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Crítica | Fresh (2022)

Não tão fresco, mas ainda interessante e relevante.

por Ritter Fan
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De certa forma, Fresh lembra Bela Vingança, que concorreu ao Oscar de Melhor Filme em 2021. Ambos trabalham a temática do abuso de mulheres por homens usando alegorias e ambos têm uma abordagem que por vezes é levemente cômica, com um apelo visual estilizado que prende a atenção do espectador quase que imediatamente e que aos poucos desvela o horror da situação. Obviamente, a alegoria do primeiro longa de Mimi Cave é bem menos sutil do que no filme de Emerald Fennell, mas não menos interessante e eficiente, com Noa (Daisy Edgar-Jones), cansada de relacionamentos iniciados (ou não) por meio de aplicativos, arriscando algo “normal” e engatando em um romance com Steve (Sebastian Stan – a escolha do nome Steve não pode ter sido gratuita…) que ela conhece no corredor de vegetais frescos do supermercado.

Em nenhum momento o roteiro de Lauryn Kahn, em seu segundo longa, esconde que algo de estranho, talvez bizarro acontecerá. Isso está no DNA da obra desde seus segundo iniciais e se faz sentir tanto na ótima atuação da dupla principal, quanto na pegada mais kitsch, quase brega dos diálogos que é acompanhada por uma direção de arte que cria cenários de certa forma atemporais, transportando o espectador para “um outro lugar”. Não tenho a menor intenção de seque dar pistas das verdadeiras intenções de Steve com Noa aqui na crítica, apesar de a sinopse oficial e toda a campanha ao redor desse filme – além de chamadas de outras críticas que vi por aí – não ser nada discreta e entregar o ouro quase que imediatamente. No entanto, Fresh, felizmente, não vive pela sua reviravolta que eu nem considero uma verdadeira reviravolta, na verdade, já que ela acontece ainda no começo do segundo terço da projeção, mas sim por um conjunto harmônico de atuações divertidas e relaxadas em um primeiro momento e sombrias e tensas em um segundo e uma ambientação que acerta o tom de primeira, especialmente na luxuosa casa de Steve.

O problema é que, por mais que o texto e a direção se esforcem, não há muito o que contar, não há muito o que verdadeiramente explorar na história. Quando o segredo é revelado, ou seja, quando a alegoria finalmente fica bem evidente, o que vemos, a partir daí, é sua repetição casada com didatismo e a conversão do longa em um thriller que, não fossem os cenários, os figurinos e a dupla principal, seria apenas ok, mesmo que com uma mensagem bem intencionada. Verdade seja dita, porém, quando o longa começa a caminhar para sua resolução, nada o salva de sua conversão em algo substancialmente genérico e simplista. Não ruim, vejam bem, mas bem pedestre e, mais ainda, bem distante da atmosfera que Cave conseguira construir com o pouco que tinha em mãos.

Percebe-se com facilidade o momento em que o filme chega à proverbial encruzilhada, em que é perceptível que a história tinha dois caminhos a tomar. Mantendo minha abordagem sem spoilers, falo da cena do segundo jantar de Noa com Steve em seu casarão. Ali era o momento perfeito para o roteiro explorar a fundo sua temática, sem se deixar levar pela resolução segundo a cartilha básica de longas de suspense. Infelizmente, porém, o caminho escolhido é inegavelmente o mais fácil, mesmo que seja refrescante ver a abordagem dada a determinado personagem menor que chega por ali em tese para salvar o dia, já que não é nem de longe o que podemos esperar de um momento assim. Mas esse tal personagem tem alguns segundos apenas de tela, com todo o restante sendo exatamente o que esperamos de qualquer final hollywoodiano e não aquilo que parecia estar sendo preparado antes.

Mas Fresh, mesmo no final das contas não ousando como dá a entender que ousaria, nesse quesito passando muito longe de Bela Vingança, consegue ser um filme que pelo menos até certo ponto aborda seu tema central de maneira honesta e direta, passando sua mensagem com clareza. Ajuda muito que Daisy Edgar-Jones realmente convence como uma “mulher comum” que acaba enredada em uma armadilha que ela jamais poderia imaginar e, principalmente, que Sebastian Stan construa um personagem que faz do charme sua arma e, quando sua máscara cai, percebemos, para nossa surpresa, que o charme continua apesar dos horrores que vemos a seguir. Com isso, o longa acaba funcionando como uma diversão com substância que se trai em seu fim, mas não o suficiente para estragar a experiência.

Fresh (Idem – EUA, 2022)
Direção: Mimi Cave
Roteiro: Lauryn Kahn
Elenco: Daisy Edgar-Jones, Sebastian Stan, Jonica T. Gibbs, Charlotte Le Bon, Dayo Okeniyi, Andrea Bang, Brett Dier
Duração: 114 min.

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