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Crítica | For All Mankind – 2X03: Rules of Engagement

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Andrew Stanton, mais conhecido como diretor de clássicos da Pixar como Procurando Nemo e WALL-E e que, depois de fracassar em sua tentativa de seguir pelo live-action com John Carter, enveredou pelo caminho da TV, dirige Rules of Engagement e traz ao episódio o tipo de abordagem profundamente sentimental que ele certamente aprendeu na produtora de célebre produtora de Emeryville, uma escolha certamente acertada considerando o teor do roteiro de Stephanie Shannon. E é particularmente interessante notar como For All Mankind continua investindo pesado no desenvolvimento de personagens, com o episódio trabalhando, fundamentalmente, a relação entre a velha e a nova geração.

Em termos metafóricos, a única linha narrativa completamente integrada à história macro também é uma questão de conflito entre o velho e o novo. Com a mina de lítio americana na Lua tomada sem cerimônia pelos soviéticos, o presidente Ronald Reagan emite uma ordem para que o território seja retomado, algo que, em reunião na NASA, Ed conclui que isso só é realmente possível se houver uma escalada bélica, com armas usadas no espaço. O caminho é certamente sem volta, mas esse conceito fica somente na seara do conceito mesmo, sem ganhar qualquer desenvolvimento maior aqui, mas abrindo caminho para que o lado psicológico de Ed seja profundamente abalado com a descoberta de que o astronauta russo que ele aprisionara em sua permanência em Jamestown, havia plantado uma escuta que há nove anos vinha permitindo enorme vantagem aos inimigos.

A culpa que Ed pela espionagem serve como o verdadeiro catalisador para o fortíssimo momento – devidamente preparado pelas sequências anteriores entre mãe e filha – em que Kelly, com apoio da mãe, conta ao pai que pretende estudar na Academia Naval de Annapolis como ele. A reação quase que descontrolada de Ed é assustadora e muito bem conduzida pela direção de Stanton, que sabe extrair o melhor Joel Kinnaman. Os eventos em Jamestown do passado despertados horas antes com a descoberta da escuta são acumulados com a lembrança não só de que ele perdera Shane, mas, também, pela culpa que ele sente de não ter podido estar na Terra na época, mesmo que sua presença simplesmente não pudesse ter o condão de alterar nada sobre o destino do filho. Tudo isso desagua no absoluto desespero que ele sente pela mera possibilidade de sua filha arriscar a vida, algo palpável e assustador, com o personagem transformando-se instantânea e sensacionalmente e levando a uma magnífica sequência catártica sobre evento da 1ª temporada que foi tão pouco explorado, dando um fim digno a ele.

O conflito familiar de Ed é, sem dúvida alguma, o ponto alto do episódio, mas não é o único evento de monta. Margo, depois de receber as mensagens sobre Aleida, tenta aproximar-se da jovem em uma cena que tem como função primordial reapresentar a personagem mexicana, agora vivida por Coral Peña. Na temporada anterior, houve uma cadência na forma como Aleida aparecia, prometendo seu retorno de alguma forma, já mais velha, com o pai deportado e é isso que acontece aqui. No entanto, o salto temporal entre temporadas criou um abismo que a oferta de emprego que Margo faz à jovem começa a preencher, mesmo que deixe ainda muita coisa apenas nas entrelinhas. O que exatamente aconteceu nesse intervalo, desconfio que aprenderemos ao longo da temporada e, mesmo assim, provavelmente de maneira indireta, mas será interessante ver como a personagem será aproveitada.

O terceiro vértice do episódio continua abordando o casamento fracassado de Gordo e Tracy, com ela tendo um acidente e pedindo ajuda do ex-marido em uma clara demonstração de que seu mais recente casamento e todo o luxo que a cerca não a deixa feliz. Mas o que realmente é interessante notar é a maneira como o roteiro e a direção invertem os valores, colocando Tracy como a imatura e Gordo como alguém surpreendentemente centrado quando colocado contra a parede. Não sei se haverá sustentação para que essa forma de encarar os personagens continue por muito tempo, mas é fascinante ver como Ronald D. Moore não tem o menor pudor em colocar todo o lado sci-fi de sua série em segundo ou terceiro plano, preferindo focar em aspectos tão triviais como o relacionamento de um casal divorciado em plena Corrida Espacial continuada.

Mantendo a escalada da situação na Lua apenas como pano de fundo, Rules of Engagement se interessa mesmo pelas relações profundamente humanas de seus personagens, notadamente nas diferenças às vezes inconciliáveis de gerações. A sensibilidade como a dor profunda da perda é abordada parece indicar que o foco da temporada permanecerá em seus personagens, realmente deixando todo o aspecto de História Alternativa ser realmente o cenário macro da série, quase que como uma curiosidade, mas não exatamente o foco. Sem dúvida uma escolha arriscada, mas muito bem-vinda.

For All Mankind – 2X03: Rules of Engagement (EUA, 05 de março de 2021)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Stephanie Shannon
Elenco: Joel Kinnaman, Michael Dorman, Wrenn Schmidt, Sarah Jones, Shantel VanSanten, Jodi Balfour, Krys Marshall, Sonya Walger, Nate Corddry, Dan Donohue, Noah Harpster, Michael Benz, Leonora Pitts, Teya Patt, Coral Peña
Duração: 60 min.

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