Existem filmes ruins e existe Fração de Segundos (2019), uma experiência tão desastrosa que consegue ser pior que a soma de suas partes já terríveis. Dirigido por Brian A. Miller, o filme conta a história de Frank Sullivan (Michael Chiklis), um assaltante que perde dez minutos de memória após um roubo fracassado e precisa descobrir quem o traiu. Se isso parece roteiro rejeitado de série policial dos anos 90, é porque provavelmente foi — mas alguém achou que valia transformar em longa-metragem com Bruce Willis cobrando um milhão de dólares por dia.
Willis interpreta Rex, o chefão do crime, com o entusiasmo de quem está lendo bula de remédio. Suas cenas, filmadas inteiramente no hotel onde estava hospedado numa única tarde, mostram um ator em modo automático (para ser bonzinho). O veterano mantém um sorriso irônico constante que praticamente grita aos quatro ventos sua falta de comprometimento com o projeto. Enquanto isso, Chiklis tenta heroicamente salvar o filme, alternando entre momentos de esforço genuíno e outros em que claramente questiona o que está fazendo ali.
O show de horrores fica completo com Meadow Williams no papel de Claire. A atriz-investidora (sim, ela comprou sua participação!) entrega uma performance tão vazia que faria um manequim parecer expressivo. Seu rosto imobilizado pelo botox, combinado com sua total falta de talento, cria um fenômeno curioso: alguém fisicamente presente, mas dramaticamente ausente. Michael Chiklis supostamente passou horas tentando ensinar-lhe noções básicas de atuação, num esforço tão inútil quanto ensinar física quântica a uma pedra.
Os 12 dias de filmagem e o orçamento apertado, depois que os produtores embolsaram salários milionários, resultaram em momentos antológicos. O sistema de segurança de um banco inteiro controlado por um computador velho numa prateleira? Sim! Bandidos com metralhadoras incapazes de acertar alvos parados? Claro! Uma caixinha de metal vagabunda como objeto crucial da trama? Óbvio! É como se a produção tivesse decidido incluir todos os clichês ruins possíveis do gênero sem o menor constrangimento.
A revelação do vilão, óbvia desde os primeiros quinze minutos, vem acompanhada do clássico monólogo explicativo: aquele momento em que o antagonista gentilmente esclarece tudo para os espectadores que cochilaram. Os diálogos, recheados de frases feitas sobre “honra entre ladrões”, soam como trabalho escolar de adolescente sem criatividade.
Fração de Segundos não é apenas ruim, é uma aula sobre como desperdiçar talento (?) e dinheiro de forma espetacular. Um projeto tão mal executado que consegue a façanha de fazer o público sentir pena de Chiklis, raiva de Willis e perplexidade sobre como isso chegou às telas. Se você precisar assistir, por algum motivo inexplicável, sugiro deixar passando enquanto faz algo mais útil, como contar azulejos do banheiro. Pelo menos assim, os únicos minutos perdidos serão os do personagem, não os seus preciosos minutos de vida que jamais voltarão.
Fração de Segundos (10 Minutes Gone) — Canadá, EUA, 2019
Direção: Brian A. Miller
Roteiro: Kelvin Mao, Jeff Jingle
Elenco: Michael Chiklis, Bruce Willis, Meadow Williams, Kyle Schmid, Texas Battle, Lydia Hull, Swen Temmel, John D. Hickman, Sergio Rizzuto, Geoffrey M. Reeves, Tyler Jon Olson, Roman Mitichyan, Frankie Delgado
Duração: 89 min.