Home FilmesCríticas Crítica | A Força da Natureza (2020)

Crítica | A Força da Natureza (2020)

por Ritter Fan
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Baixo orçamento, espaço confinado, poucos atores, muita pancadaria e tiroteio. Essas premissas em boas mãos podem resultar em excelentes obras como Dredd e Operação Invasão, assim como podem levar a porcarias como A Força da Natureza. E nem adianta ter um ator-chamariz no elenco – no caso, Mel Gibson – se a história não ajuda e se o filme só tem a oferecer um emaranhado ilógico de bizarrices imaginadas por um roteirista com mente fértil, mas que não sabe concatená-las por mais de cinco minutos seguidos.

A história macro, em si, é rasteira de tão simples: durante a passagem de um furacão em Porto Rico, um ladrão de arte, depois de um roubo que deu errado, decide ir atrás de um tesouro artístico que estaria em um prédio na cidade. Não tentem entender os detalhes, porque eles inexistem. Cory M. Miller não tem nenhuma intenção em dignar-se a escrever algo que pareça minimamente coordenado ou que leve os personagens de A a B sem que o espectador fique coçando a cabeça. Tudo é uma desculpa barata para colocar o tal ladrão e sua gangue em enfrentamento direto a uma dupla de policiais que por acaso está no mesmo prédio tentando evacuá-lo.

Na verdade, a impressão que passa é que o roteirista achava que estava escrevendo algo inteligente, com camadas e crítica social, enquanto que, na verdade, seu trabalho é porco justamente por passar uma pretensão artificial que, como a cereja no bolo, não consegue ganhar uma transposição competente para o audiovisual graças à direção completamente sem graça de Michael Polish. Até mesmo a escalação do elenco é bastante insensível, pois coloca brancos americanos bonzinhos lutando contra porto-riquenhos malvados em Porto Rico durante um furacão fictício que obviamente faz referência ao recente furacão Maria que passou por lá destruindo tudo em 2017.

O que sobra é ver Mel Gibson como Ryan, um policial aposentado e moribundo que se recusa a sair do prédio, Kate Bosworth como Troy, filha de Ryan e também enfermeira que quer tirar o pai de lá, Emile Hirsch como o policial Cardillo que carrega um trauma do passado (esse é um dos elementos que cria aquela pretensão do roteiro que mencionei acima) e Stephanie Cayo como sua parceira Jess, que deseja provar-se a qualquer custo. Do lado de lá, temos David Zayas como o vilanesco John the Baptist e diversos figurantes segurando armas e fazendo cara de mau ao lado dele. O problema é que ninguém parece levar a sério seus papeis, o que resulta em um dramalhão bobo com zero de tensão e um vilão que parece tão ameaçador quanto Derek Zoolander, uma conexão que faz tanto sentido quanto o roteiro do filme.

E olha que eu sequer cheguei nas bizarrices que mencionei existirem. E a razão é muito simples: quero evitar spoilers. Afinal de contas, os únicos artifícios minimamente interessantes no filme são justamente essas coisas loucas que o roteirista inseriu em seu texto e que, se eu contar aqui, estragarei o mínimo de prazer que o filme traz. Mas, por favor, interpretem o uso de “prazer” da maneira mais ampla possível, incluindo a vertente sadomasoquista da coisa toda, pois é muito mais uma vontade estranha de ver o que mais vai sair dessa cartola do que qualquer outra coisa, diante da aleatoriedade do que Miller e Polish fazem aqui.

Essa bizarrices e a presença de Mel Gibson tornam o filme suportável, diria, mas bem daquele jeito “eu consigo aguentar só 91 minutos disso” de ser. Mas a grande verdade é que A Força da Natureza é desconexo, vazio e mal escrito, sem nenhum valor artístico maior do que um divertimento raso de rolar os olhos que o espectador esquece no exato minuto em que os créditos começam a rolar.

A Força da Natureza (Force of Nature – EUA, 30 de junho de 2020)
Direção: Michael Polish
Roteiro: Cory M. Miller (como Cory Miller)
Elenco: Emile Hirsch, Mel Gibson, David Zayas, Kate Bosworth, Stephanie Cayo, William Catlett, Jorge Luis Ramos, Joksan Ramos, Blas Sien Diaz, Tyler Jon Olson, Julio Ramos Velez, Sebastian Vázquez
Duração: 91 min.

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