer de mordida de desmorto que aparece como um boneco de casa do terror de parque de diversão é o cúmulo do exagero ridículo – e tudo precisa envolver PADRE diretamente. Agora então que sabemos que os líderes daquele lugar são os dois irmãos borra-botas, qualquer menção a PADRE me dá aversão completa, ainda que eu saiba que terei que aturar isso por mais oito episódios.

O que funciona no episódio, portanto, é tudo aquilo que não depende de Grace, Mo, Dwight, Sherry e PADRE. O que funciona é o trauma de Morgan, seu medo de encarar o passado, sua visão delirante da esposa desmorta pela mira do rifle que Rick deu para ele e, claro, a revelação de que ele, em seu desespero amnésico, voltara para sua casa e acorrentara o filho no sótão em algum tipo de reflexo que é perfeitamente compreensível diante da tragédia que ele testemunhara. Eu já estava cansado de Morgan Jones e meus comentários ao longo das temporadas da série não me deixam mentir, mas eu consegui gostar muito do que o roteiro faz com o personagem aqui, finalmente permitindo-lhe um ponto final sobre sua vida pregressa para que ele possa verdadeiramente viver sua nova vida. Eu apenas queria que esse foco não tivesse sido perdido logo de cara com histórias paralelas de revirar os olhos.

Fear the Walking Dead consegue tornar comum até mesmo os poucos momentos que tinha para se sobressair. O retorno de Morgan Jones para o começo de seu drama era para ter sido o grande episódio do personagem. Infelizmente, na sofreguidão de entulhar a minutagem de coisas supérfluas, os showrunners perderam outra oportunidade de ouro de fazer algo memorável e, ao que tudo indica, a derradeira temporada da série não conseguirá ter um episódio sequer que seja mais do que apenas bom (e com viés de baixa…).

Fear the Walking Dead – 8X04: King County (EUA, 04 de junho de 2023)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Kenneth Requa
Roteiro: Ian Goldberg, Andrew Chambliss
Elenco: Lennie James, Karen David, Austin Amelio, Christine Evangelista, Zoey Merchant
Duração: 46 min.

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