Home TVEpisódio Crítica | For All Mankind – 3X01: Polaris

Crítica | For All Mankind – 3X01: Polaris

O futuro do passado.

por Ritter Fan
1,5K views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Para comemorar o retorno de For All Mankind para sua terceira temporada, decidi começar a crítica de Polaris com dois rápidos preâmbulos que, claro, vocês podem pular se não tiverem interesse:

Preâmbulo 1: Adoro o subgênero História Alternativa e considero For All Mankind um dos melhores exemplares audiovisuais dele, com chance de acabar sendo o melhor. As extrapolações feitas por Ronald D. Moore, Matt Wolpert e Ben Nedivi a partir de uma “pequena” modificação dos fatos históricos que conhecemos são fascinantes, concordando ou não com eles, pois eles funcionam como o famoso Efeito Borboleta que vai cada vez mais ganhando impulso e se distanciando de nossa realidade. Impecável esse trabalho.

Preâmbulo 2: Como corolário de meu comentário acima, considero imperdíveis os minidocumentários em forma de telejornal que a produção nos oferece para fazer a ponte entre temporadas. Eles podem não ser exatamente essenciais para a compreensão do que ocorreu nos anos da elipse, mas eles oferecem uma visão muito interessante sobre o processo criativo da série que leva a decisões dos caminhos que essa História Alternativa trafega. São nove vídeos de dois a três minutos cada que apresentam as mudanças de maneira orgânica ano a ano entre 1984 e 1992, e, ao final, fazem a comparação com o que realmente aconteceu, revelando, por exemplo, como os EUA passaram a ser menos intervencionistas e como a União Soviética passou a praticar economia de mercado em um sistema híbrido à la China atualmente.

Crítica

Não tem jeito: quase todo primeiro episódio de temporada sofre, de uma maneira ou de outra, pelo simples fato de ser o que ele sempre precisa ser, ou seja, uma reapresentação das diversas situações como elas foram deixadas no ano anterior, servindo tanto de lembrete do que ocorreu quanto de começo de uma nova história. Se há salto temporal entre temporadas então, ele se torna ainda mais importante e ainda mais complicado por normalmente precisa lidar com diversos núcleos ao mesmo tempo. E, com isso, o que no final das contas vai realmente importar é o quanto o proverbial “primeiro episódio de temporada” conseguirá cumprir sua missão sem ficar pesado ou cansativo.

Polaris é, felizmente, um belo exemplo de como lidar com esse dilema usando um artifício maroto, mas muito eficiente: a divisão “artificial” do elenco em dois núcleos apenas por meio da criação de uma situação específica que permite que metade do grupo organicamente reúna-se em determinado lugar. Depois das contextualizações temporais de praxe que marcam o que aconteceu no intervalo de 10 anos desde a excelente segunda temporada, o roteiro faz com que todo o elenco astronauta, por assim dizer, junte-se para comemorar o casamento de Danny Stevens (Casey W. Johnson), filho dos heróis falecidos Gordo (Michael Dorman) e Tracy (Sarah Jones), no hotel orbital que dá nome ao episódio e que é fruto da colaboração de Karen (Shantel VanSanten) com seu atual marido, o magnata “elonmuskiano” Sam Cleveland (Jeff Hephner).

Esse ambiente facilita que saibamos tudo que precisamos saber sobre os presentes, inclusive alguns detalhes do que aconteceu com cada um deles durante o lapso temporal, sem muito texto expositivo e sem deixar o drama de cada um passar batido em razão da elipse. Por exemplo, com o antipático e pesado discurso de Jimmy (David Chandler), aprendemos que Danny passou por um período em que se entregou à bebida, muito provavelmente em razão da morte de seus pais e do fim de seu breve relacionamento com Karen, por quem ainda é apaixonado, algo que fica evidente pela música que ele usa para dançar com sua esposa e com a expressão de Karen no momento. De maneira semelhante, em uma breve conversa de elevador, descobrimos que Edward Baldwin (Joel Kinnaman) compete com Danielle Poole (Krys Marshall) pelo comando da primeira missão à Marte, marcada para quatro anos no futuro, com o desenrolar do episódio também deixando claro que Dani agora está casada com um homem que já tinha um filho e que Ed tem um relacionamento complicado com uma mulher.

O restante do elenco ou aparece na forma de um rápido vídeo de parabéns, como é o caso de Kelly Baldwin (Cynthy Wu), que trabalha na base de McMurdo, na Antártida, ou gira ao redor do outro núcleo principal capitaneado por Margo Madison (Wrenn Schmidt) que continua workaholic na NASA, literalmente morando onde trabalha e, ao que tudo indica, há 10 anos “trocando informações” com sua contrapartida russa que, por sua vez, a manipula. É nesse lado da história que, para minha felicidade, pois eu adoro a atriz, aprendemos que, apesar de agora cega, Molly Cobb (Sonya Walger) não só continua trabalhando como chefe do programa de astronautas, como não perdeu nada de sua sensacional personalidade azeda. Há até tempo de sobra para Aleida Rosales (Coral Peña) ser sedimentada como engenheira de foguetes e protegida de Margo, como também já ser casada e com filho, morando com os pais e tendo jantares simpáticos partilhados também com sua mentora que a convoca para ir até a Lua para acelerar a construção do motor que levará os EUA à Marte. Até mesmo Ellen Wilson (Jodi Balfour), ainda que indiretamente via telejornais, ganha destaque como candidata republicana à presidência dos EUA, concorrendo contra Bill Clinton.

Mas o melhor de tudo é que Polaris não esquece da ação e coloca o hotel orbital de Karen e Sam como a estrela de uma quase tragédia, em que destroços de um foguete da Coréia de Norte que explodiu em órbita atingem um motor da base, acionando-o e aumentando a gravidade vagarosamente. Os eventos que seguem mudam o status quo apresentado ao matar Sam, o que deve colocar Karen em posição de mais destaque ainda à frente dos empreendimentos do marido e ao fazer de Danny um herói capaz de rivalizar tanto Dani quanto Ed na disputa pelo comanda da missão à Marte. Será inegavelmente interessante ver como os três ou quatro anos que separam esse início de temporada do ponto que vimos bem ao finalzinho de The Grey transcorrerão.

For All Mankind – 3X01: Polaris (EUA, 10 de junho de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Sarah Boyd
Roteiro: Matt Wolpert, Ben Nedivi
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Shantel VanSanten, Sonya Walger, Casey W. Johnson, Jodi Balfour, Coral Peña, Cynthy Wu, David Chandler, Jeff Hephner
Duração: 57 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais