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Crítica | “Fragmentos” – Ludmilla

A versatilidade da Preta.

por Felipe Oliveira
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Detentora do título como a primeira cantora negra da América Latina a atingir a marca de um bilhão de streams no Spotify e também da primeira artista afrolatina a se apresentar no palco principal do Coachella, há tempos que Ludmilla vem se mostrando uma grandeza na cena música popular brasileira. Do funk carioca e pop funk, a cantora se reinventou ao lançar o Numanice, projeto mais ambicioso e lucrativo da sua carreira. Além de trazer a estética pop para um gênero musical dominado por vozes masculinas, a Raiva da Favela furou a bolha ao fazer um público que não consumia pagode conhecer mais do repertório. O fruto disso rendeu à cantora um Grammy Latino em 2022, categoria de Melhor Álbum de Samba/Pagode pelo segundo volume do projeto mainstream.

Após o resultado decepcionante de Vilã, Ludmilla se mostra corajosa em dar mais um grande passo na carreira com o lançamento de Fragmentos, seu sexto álbum de estúdio. Dois pontos se fizeram cruciais onde seria tudo ou nada para a cantora: dar uma pausa no Numanice com o intuito de investir numa era R&B, e o segundo ponto, o fato de lançar o disco mais maduro e arriscado, tudo isso para mostrar que está disposta a correr riscos para fazer o que deseja. Mas claro a chegada de sua nova era vem com expectativas do que ela faria, uma vez que revolucionou o cenário do samba/pagode feminino e por ser uma referência para outras cantoras pretas. E assim como a grammy winner reverenciou a história do pagode ao levar o repertório e também e participações de vários artistas para o Numanice, Fragmentos chega com a promessa de ser um diferencial com o R&B, porém, carregando um toque brasileiro.

A primeira faixa lançada para divulgar a nova era, Paraíso, com sample de Love de Keyshia Cole, conseguiu convencer os incrédulos e bater o martelo de que, de fato, essa vez, a Rainha da Favela entregaria um álbum em R&B depois de flertar por tanto tempo com o gênero. A estratégia de iniciar o trabalho de divulgação durante o final da tour do Numanice 3 foi essencial para habilitar o público com a nova era. E não deu outra: não demorou muito para a letra que fala do relacionamento com a esposa Bruna Gonçalves e o nascimento da filha Zuri estar na boca do povo, transitando mais uma vez para outro gênero, mas mantendo o mesmo público. Com o lançamento do segundo single, o feat com Victoria Monét, Cam Girl, intensificou as expectativas sobre o vindouro álbum: a aceitação veio, mas a promessa da era R&B traria um novo Vilã?

Felizmente, o resultado depois de mais um ano de trabalho, revela a faceta mais ambiciosa da cantora. O intitulado Fragmentos se traduz como um registro dos diversos momentos que marcaram a vida cantora, onde cada faixa captura pedaços, estilhaços, fragmentos de memórias, emoções, sensações e superação que marcaram a sua vida. Ao longo das 15 faixas, é nítido que a produção foi pensada para destacar ainda mais a expressividade e potência vocal de Ludmilla — o que não é à toa ela ter participado de todas as composições e processo de produção. Se com o Numanice o evento exalava uma energia pop, aqui a cantora inseriu ao Rhythm and Blues elementos do funk carioca, pagode, samba e trap, mas olhando para a cena musical brasileira dos anos 2000.

Se há uma forma de resumir Fragmentos é como se fosse uma balada romântica, com a proposta de transitar em diferentes gêneros, traduzindo o sentimento das letras — nisso, entra a parte audiovisual do álbum, que funcional como uma extensão visual do conceito entre o real e o mundo imaginário dos jogos onde Ludmilla personifica suas batalhas — algo que se traduz na capa. Por evocar o funk melody, as batidas suaves do anos 2000, não será difícil lembrarmos de referências como Sampa Crew, Perla — a última faixa, Textos Longos, tem a vibe de Nosso Sonho de Claudinho e Bochecha, por exemplo — um pouco de Marília Mendonça em Falta Eu, além das inspirações com SZA, contudo, é um deleite como Ludmilla brinca com essas referências para criar algo seu, sua versatilidade e não para ser nostálgico.

Com uma faixa bloqueada — que provavelmente será liberada para o Carnaval — as catorze faixas de Fragmentos provam que, nesse processo de escrever música em R&B e transformar em pagode e vice-versa faz parte da criatividade e domínio que Ludmilla tem em criar e se superar com cada projeto que se dedica a colocar o seu talento. Feats imprevisíveis — como Latto, Duquesa e Ajuliacosta — e produtores renomados como London on the Tracks e Los Hendrix, fazem parte deste sexto álbum de estúdio que serve para ostentar mais um pouco da sua pluralidade.

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Diminui!: —

Fragmentos
Artista: Ludmilla
País: Brasil – EUA
Lançamento: 2025
Gravadora: Sem Querer Music
Estilo: R&B, Funk, Pagode
Duração: 45 min.

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