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Crítica | Freaky: No Corpo de um Assassino

por Roberto Honorato
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Christopher Landon parece ter se encontrado na paródia e subversão de gêneros cinematográficos após dirigir a “duologia” (até o momento) A Morte te dá Parabéns, onde se aproveita da premissa básica do clássico Feitiço do Tempo e desenvolve uma nova narrativa seguindo a temática do subgênero slasher para criar a história de uma jovem que revive o mesmo dia em que foi assassinada, todos os dias. Para seu próximo longa, Freaky, decide fazer algo similar, desta vez casando o sangue e violência do slasher com os elementos de Sexta-Feira Muito Louca, outra comédia que acabou ganhando diversas interpretações e basicamente se transformou em uma categoria própria.

No novo experimento de Landon, temos o assassino Butcher (Vince Vaughn) retornando suas atividades na pequena cidade de Blissfield, onde começa a causar o pânico e tirar a vida de vários estudantes. Mas depois de encontrar uma adaga misteriosa e tentar esfaquear uma de suas vítimas, a jovem estudante Millie (Kathryn Newton), os dois acabam trocando de corpo. Agora, Miller precisa correr contra o tempo para impedir que Butcher mate seus amigos enquanto finge ser ela, mas também precisa descobrir uma maneira de fazer isso sem que a polícia a prenda no corpo do assassino procurado, e como se não fosse suficiente, é claro, eles têm apenas vinte e quatro horas para reverter o que a adaga fez (que filme de mudança corporal existiria sem esse detalhe?).

Freaky procura contrabalançar a comédia e o horror, mas também acaba se comprometendo com o drama ao inserir uma subtrama envolvendo o pai de Millie, o que pode ser mais responsabilidade do que o filme seja capaz de cumprir, mas não é um aspecto da obra que atrapalhe a experiência, apenas não possui tanto peso quanto a comédia, que funciona na maioria das vezes; ou o horror, esse sempre efetivo, com algumas sequências elaboradas de personagens sendo eliminados de uma maneira que agrada qualquer fã de slasher, mesmo que algumas já tenham sido feitas antes, mas nem sempre com a criatividade que vemos aqui. 

O humor não carrega a mesma consistência nas piadas que a tentativa anterior de Landon, mas quando depende delas, faz um bom trabalho, principalmente quando procura uma comédia física e explora a premissa para criar situações absurdas, como uma cena no banco de trás de um carro, estranha de uma forma que apenas beneficia a irreverência da narrativa. Quanto ao horror, não há reclamações neste departamento, e o filme sabe dosar referências visuais de clássicos do gênero, como Sexta-Feira 13 e Halloween, com uma boa quantidade de violência gratuita, sem deixar de lado momentos mais íntimos entre os personagens, ainda que o drama fique um pouco de lado por uma boa parte da rodagem do longa. E por falar nos personagens, eles são o maior triunfo de Freaky.

Vince Vaughn não está na lista de atores que considero indispensáveis, mas quando ele realmente quer e se importa, consegue funcionar muito bem com a atmosfera que o filme procura, até mesmo em dramas mais sérios como Confronto no Pavilhão 99, mas é na comédia que ele realmente se sente mais confortável, e no comando de Landon ele faz um de seus papéis mais engraçados, convencendo com sua versão brutamontes de uma adolescente tímida e desastrada, o que fica evidente quando contracena com o núcleo mais jovem do elenco e se sai muito bem.

É preciso reconhecer que Vaughn não decepciona quando está em sua versão Jason Voorhees, atravessando vidraças sem derrubar a máscara, mas o papel de assassino também caiu muito bem em Kathryn Newton, que parece estar se divertindo bastante mesmo tento que sorrir apenas com o canto da boca e somente quando está próxima de matar alguém. Newton não se destaca tanto quando está na forma de uma jovem tímida, mas algumas das sequências mais engraçadas do filme dependem de sua atuação corporal tentando emular um assassino em série de meia idade que não sabe lidar com o corpo frágil e incapaz de causar o horror que queria.

Freaky brinca com a fórmula de filmes slasher e de troca corporal sem parecer apenas uma paródia preguiçosa, e se aproveita até mesmo das particularidades mais batidas dos dois gêneros, como um esoterismo conveniente ou personagens tendo atitudes burras, para construir piadas e desenvolver um enredo criativo, que por mais irreverente e referencial, nunca parece óbvio.

Freaky: No Corpo de um Assassino (Freaky – EUA, 2020)
Direção: Christopher Landon
Roteiro: Christopher Landon e Michael Kennedy
Elenco: Vince Vaughn, Kathryn Newton, Celeste O’Connor, Misha Osherovich, Emily Holder, Nicholas Stargel, Kelly Lamor Wilson, Mitchell Hoog, Dana Drori, Katie Finneran, Alonzo Ward, Dustin Lewis, Jennifer Pierce Mathus, Uriah Shelton, Alan Ruck.
Duração: 102 min.

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