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Crítica | For All Mankind – 3X04: Happy Valley

Felicidade que dura pouco.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Alguns dirão, em tom negativo, que Happy Valley é um episódio previsível. Outros, como eu, dirão exatamente a mesma coisa, só que com um enorme sorriso de satisfação no rosto, pois o quarto capítulo da terceira temporada de For All Mankind é uma sensacional prova do quanto previsibilidade devida e logicamente preparada por tudo o que veio antes em um filme ou uma série é algo para ser elogiado e não encarado com desdém, como se fosse um defeito, pois ela absolutamente não é. Ao contrário, quando alguma situação completamente retirada da cartola do roteirista acontece em alguma obra audiovisual, o efeito de curto prazo é, claro, a surpresa do espectador, mas, a médio ou longo prazo, é a receita para o fracasso.

Colocada uma pá de cal nesse ponto, Happy Valley começa em plena corrida tripartite para ver quem chegará primeiro em Marte, com a Phoenix, da iniciativa privada, liderando com folga o suficiente para já cantar vitória antes do tempo, o que, claro, abre o espaço necessário para que a Sojourner, da NASA, abra suas velas solares e dispare na frente, com projeção para chegar ao Planeta Vermelho nada menos do que oito dias antes do que o hotel voador da Helios Aerospace. Toda essa construção é feita de maneira muito divertida, com linguajar e música de piratas com Dani zombando de Ed e Kelly transformando-se na DJ do espaço profundo.

Mas eis que os soviéticos entram na brincadeira para estragá-la completamente ao decidirem usar anabolizantes irresponsavelmente para passar à frente e, no processo, colocando a vida de seus cosmonautas da Mars-94 em perigo. Até logo antes daquela comunicação semi-cifrada que Kelly recebeu de um cosmonauta preocupado, cheguei a imaginar que o episódio percorreria com mais ênfase o lado puramente político da narrativa, com a Presidente Ellen, que aparentemente tem um grampo na Oval Office, revelando seu bem guardado segredo, mas não. Tudo o que vemos é sua estratégia de marketing depois de receber um não dos Democratas sobre sua proposta de lei para criar empregos para aqueles que ficarão sem em razão do Helium-3 e os protestos do lado de fora do QG da NASA. Certamente isso ganhará desenvolvimento depois, mas, para fins de Happy Valley, o que importa é a tragédia anunciada do resgate dos soviéticos.

E, antes que alguém levante a bandeira de que a série está colocando os soviéticos como vilões, só tenho a dizer “fala sério…”. Qual é a graça de se ter uma série americana sobre a Corrida Espacial sem fim em um universo alternativo em que os soviéticos chegaram primeiro à Lua se eles não forem os vilões ou, pelo menos, os irresponsáveis que estragam tudo para todo mundo e que sequer são capazes de fazer um motor nuclear decente mesmo com Margo tendo entregue os planos da NASA para eles? Se alguém quiser uma série dessas sob o ponto de vista soviético, batam lá na porta do Putin, peçam para ele parar de arrumar desculpa para destruir a Ucrânia e digam para ele que For All Mankind está “mangando” do grande poderio de seu país. Tenho certeza de que ele ouvirá tudo com atenção!

Até porque, vamos combinar que o grande vilão do episódio é Dev Ayesa e sua “democracia para inglês ver” que só existe para corroborar o que ele acha. Afinal, é ele que impede que Ed vá ao resgate dos soviéticos, pois usar a Phoenix para isso, sacrificando o voo até Marte, era a resposta mais óbvia para o problema posto. E o melhor é a forma como ele faz isso, forma essa – sim! – telegrafada lá atrás quando Ed confronta-o sobre poder ser o efetivo comandante do voo e não um mero sujeito que fica sentado na cadeira principal sem fazer nada a não ser olhar para luzes piscantes no painel e para as estrelas pelas escotilhas. Enviar um upgrade de software via comunicação em vídeo para bloquear os comandos da nave foi uma jogada de mestre, com ecos na modernidade que nós vivemos em que empresas parecidas podem basicamente fazer o mesmo com todos os aparelhos conectados que usamos diariamente.

Fazer Dani retornar para então assumir o resgate era o prenúncio da tragédia e o desenrolar dos momentos de ação, apesar de espremidos no finalzinho do episódio, foi muito bem coreografado e dirigido por Wendey Stanzler, que consegue criar tensão absoluta em questão de alguns segundos ao usar as transmissões atrasadas entre Sojourner e NASA para nos deixar pendurados de boca aberta na ponta do sofá quando tudo dá muito errado. Mesmo com a desgraça matando aparentemente três astronautas (ou um cosmonauta e dois astronautas) e a tensão potencial da presença dos soviéticos na Sojourner com o “traidor” lá dentro, tenho para mim que não haverá mais série se a missão americana (ou, tecnicamente, agora conjunta) de alguma forma não continuar, provavelmente com a extração do combustível da Mars-94 como Dani chega a mencionar.

Happy Valley não tem nada de feliz para os astronautas das três missões espaciais, mas, ao revés, é muito feliz ao lidar com os desdobramentos lógicos de tudo o que foi estabelecido antes com um roteiro enxuto de Joe Menosky sendo capitaneado com vigor por Stanzler. Será que o episódio que marcará a metade da temporada reunirá os três concorrentes a colocar a primeira pegada no solo de Marte, talvez com Ed furioso com seu chefe e Karen na Terra sabotando os esforços do magnata? Seria muito interessante se houvesse essa harmonia startrekiana entre as nações, não é mesmo? Mesmo que isso aconteça ao custo de mandos e desmandos resultantes das burocracias estatais e da ambição privada.

For All Mankind – 3X04: Happy Valley (EUA, 1º de julho de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Wendey Stanzler
Roteiro: Joe Menosky
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Shantel VanSanten, Sonya Walger, Casey W. Johnson, Jodi Balfour, Coral Peña, Cynthy Wu, David Chandler, Edi Gathegi, Piotr Adamczyk, Tony Curran, Robert Bailey Jr., Heidi Sulzman, Taylor Dearden
Duração: 57 min.

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