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Crítica | Flashdance: Em Ritmo de Embalo

Canções excelentes com bons videoclipes.

por Ritter Fan
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Já abro logo a presente crítica com uma confissão: eu adoro os musicais – ou, para ser mais exato, filmes com preponderância de música pop – dos anos 80. Afinal, um de meus maiores guilty pleasures foi e continua sendo até hoje, na altura de meu meio século de vida, aquela pérola conhecida como Grease 2 (sim, a continuação do filme de 1978 com o John Travolta e Olivia Newton-John). Talvez a solitária exceção à regra seja Xanadu, mas eu acho que mesmo ele está aninhado em algum canto quentinho de minha memória afetiva. Seja como for, eu divago…

Voltando ao que interessa, esse preâmbulo confessional, portanto, serve como preparação ao leitor para o fato de eu gostar bastante de Flashdance (vou pular o subtítulo inútil nacional, ok?), o que não significa que eu realmente acho o segundo longa-metragem de Adrian Lyne um filme muito bom. Esse conto de fadas urbano lançado três anos depois de Gatinhas, mais do que promissora estreia do britânico na cadeira de diretor, foi um tremendo sucesso de bilheteria (fez mais de 200 milhões de dólares tendo custado a bagatela de sete) e pode ostentar a frase “ganhador do Oscar” em sua descrição, já que a obra levou a estatueta de Melhor Canção por Flashdance…What a Feeling, de Giorgio Moroder, Keith Forsey e Irene Cara, tendo concorrido a outras duas (fotografia e montagem), o que catapultou Lyne para as manchetes hollywoodianas.

O grande – gigantesco – problema de Flashdance, porém, não está em suas músicas, que são realmente ótimas, com Moroder inspiradíssimo novamente ou em sua fotografia e montagem, pois elas conseguem criar toda aquela atmosfera onírico-urbana que Lyne normalmente imprime em seus longas. A questão é que o roteiro de Thomas Hedley Jr. e Joe Eszterhas não tem uma história para contar, fiando-se na estrutura de videoclipe e na esperança de que a estreante Jennifer Beals funcione diante das câmeras. O que temos é a velha e batida história da menina bela e humilde que deseja mais do que tudo estudar dança em uma prestigiada escola e, para conseguir isso, trabalha de dia como soldadora e, de noite, como dançarina de cabaré, tendo sua vida mudada quando começa a namorar com o dono da fábrica onde trabalha. Premissa sonolenta, sem dúvida, especialmente quando todo o conflito que o roteiro consegue imprimir ao longo de seus 95 minutos é se a jovem aceita ou não a ajuda do namorado para conseguir o que quer.

Mas Lyne sabe construir um filme a partir de nada e o que ele faz é manter sua câmera mirada em Beals e sua Alex, de rostinho simpático que imediatamente enternece corações. Não é uma atuação que chega aos pés do trabalho incrível de Jodie Foster no filme anterior do diretor, mas ela dá conta do recado, especialmente porque o que Lyne exige dela são números musicais que estabelecem todo o conteúdo imagético que o filme precisa para funcionar. Em outras palavras, trata-se de um longa feito exclusivamente no estilo forma sobre substância e Lyne é um mestre na forma ao ponto de esquecermos do péssimo Michael Nouri como Nick Hurley, o tal namorado da protagonista, ou qualquer outro ator satélite do longa, com o foco todo permanecendo nos videoclipes de Maniac, He’s a Dream, Lady, Lady, Lady, Manhunt, a canção oscarizada e assim por diante.

Ou seja, Lyne faz do proverbial limão uma limonada, ainda que mais com a qualidade de Tang do que de algo feito na hora da fruta fresca e recém-colhida, usando a força do que sabe ser forte no longa, suas canções, e deixando todo o resto de lado, mas sem esquecer de costurar tudo com ótimos cenários – o apartamento de Alex em uma espécie de armazém convertido é um primor de design de produção – e com a construção cuidadosa de uma atmosfera sensual que nunca esquece do bom gosto e da naturalidade. Sem dúvida alguma, porém, o que fica na mente do espectador quando os créditos começam a subir são as inesquecíveis canções que pontilham o filme e a sucessão de videoclipes para elas que Lyne criou e estruturou na forma de longa-metragem. A obra marcou os anos 80, mas, na categoria de filmes desse tipo da década, ele inegavelmente fica na prateleira de baixo, mas acima de Xanadu, obviamente…

Flashdance: Em Ritmo de Embalo (Flashdance – EUA, 1983)
Direção: Adrian Lyne
Roteiro: Thomas Hedley Jr. (Tom Hedley), Joe Eszterhas (baseado em história de Thomas Hedley Jr.)
Elenco: Jennifer Beals, Michael Nouri, Lilia Skala, Sunny Johnson, Kyle T. Heffner, Lee Ving, Ron Karabatsos, Belinda Bauer, Malcolm Danare, Phil Bruns, Micole Mercurio, Lucy Lee Flippin
Duração: 95 min.

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