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Crítica | Floris – 1X01: O Castelo Roubado

O Robin Hood holandês de Paul Verhoeven.

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 01
Número de episódios: 12
Período de exibição: 15 de outubro a 21 de dezembro de 1969
Há continuação ou reboot?: Não. Mas diversos de seus roteiros não filmados foram adaptados na forma de audiodrama e livros, com dois remakes cinematográficos feitos até agora, o primeiro alemão, em 1975, com Rutger Hauer novamente em seu papel e o segundo holandês, em 2004.

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Paul Verhoeven formou-se em física e matemática, mas nunca exerceu profissões que correspondessem às suas escolhas iniciais. Investindo na carreira cinematográfica, ele dirigiu, entre 1960 e 1965, cinco curtas, o último deles, Het Korps Mariniers, documentário que fez quando estava alistado na marinha, levando um prêmio importante para produções militares. Depois do serviço militar, ele partiu para a televisão, com dois projetos quase simultâneos, um documentário longa-metragem sobre o fascista Anton Mussert e uma série ficcional que viria a ser Floris.

Gerard Soeteman, roteirista que viria a ser parceiro das produções de Verhoeven até hoje em dia, recebeu o encargo da produtora de escrever uma obra para navegar na fama de outras como a britânica Ivanhoé ou a francesa Thierry La Fronde, e o resultado foi uma ficção histórica protagonizada pelo personagem fictício Floris van Roozemond um nobre que, de maneira muito semelhante ao mito de Robin Hood, retorna ao seu país natal de uma viagem de volta ao mundo somente para encontrar tudo de cabeça para baixo, durante o início das chamadas Guerras da Guéldria. Ao seu lado, Floris conta com o fiel indiano Sindala, que conhecera em suas viagens, tornando-se seu amigo e que funciona como o “cérebro” da dupla em contraste aos músculos e charme do personagem-título.

Verhoeven era um marinheiro de quase primeira viagem nessa época e sua falta de maturidade fílmica levou-o a estourar o orçamento absurdamente, o que fez com que a produção fosse paralisada por um tempo, só retornando depois de alguns ajustes, inclusive o uso de material já filmado para produzir um episódio extra. No elenco, os completamente inexperientes Rutger Hauer e Jos Bergman foram escalados para viver Floris e Sindala, respectivamente. O curioso é que, apesar de ser caracterizado como indiano, a equipe de maquiagem não faz o menor esforço para “transformar” o holandês Bergman em alguém que ao menos de longe possa passar como um, ainda que os roteiros façam esforço para mostrar o uso da ciência oriental como característica principal do personagem.

O primeiro episódio, claro, é o que oferece a premissa da curta série de 12 episódios. Nela, vemos Floris retornando à Holanda ao lado de Sindala, somente para descobrir que o castelo de sua família foi usurpado pelo vilanesco Maarten van Rossem (Hans Culeman, vivendo a versão ficcional do personagem histórico), que logo encarcera os dois, roubando as riquezas do nobre e seu título sobre a propriedade. O que segue, daí, é o usual em séries como essas, com os heróis fugindo do encarceramento e, com a ajuda de um nobre local e seu espião/mágico/mestre dos disfarces, retornam para recuperar o dinheiro e a documentação. Essa, aliás, é a temática de toda a série, já que Floris não toma seu castelo de volta nesse início, claro.

A pegada do piloto é leve, com diálogos e situações tendentes ao humor mais infantil, ainda que a série tenha sido um grande sucesso para todo tipo de público na Holanda, o que ajudou Verhoeven, Soeteman e Hauer a deslancharem suas carreiras. No entanto, Floris, por ser uma produção para a TV voltada ao público mais jovem, não lembra em absolutamente nada o que viria ser feito por essa trinca não muito tempo depois em filmes como Louca Paixão e Soldado de Laranja, sendo por vezes até difícil ver algo característico de Verhoeven nos 30 minutos dessa aventura light. Interessantemente, alguns conceitos e materiais descartados da série seriam usados posteriormente pelo diretor e roteirista no violentíssimo Conquista Sangrenta, filme também estrelado por Hauer que marcou a entrada de Verhoeven em Hollywood, pelo que se pode dizer que Floris gerou enormes dividendos para todos os envolvidos na conturbada produção.

Floris, portanto, foi o começo profissional de três grandes carreiras no cinema que trafegaram por caminhos bem diferentes desse material simples, leve e completamente descompromissado. O Robin Hood holandês que, porém, não rouba dos ricos para dar aos pobres, serviu como a verdadeira ponta de lança de Verhoeven em sua mais do que frutífera carreira de diretor.

Floris – 1X01: O Castelo Roubado (Floris – Holanda, 15 de outubro de 1969)
Criação e desenvolvimento:
Gerard Soeteman, Paul Verhoeven
Direção: Paul Verhoeven
Roteiro: Gerard Soeteman
Elenco: Rutger Hauer, Jos Bergman, Ton Vos, Jacco van Renesse, Hans Culeman, Tim Beekman, Pollo Hamburger, Henk Admiraal
Duração: 30 min.

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