- Há spoilers! Confira aqui a crítica dos outros episódios!
O episódio dessa semana tinha tudo para ser o melhor de Fundação até agora, com uma direção bem mais focada, uma montagem menos confusa, e o clímax de diversos arcos de personagens que parecem finalmente estar perto de algum tipo de desenvolvimento pessoal, mas com exceção do ótimo núcleo dramático do imperador Cleon, ou Irmão Dia, ainda precisamos sofrer com a insuportável história de Salvor Hardin, e a enrolação eterna de uma irritada Gaal Dornick lidando com um Hari Seldon cheio de segredos (nem ela teve paciência para essa subtrama e a abandonou no fim do episódio).
Essa provavelmente será a crítica mais curta até agora, talvez porque a própria série não se esforça para apresentar qualquer coisa nova que sirva para avançar a trama de maneira orgânica, não apenas para entregar diversas reviravoltas vazias. O roteiro está desesperado para surpreender o espectador, então enfia todo tipo de clichê e estereótipo de ficção científica possível, desde um protagonista ter a capacidade de ver o futuro, até o irritante conceito do “escolhido”. Toda vez que alguém diz para Hardin como ela é “especial”, só faltou o ator olhar para a câmera, no melhor estilo Austin Powers, e dizer “viu só? prestem atenção nisso, ela vai ser importante no futuro”.
O núcleo de Salvor Hardin continua na mesma, e parece que a atriz, Leah Harvey, está ficando entediada com sua própria personagem, porque seu papel em oito episódio foi apenas vigiar o Cofre e ser intimidada pela anacreana Phara (Kubbra Sait), que também força tanto ser intimidadora que acaba sendo exaustivo assistir as várias vezes que ela atira ou grita com alguém sem necessidade. Mas de novidade nessa parte, apenas o retorno de Hugo (Daniel PacPherson), que fez muita gente achar que ele tinha morrido no episódio anterior da maneira mais estúpida possível. Foi bom ver que esse não foi o caso, mas ele conseguiu sobreviver da maneira mais estúpida possível.
Quanto ao imperador Dia, continuamos assistindo a personagem tentando provar seu valor em uma jornada arriscada e mortal, mas ainda mais difícil, é o peso que o ator Lee Pace precisa carregar nas costas por ser, de longe, muito longe, a única (sem exagero) personagem interessante de toda a série. A série continua explorando os mesmos temas de antes, com o imperador conhecendo o verdadeiro peso da mortalidade, será que isso vai afetá-lo de alguma maneira ou foi apenas um dos raros momentos em que o roteiro foi inteligente?
E por falar no roteiro, esse é o que tem estragado a série, com reviravoltas fracas, temas vazios (com exceção do Irmão Dia), diálogos risíveis e uma péssima compreensão do básico de ciência em uma série onde o assunto é essencial para o avanço da trama. Gaal Dornick querendo aprender matemática por conta de uma visão, ou a sequência com Salvor Hardin tentando se conectar à nave, enquanto escuta como é especial e o conhecimento não é tão importante quanto a… sorte (sério?), foram algumas das tentativas mais ridículas do roteiro em soar esperto, falhando miseravelmente.
The Missing Piece parece a história de uma sessão de RPG narrada por uma pessoa que não faz a mínima ideia de como se adaptar às decisões de um jogador que decidiu improvisar. A sensação é de estarmos assistindo um roteirista amador, mas completamente arrogante, tentando provar ao máximo como consegue deixar o espectador animado com as diversas surpresas que seu roteiro inteligente traz, enquanto todo o resto da equipe criativa fica calada e tem vergonha de ser tarde demais para comentar como gostaria de ter ido trabalhar em algo melhor.
Fundação (Foundation) – 1X08: The Missing Piece (EUA, 5 de Novembro de 2021)
Criação: Josh Friedman e David S. Goyer
Direção: Roxann Dawson
Roteiro: Josh Friedman, David S. Goyer e Sarah Nolen, baseado na obra de Isaac Asimov
Elenco: Lee Pace, T’Nia Miller, Chipo Hung, Laura Birn, Terrence Mann, Alfred Enoch, Leah Harvey, Cassian Bilton, Teyarnie Galea, Daniel MacPherson, T’Nia Miller, Pravessh Rana, Kubbra Sait, Clarke Peters, Buddy Skelton.
Duração: 56 min.
