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Crítica | For All Mankind – 2X10: The Grey

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Há muito tempo que eu não via uma narrativa de conflito durante a Guerra Fria tão bem construída e tão tensa quanto a que a 2ª temporada de For All Mankind fez, desaguando no primoroso The Grey, episódio de encerramento que nos leva a mais um salto temporal de algo como 10 anos, com a chegada do homem em Marte, o que mergulha a série mais ainda no campo sci-fi puro. Acho que a última vez que me senti segurando nos braços do sofá em uma história desse tipo cujo final geral é conhecido de antemão, pois os showrunners não começariam uma guerra de verdade entre os EUA e a União Soviética, foi em Deutschland 83

O episódio concentrou seus holofotes no conflito espacial entre os países em três frentes: a invasão de Jamestown pelos soviéticos para eles recuperarem o astronauta que havia pedido asilo, a missão Pathfinder comandada por Ed Baldwin para proteger o foguete não-tripulado Sea Dragon de possível ataque por parte da Buran, primeiro ônibus espacial da URSS e, finalmente, a missão em tese de paz Apollo-Soyuz. E, mesmo com muita coisa acontecendo fora da Terra, o roteiro de Matt Wolpert e Ben Nedivi ainda tem tempo para lidar com a revelação por Kelly a Karen sobre sua busca por seus pais biológicos e encerrar essa subtrama a contento, além de acenar para diversos pequenos desenvolvimentos envolvendo Margo, Aleida e Ellen.

É fascinante notar o cuidado de Ronald D. Moore e equipe em replicar incidentes reais que nos levaram muito próximo à Terceira Guerra Mundial no espaço, mantendo a verossimilhança a todo o momento e continuando a nos dar um gostinho do que poderia ser o início de conflitos espaciais que tanto lemos e vemos nas mais variadas obras, mas que muito raramente são abordados nessa minúcia. Claro que toda a ação, para manter-se realista, precisa ser rápida e consideravelmente simples, mas é mantendo-se com os pés firmes no chão que a produção realmente consegue criar uma fascinante atmosfera para a série, conseguindo ao mesmo tempo criar uma “batalha de naves espaciais” e uma “retomada de forte” que poderiam muito bem, sozinhos, serem longas-metragens cinematográficos.

O combate em Jamestown foi, para mim, o grande destaque, não só pela forma como a efetiva ação dentro da base foi conduzida – Tracy vendo o soviético chegando com a arma e sem poder avisar seu colega foi angustiante – como também pelos papeis dados ao casal Tracy e Gordo Stevens no desenrolar da pancadaria, tendo que andar pela superfície lunar sem oxigênio e sem traje espacial, apenas envoltos em duct tape (que, claro, serve para absolutamente tudo) e com uma máscara simples. Ver a condução dessa sequência assustadora e tensíssima em superfície lunar ao mesmo tempo em que testemunhamos a acoplagem da Apollo e da Soyuz graças à desobediência de Danielle e o conflito dentro da Pathfinder, com Ed tentando fazer o certo em uma situação impossível, resultou em uma das melhores sequências de ação de toda a série, com a direção de Sergio Mimica-Gezzan destacando-se pela decupagem perfeita que tornou possível esse entrelaçamento complexo das tramas, com direito até mesmo à já mencionada conversa de Kelly com a mãe no porão do restaurante.

E foi muita coragem do episódio nos dar esperança de que Tracy e Gordo sobreviveriam, somente para vermos os dois mortos “romanticamente” juntos depois de serem bem-sucedidos na missão suicida. Com uma penada, o roteiro eliminou dois personagens importantes e, para todos os efeitos, toda uma família da série, ainda que eu desconfie que Danny, assim como Kelly, serão importantes na vindoura 3ª temporada. Seja como for, apesar de ser doloroso perder dois personagens que conseguiram se tornar muito interessantes na medida em que o segundo ano progredia, era a escolha correta, assim como foi correta a decisão de Ed de explodir a Sea Dragon como única alternativa não letal de evitar a guerra.

No centro de comando, as mulheres dominaram, com Aleida sendo tutelada por Bill e ganhando seu momento para brilhar ao dar seguimento à missão Apollo-Soyuz e Ellen justamente decidindo, apesar da ordem presidencial, em deixar Dani tentar o cumprimento espacial, o que, mesmo com a sequência agridoce em que televisões são mostradas com as imagens históricas, mas sem ninguém assistindo em razão do DEFCON 2, acaba sendo o catalisador para o arrefecimento das tensões entre os países. Tudo parece indicar uma crescente importância para as duas personagens e, claro, para Margo que os soviéticos parecem achar que estão manipulando, mas que eu duvido que ela seja tão inocente assim para cair na armadilha. Será particularmente interessante ver como isso será manejado agora, considerando o salto temporal.

Com The Grey, For All Mankind encerra magistralmente mais uma temporada, temporada essa que conseguiu ser ainda melhor que a primeira. Mal posso esperar para ver como a elipse de tempo será preenchida e como os eventos de nossa História serão abordados na cada vez mais fascinante História Alternativa de Moore.

For All Mankind – 2X10: The Grey (EUA, 23 de abril de 2021)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Sergio Mimica-Gezzan
Roteiro: Matt Wolpert, Ben Nedivi
Elenco: Joel Kinnaman, Michael Dorman, Wrenn Schmidt, Sarah Jones, Shantel VanSanten, Jodi Balfour, Krys Marshall, Sonya Walger, Nate Corddry, Dan Donohue, Noah Harpster, Michael Benz, Leonora Pitts, Teya Patt, Coral Peña, John Marshall Jones, Nikola Djuricko, Jeff Hephner
Duração: 78 min.

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