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Crítica | For All Mankind – 3X02: Game Changer

Um novo competidor na Corrida Espacial.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Polaris equilibrou muito bem ação com um episódio que precisava abordar múltiplas narrativas para inaugurar a terceira temporada e, agora, Game Changer coloca o jogo político no centro das atenções, sem precisar preocupar-se com o desenvolvimento de cada uma das histórias, mesmo que, no final das contas, o roteiro da dupla formada por David Weddle e Bradley Thompson faça justamente isso. Em outras palavras, mesmo sem ação no sentido mais tradicional da palavra, o segundo capítulo do terceiro ano da série consegue talvez ainda mais organicamente fazer a narrativa caminhar para frente escolhendo um tópico e usando-o para irrigar cada núcleo de personagens em uma abordagem cada vez mais convergente.

Mas deixe-me começar pelo famoso elefante na sala que já havia dado as caras – ainda que discretamente – no primeiro episódio: o romance entre Karen e Danny. Quando ele ameaçou de acontecer na temporada passada, esperei que não acontecesse. Quando aconteceu, confesso que não gostei, mas, por outro lado, notei o cuidado da produção em lidar com o assunto de maneira elegante. Achei que eram águas passadas, mas a música deles tocando no casamento de Danny deixou evidente que não e, temos que convir, seria um erro narrativo se fosse. Já que o caso aconteceu, funcionando com a gota d’água para a separação de Karen e Ed, então ele precisa ser abordado novamente, mesmo considerando o lapso temporal. Portanto, o retorno explícito do assunto, em Game Changer, não só faz sentido como é necessário e cumpre a função dupla de desenvolver os personagens – duas almas solitárias que há muito não veem felicidade de verdade – e de criar uma certa concorrência entre Danny e Ed, especialmente considerando o final do episódio.

E essa característica da série, ou seja, não abandonar suas linhas narrativas custe o que custar é algo muito interessante e desafiador diante dos pulos de tempo e eu gostei que o caso não foi esquecido. Não sei se gostarei se ele for reacendido completamente, devo dizer, mas só me resta esperar e ver como a coisa toda andará, ainda que eu desconfie que não haverá uma reprise. Seja como for, a personagem de Shantel VanSanten é inegavelmente muito interessante e seu destaque aqui, primeiro derrotada depois da tragédia em seu hotel orbital, depois saindo por cima com a venda de sua empresa ao excêntrico magnata “paz e amor” Dev Ayesa (Edi Gathegi) e, mais a frente, fazendo parceria com ele e, de quebra, colocando Ed novamente na corrida por Marte com o anúncio da empreitada particular da Helios Aerospace que, claro, acelerará os planos dos governos americano e soviético, faz dela uma das peças-chave da série toda como, aliás, deveria ser mesmo.

A política interna na NASA, apesar de razoavelmente clichê, foi muito bem conduzida pela direção de Sarah Boyd que mantém seu foco em Molly e sua decisão de privilegiar Ed em detrimento de Dani ao ponto de nos fazer esquecer da ausência fria e autoritária de Margo. Quando, então, a chefe retorna e desfaz tudo o que foi feito, demitindo Molly no processo, é como um “serviço de despertador” que parece criar uma vilã em um estalar de dedo. Meu único problema com esse núcleo foi que só soubemos da mão de ferro de Margo porque Molly nos fala dela, deixando bem evidente que ela desgosta de qualquer um que a desafie e que, ao longo de 10 anos, vem amealhando mais e mais poder ali dentro. E não é nem que isso não seja algo que decorra da personalidade de Margo conforme a acompanhamos ao longo das temporadas anteriores, mas tenho para mim que faltou vermos isso em Polaris. O comentário de Molly me pareceu uma maneira simplista e até preguiçosa demais de se estabelecer uma postura que pode ter consequências graves considerando o quanto Margo está envolvida com os soviéticos.

No lado da política clássica, finalmente vemos mais da vida da senadora Ellen Wilson, candidata republicana à presidência americana. Para chegar onde chegou, o que fica evidente é que ela apagou todos os traços externos de sua verdadeira orientação sexual, com sua vida de casada com Larry sendo a regra, o que inclui um filho pequeno. É muito interessante ver que parte de seu marido a sugestão de ela colocar em sua chapa o governador Jim Bragg (Randy Oglesby), um evangélico anti-ciência de direita com o objetivo de conseguir os votos de um número significativo de americanos que se conecta com esses preceitos e que, claro, brigam com a própria essência de Ellen. Confesso que, por mais interessante que a renovada corrida espacial seja – com duas potências agora tendo que correr atrás da iniciativa privada -, estou mais curioso para saber como é que a corrida presidencial será trabalhada, especialmente considerando a homossexualidade de Ellen. Elucubrando, diria que esse “escândalo” só virá à tona quando ela já for presidente, de certa forma colocando esse assunto no lugar do escândalo da vida real envolvendo Bill Clinton e Monica Lewinski.

Game Changer realmente muda o jogo com a introdução efetiva de Dev e da Helios e de seu plano ambicioso de chegar à Marte antes mesmo das superpotências e ao trabalhar bem as manobras internas da NASA e os sacrifícios que Ellen precisa fazer para conseguir o que quer. Não é, talvez, um episódio com a mesma potência do primeiro da temporada, mas ele consegue fluidamente lidar com todos os núcleos da série e começar de verdade o novo “jogo” que deverá marcar o terceiro ano desta instigante história alternativa.

For All Mankind – 3X02: Game Changer (EUA, 17 de junho de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Sarah Boyd
Roteiro: David Weddle, Bradley Thompson
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Shantel VanSanten, Sonya Walger, Casey W. Johnson, Jodi Balfour, Coral Peña, Cynthy Wu, David Chandler, Edi Gathegi
Duração: 61 min.

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