Home LiteraturaConto Crítica | Doctor Who: Five Card Draw, Still Lives e The Switching (Short Trips: Zodiac)

Crítica | Doctor Who: Five Card Draw, Still Lives e The Switching (Short Trips: Zodiac)

por Luiz Santiago
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Os três contos aqui analisados fazem parte da coletânea Short Trips – Zodiac, lançada no Reino Unido em 6 de março de 2002. Há duas histórias protagonizadas pelo 3º Doutor e uma história multi-Doctor. Como se trata de uma coletânea de histórias sobre os Signos do Zodíaco, cada um delas representa uma casa astrológica. A primeira, Still Lives, representa o signo de Câncer. A segunda, The Switching, representa o signo de Libra. Por último, a aventura multi-Doctor, Five Card Draw, que representa o signo de Sagitário.
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Still Lives

Equipe: 3º Doutor, Liz + UNIT
Era: UNIT — Ano 2
Espaço: Londres, Reino Unido
Tempo: Anos 1970

Still Lives aborda os acontecimentos para o signo de Câncer e se passa logo depois do excelente arco Inferno. O conto é um denso estudo sobre o sentimento de culpa e se se configurar uma análise das consequências — positivas e negativas — das ações do Doutor em torno das pessoas que o cerca. Com o Brigadeiro Lethbridge-Stewart e Liz Shaw como personagens coadjuvantes, a história parece ser um relato normal da Era UNIT, mas não é.

O conto começa com uma citação de Cândido, ou O Otimismo, de Voltaire, o que é uma ironia pendendo para o humor negro se levarmos em consideração o que acontece na história. O autor, Ian Potter, aproveita-se da mudança de universos ocorridas em Inferno para nos fazer, nas entrelinhas, a seguinte pergunta: e se um membro da UNIT fosse “pego” pelo fluxo temporal no momento em que o Doutor estivesse passando de um Universo para outro? Se Bessie foi transferida, uma pessoa também poderia, correto? Correto.

Se perdoarmos Potter pelo estilo narrativo demasiadamente intricado, alternado pontos de vista de um personagem para registros narrativos em diário e representação de cenas do cotidiano, certamente aproveitaremos muito mais a confusão temporal em que Helen Martin se viu durante 5 anos, presa em um mundo onde apenas ela se movia, um mundo parado em 22 de julho, às 11h15. Agora imaginem vocês a angústia que é dar-se conta disso. O interessante é que ela inicialmente cogita tratar-se de um loop temporal, mas então percebe que o tempo ao redor dela está passando, que ela consegue alterar algumas coisas em torno mas infelizmente não logra contatar o Doutor, pelo caráter fugaz de sua existência.

O leitor fica com uma dor no coração ao ler a história. A esperança aparece ao final, quando a estrutura textual fica mais leve, embora não perca seu impacto. A aparição de Mark, soldado da Republican Security Forces na Terra de Inferno, torna tudo ainda mais intrigante e coloca uma outra camada de angústia na trama, embora nos dê a ideia de que, em algum tempo no futuro, as coisas se resolveriam.

Short Trips: Zodiac — Still Lives (Reino Unido, 2002)
Autor: Ian Potter
23 páginas

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The Switching

Equipe: 3º Doutor, Jo + UNIT
Era: UNIT — Ano 4
Espaço: Reino Unido
Tempo: Anos 1970

Para quem gosta da era do 3º Doutor e especialmente de sua relação com o Mestre, a leitura de The Switching é mais que obrigatória. Representando o signo de Libra nos contos do Zodíaco, a história traz um intricado (e um tantinho forçado) plano do Mestre para escapar da prisão em que foi colocado depois de The Dæmons: ele cria um dispositivo que consegue fazê-lo trocar de corpo com o Doutor, ou seja, um belo dia, o Time Lord exilado estava no QG da UNIT, fazendo experimentos em uma amostra de metal encontrada quando desmaia e acorda em uma prisão, em um corpo que não era o dele.

Há um quê humorístico no texto que segura o leitor o tempo inteiro. Mesmo que a construção do dispositivo não seja assim tão atrativa e a história termine um pouquinho aberta (não de forma positiva), não há como negar a graça da aventura e das novidades que ela nos traz. Ver a reação do Brigadeiro, Jo, Benton e Yates ao Doutor “agindo estranho” é algo precioso. E, para completar, ainda temos uma boa surpresa ao final, envolvendo algo que nos arcos televisionados havia sido mais ou menos sugerido mas nunca concretizado.

A mudança de hábito, as conversas estranhas e a “troca de vida” que acontece aqui são simplesmente sensacionais. A leitura do conto é válida pelo humor, pela excelente exposição do Mestre e por mostrar a relação do Doutor se tornando mais íntimo de Mike Yates, uma relação que sofreria grande abalo em Invasion of the Dinosaurs.

Short Trips: Zodiac — The Switching (Reino Unido, 2002)
Autor: Simon Guerrier
23 páginas

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Five Card Draw

Equipe: 5º Doutor, Peri / 1º Doutor / 2º Doutor / 3º Doutor / 6º Doutor
Espaço: Inglaterra
Tempo: Idade Média

A visão de Todd Green para o signo de sagitário, com 5 versões do Doutor em cena é no mínimo instigante. Começando com uma “pequena falha” na TARDIS do 5º Doutor, a aventura se passa na Inglaterra Medieval e o encontro entre essas 5 versões se dá de uma maneira cômica, fraternal e… urgente.

Em apuros, o 1º Doutor faz contato mental com algumas de suas encarnações posteriores e todos acabam dentro de um castelo jogando cartas, até que o mais velho conta a todos uma história e então entende-se por que foram parar ali. Fica fácil perceber que a melhor parte da história é o jogo de cartas entre o quinteto, cujo encontro não é marcado por birras e tiradas negativas entre eles, como era de se esperar. Isso é bom, porque nos mostra um outro aspecto do encontro entre os doutores, um aspecto que é minimizado pela parte “B” da narrativa, envolvendo a “mocinha em perigo”.

Com a estrutura do texto que conseguiu levar adiante neste conto e a força dos 5 personagens, toda aquela história de Lady Mary e dos cavaleiros medievais se coloca apenas como um filler difícil de engolir. Tudo bem que isso acaba dando um ponto mais “humano” para o 1º Doutor, que estava ferido e cercado, fraco e sem possibilidades de defesa, mas algo parecido poderia ter sido criado com outro vilão ou qualquer outro tipo de fato gerador para que ele pudesse pedir ajuda.

Todavia, mesmo que consideremos esse ponto negativo, Five Card Draw é uma história agradável de se ler e com uma reflexão bem interessante sobre o que as várias encarnações do Doutor pensam a respeito de um mesmo fato ou como agem quando é preciso salvar a eles mesmos.

Short Trips: Zodiac — Five Card Draw (Reino Unido, 2002)
Autor: Todd Green
23 páginas

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