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Crítica | Final Fantasy: Legend of the Crystals

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Antes de falarmos especificamente de Final Fantasy: Legend of the Crystals, é importante fazer uma breve contextualização para o tipo de formato em que a obra foi lançada. Como nunca abordamos a fundo esse tipo de produção aqui no Plano Crítico, penso que é interessante para o leitor menos acostumado com o termo e com o formato ter uma noção rápida sobre o que significa um OVA.

OVA é a sigla de Original Video Animation, que muitas vezes também pode ser encontrada sob a nomenclatura OAV (Original Animation Video), o que é exatamente a mesma coisa. Pede-se apenas para que o espectador fique atento, porque OAV às vezes quer dizer Original Adult Video, e… bem, todos nós sabemos que tipo de filme educativo esse termo corresponde, não é mesmo?

Outra sigla que é importante saber de cara, pois não falaremos dela posteriormente, é a OAD (Original Animation DVD), surgida no verão japonês de 2008 e que ainda não é tão conhecida aqui no Ocidente (pelo menos até este início de 2014), e que corresponde a uma animação lançada diretamente em DVD e junto com o mangá que lhe deu origem, uma espécie de “Edição Especial” do mangá que vem com um “bônus” em animação, um material produzido especialmente para a ocasião. A rigor, trata-se de um OVA também (todos os OADs são OVAs, mas nem todos os OVAs são OADs).

Os OVAs, em sua concepção original, são animes (os desenhos animados japoneses, para simplificar; e, lembrando: muitas pessoas consideram “animes” apenas o material feito para a televisão; já outras consideram “anime” toda e qualquer animação vinda do Japão) lançados diretamente em DVD ou na Internet, sem prévia exibição na TV. Esse formato de lançamento é a característica principal do modelo, que, obviamente, tem suas exceções. Algumas conferências e convenções do gênero também costumam exibir OVAs como atrativo para o público, antes do DVD chegar ao mercado, mas isso é uma estratégia de marketing, como a que alguns painéis da Comic Con fazem.

Além do formato de lançamento, os OVAs têm outras características especiais. Eles são menores em número de episódios, se compararmos com os animes normais; e são um “extra-série”, “extra-anime original”. Não podemos chamá-los de complemento, porque os OVAs são marcados por histórias independentes do mundo que lhe dão origem, mesmo que mantenham referências deste (são uma espécie de spin-off de série).

O formato OVA surgiu em 1983, e, desde então, tornou-se bastante popular no Japão. A partir dos anos 2000, algumas séries inteiras passaram a ser lançadas sob esse padrão. No quesito de qualidade imagética e estética, os OVAs pré-Era Digital/Internet costumavam a ser melhores que o anime televisionado, dado o tempo maior que o Estúdio ou a Companhia tinham para produzir a obra. Até os temas condiziam melhor com as raízes dessas produções, algo que vem se tornando um pouco banal (sempre havendo exceções), posto que alguns OVAs contam histórias absurdas, que chegam até negar a mitologia do anime que lhe deu origem. Além disso, nem todos guardam mais o quesito de qualidade superior à série televisionada.

Em 1994, o Estúdio Madhouse lançou um OVA de Final Fantasy chamado Legend of the Crystals. A obra é composta por 4 episódios de meia hora e se passa em uma realidade de 200 anos após a aventura do jogo Final Fantasy V. Não é necessário um conhecimento profundo do que acontece no jogo para assistir e entender o anime, embora uma noção básica do universo de FF seja necessária para contextualizar dramaticamente a fantasia. Também vale citar que muito dos elementos do jogo se encontram neste OVA, mas são retrabalhados pelos diretores, como veremos abaixo.

A história transcorre, segundo a própria introdução do capítulo de abertura, no ano 1000 do calendário cósmico da era Kario Yuga (200 anos no futuro de FF-V), e num planeta chamado “R”. Nessa história, o tal planeta é mantido pelos cristais que controlam os 4 elementos do universo (Terra, Água, Ar e Fogo), mas uma certa entidade maligna conseguiu roubar 3 deles e isso vem causando catástrofes no planeta, como um vento que fica cada vez mais forte e outros cataclismos que podem acabar de vez com o planeta. Apenas o Cristal do Vento permanece em seu Templo, e Linaly, seu avô e o jovem Prettz vão tentar salvá-lo da entidade maligna.

O primeiro episódio nos familiariza com a situação, abordando de forma rápida a motivação de cada um dos personagens principais e mostrando de maneira chamativa o início da busca. O ruim desse episódio é a forma solta com que o contexto é exposto. O roteiro cita um ou outro elemento que dá uma boa noção de lugar, eventos ou situações para o público, mas é tudo muito rápido, algo fica com aparência de enredo incompleto, principalmente porque vemos alguns momentos desnecessários ganharem atenção no decorrer da trama, como as incursões amorosas de Prettz em relação a Linaly e a terrível paixão de Valkus pela pirata Rouge.

Em um momento ou outro esse lado romântico chega a ser engraçado porque envolve personagens completamente diferentes, mas uma trama desse tipo não necessitava de uma distração assim. Temos até a noção de que os roteiristas quiseram usar um motivo “aplacador de tensão”, mas isso já era feito com os gritos e trapalhadas de Prettz, especialmente após o aparecimento do espírito de Mid, neto do engenheiro Cid “Shido” Previa.

O decorrer da história é relativamente bem dirigido, caindo em algumas poucas armadilhas de verossimilhança, mesmo considerando o universo fantástico em que a trama existe. O que mais me incomodou foram as quedas das naves, todas elas ligadas a resoluções do tipo Deus ex machina, uma opção desnecessária para uma história baseada em um mundo fantástico, dada a quantidade de coisas criativas que poderiam ser facilmente inseridas na história e tornar melhor determinadas cenas.

Outro ponto a ser considerado é o afastamento do avô de Linaly da história. Mesmo que levemos em consideração a sua fraqueza/recuperação após os eventos da jornada que fizeram, o seu ponto de partida é totalmente gratuito, uma vez que a iniciativa parte dele, mas é Linay e Prettz quem na verdade assumem a aventura. Nem uma inserção de caráter profético é dada ao velho. Os diretores ainda fizeram uma ligação dele realizando preces aos deuses guardiões dos cristais para que guiasse Linaly, mas para uma personagem com uma preocupação e motivação tão fortes vir a servir de psicopompo humano indireto é uma queda e tanto.

O término da aventura ainda traz Valkus na nave pirata de Rouge, que mesmo após a aventura não mudou de vida – o que de alguma forma é interessante. A paz voltou a reinar e os cristais foram recuperados (a propósito disso, vale citar que esse Cristal do Vento foi muito espertinho, alojando-se bem na bunda de Linaly) e retomados aos seus lugares, um evento que acontece em elipse.

A produção de Legend of the Crystals não é ruim, assim como sua história de modo geral. Salvo os pontos negativos aqui citados, é possível se divertir com a aventura. Nesse ponto, o OVA conseguiu seu objetivo de mercado.

Final Fantasy: Legend of the Crystals (Fainaru Fantajî) – Japão, 1994
Direção: Naoto Kanda, Tomihiko Okubo, Rintaro
Roteiro: Satoru Akahori, Mayori Sekijima
Elenco (vozes originais): Shigeru Chiba, Etsuko Kozakura, Rica Matsumoto, Yûko Minaguchi
Duração: 120 min.

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