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Crítica | Fratura (2019)

por Fernando Annunziata
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“Mais cedo ou mais tarde todo mundo cai.”

Não é bom esperar muito de uma obra considerada mediana pela maioria das críticas, certo? Errado. Fratura descreve um mistério eficiente, com boas atuações e sequências que aproximam o espectador da loucura. Isso tudo embasado em um roteiro imprevisível, fato difícil de encontrar em filmes do gênero.

SPOILERS!

Ray (Sam Worthington) e sua filha Peri (Lucy Capri) sofrem um acidente. Enquanto o pai está com a cabeça fraturada, a menina tem o braço quebrado. Encaminhados a um hospital no meio da estrada, Peri realiza uma tomografia acompanhada de sua mãe Joanne (Lily Rabe), em uma ala misteriosa do hospital. O pesadelo de Ray começa quando as duas não voltam de lá.

Há muitas críticas negativas comentando que Fratura é previsível. Entretanto, destaco aqui um dos filmes de insanidade em que menos deduzimos o final. Enquanto outros de gênero semelhante tendem a uma linearidade, ou seja, desde o começo o roteiro tentará induzir o espectador a acreditar na sanidade do protagonista ou não, Fratura contém elementos que impossibilitam essa previsão do final.

Por exemplo, o cachorro que aparece no começo do filme é crucial para que revisemos nossa teoria sobre o filme nos últimos minutos. Quando tudo já parecia esclarecido e somos levados a acreditar que de fato Ray é louco, o cachorro reaparece para mostrar que os acontecimentos que o protagonista diz existir realmente estão lá. Mas essa artimanha não está só no cachorro: ela acontece em outros momentos, com a intenção de ter um efeito contrário. Por exemplo, na mesma cena inicial quando aparece o cachorro, a câmera foca em um balão de gás hélio preso a algumas ferragens. No final do filme — e na mesma cena em que o cachorro se mostra novamente presente –, esse balão desaparece e, assim, duvidamos da sanidade de Ray, já que o que vimos anteriormente não estava se repetindo na realidade. Esses dois artifícios citados são só alguns dos poucos “milhares” de exemplos que a narrativa possui para que o final não seja esperado. Com isso, realço que comentar que a obra é previsível é um argumento fraco.

Outra questão que as críticas comentam é o fato do filme “não conter entretenimento”. De fato, não é a película que se vem a cabeça quando pensamos em algo para o divertimento. Entretanto, cinema vai muito além do passatempo. Fratura é um exemplo de um cinema que não cativa pela farra, mas que convence com um roteiro que é eficiente no que ele quer passar. A premissa do projeto é ótima para amantes da psicologia, que queiram algo para explorar questões do subconsciente humano. O único erro do projeto é querer facilitar demais a vida do protagonista, a ponto de causar incômodo. Onde já se viu um hospital com apenas um guarda? Ou, pior, deixar um homem considerado louco sozinho em uma sala repleta de remédios? Seria mais interessante que a obra dificultasse os atos heroicos.

O filme não se sustenta apenas no brilhantíssimo roteiro, mas também se destaca pela linda fotografia e pelas atuações. É claro que uma obra que fala sobre desaparecimento, neve, hospital no meio da estrada e doadores de órgãos involuntários precisava de uma fotografia mais pesada. Fratura acompanha muito bem esse pensamento e entrega cores mórbidas, voltados ao cinza e preto, durante todas as sequências. A única exceção está na roupa de Peri, que é amarela. Porém, é claro que isso não chega perto de tirar a brutalidade que a fotografia queria passar.

Já as atuações, Lily Rabe (a nossa queridíssima de American Horror Story) entrega uma perfeita atuação. Ênfase para a cena em que ela encontra Ray e Peri caídos e chora desenfreadamente. É uma das poucas vezes que não vemos um choro forçado. Acompanhando isso, Sam Worthington parece ter encontrado, enfim, seu personagem ideal. Embora várias atuações do ator em outras obras não convencem, aqui ele interpreta o Ray que a narrativa precisava. Quando o filme se encaminha para o final e o protagonista passa a questionar a própria sanidade, é nítido a mudança na expressão de Worthington. Explicito que atuações em filmes que abordem sobre sanidade mental são uma das mais são importantes, visto que é pela expressão facial do ator que nos localizamos e teorizamos sobre o filme.

Enfim, Fratura é um ótimo filme da Netflix. Imprevisível e inteligente são as duas palavras que mais resume a obra. A parte técnica, como fotografia e atuações, também não deixam a desejar. É uma pena que tenha alcançado notas medianas, mesmo com potencial de ser uma grande referência do gênero.

Fratura (Fractured) – Estados Unidos, 2019
Direção: Brad Anderson
Roteiro: Alan B. McElroy
Elenco: Sam Worthington, Lily Rabe, Lucy Capri, Adjoa Andoh, Stephen Tobolowsky, Lauren Cochrane, Shane Dean, Stephanie Sy, Marina Stephenson Kerr, Dorothy Carroll, Erik Athavale, Natalie Malaika
Duração: 99 minutos.

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