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Crítica | Febre Ondulante

por Guilherme Coral
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estrelas 4

A fraqueza humana perante a explosão de seus sentimentos, a entrega completa a paixão ardente, a ponto de colocar a si próprio em segundo plano – tanto fisicamente quanto psicologicamente – é o tema central de Febre Ondulante, novo filme de Ando Hiroshi, que iniciara sua carreira nos longa-metragens em filmes pornôs, para, posteriormente partir para o cinema autoral. Explorando, em dois tempos distintos, que seguem paralelamente, o diretor explora a sexualidade de um casal em uma relação completamente viciada, que causa mais dano que prazer.

Hiroshi (Sôsuke Ikematsu), ainda virgem e necessitado do corpo de uma mulher, aborda sua colega estudante Emiko (Yui Ichikawa), deixando claro quais as suas necessidades e que elas independem de quem seja, ela é apenas mais uma dentre as meninas do colégio segundo ele próprio. A garota, contudo, se vê perdidamente apaixonada pelo menino, por motivos que ela própria desconhece, e aceita ser utilizada como objeto sexual. A oscilação entre passado e presente, contudo, nos mostram a evolução dessa relação e como a dependência de um passa a se tornar a de outro, ao mesmo tempo que a independência surge no interior de um deles.

Febre Ondulante, similarmente a muitas outras obras cinematográficas japonesas (Akira, Batalha Real, me vem primeiro a mente), aborda o embate de gerações japonês, o tradicional em contraposição ao contemporâneo, trazendo a tona importantes questões sobre a individualidade da mulher e o uso de seu corpo – questão que ganha ainda mais importância quando tratamos de uma sociedade machista como a japonesa. É errado Emiko se entregar como um mero objeto para Hiroshi ou essa é mais uma forma de utilização de sua liberdade? Afinal, ela também sente prazer através da relação entre os dois. Com esse questionamento em cena, é interessante como o diretor se mantém em uma posição quase neutra, oferecendo argumentos para ambos os lados e deixando para o espectador, de fato, decidir qual é a resposta “certa”.

A figura da mãe da estudante é, portanto, essencial para a construção dessa problemática e, por mais que a obra exagere nas brigas entre as duas – pecando pelo excesso de melodrama, que torna uma sequência impactante em algo puramente ridículo -, temos a completa percepção de que a escolha da menina entra em oposição com todas as expectativas que a sociedade tem dela. E a direção não deixa fácil para o espectador e nos traz enquadramentos que amplificam a sensualidade de cada cena de sexo, não apenas pragmatizando cada relação sexual e, portanto, trazendo à tona todos os sentimentos ali envolvidos.

A postura de Hiroshi é aquela que mais causa distância com o espectador nos momentos iniciais. Evidentemente colocado como uma espécie de antagonista (como deveria ser) nos trechos iniciais, pela sua conduta , o personagem assume uma crescente fraqueza com o passar dos minutos de projeção, apenas enaltecendo a construção de personagem pela qual Emiko passa, paralelamente a desconstrução do garoto. Essa condução da trama nos faz enxergar cada um deles como, de fato, seres humanos e não apenas atores desempenhando seus papeis em frente às câmeras.

Esse caráter realista de Febre Ondulante, naturalmente, nos aproxima, nos imerge na narrativa e, por mais que enxerguemos na tela situações bastante inusitadas, não podemos deixar de nos identificar com os personagens, ao passo que Haruhiko Arai insere em seu roteiro mais sensações que ações de fato. A fraqueza humana se torna evidente e nos faz pensar sobre nossas próprias ações e como podemos enterrar nossa individualidade simplesmente em favor do que queremos no momento presente, deixando o futuro para o acaso.

Febre Ondulante (Umi o Kanjiru Toki – Japão, 2014)
Direção:
 Hiroshi Ando
Roteiro: Haruhiko Arai
Elenco: Yui Ichikawa, Sôsuke Ikematsu, Masaki Miura, Kumi Nakamura
Duração: 118 min.

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