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Crítica | Fundação – 1X10: The Leap

Como viver na sombra das obras que você mesmo inspirou?

por Roberto Honorato
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  • Há spoilers! Confira aqui a crítica dos outros episódios!

Depois do episódio anterior, The First Crisis, eu quase acreditei que Fundação fosse escolher um caminho melhor e que o enredo desse uma melhorada. Mas esqueci completamente do maior problema dessa série, que tem me incomodado desde o episódio de estreia, e continuou sendo o ponto fraco da produção, o seu péssimo roteiro. Não importa o quão visualmente deslumbrante a série seja, ou se atores como Lee Pace entregam toda a força necessária para uma personagem que seria um desastre na mão de um ator menos competente, nada disso importa se estiver coberto por uma camada de conveniências e previsibilidade. Se antes eu tinha qualquer dúvida, agora sobra a certeza de que o maior inimigo dessa série é o roteiro.

Finalmente, temos o retorno de Hari Seldon (Jared Harris), saindo do Cofre e divulgando seus planos para todas as pessoas em conflito na superfície de Terminus. Além de ter sido apressada e conveniente, a cena apenas reforçou o que tenho dito toda semana, que esse núcleo tem sido irrelevante, assim como a própria personagem de Salvor Hardin (Leah Harvey), e a tal Fundação, que leva o nome da série, não teve qualquer significância em todos os dez episódios dessa temporada, com exceção de apenas se reunirem para reclamar como não possuem poder militar ou devem permanecer focados apenas na pesquisa e desenvolvimento da enciclopédia galáctica, aquela que nunca vemos e parece ter nenhuma importância.

Mas falar mal da história de Salvor Hardin tem sido como chutar cachorro morto, já que ela nunca teve qualquer destaque positivo em questão de enredo (leia as críticas dos episódios anteriores, onde passo um bom tempo falando só disso), e eu gostaria muito de pular para a trama de Gaal Dornick (Lou Llobell), mas essa também só serviu para ser catapultada de ponto em ponto no tempo e espaço, sem real desenvolvimento, já que grande parte da série passou dormindo. O que sobra é o núcleo dramático do imperador Cleon, que curiosamente tem sido o mais interessante da temporada, mesmo abordando temas e uma trama completamente diferente do que os livros de Isaac Asimov estabeleceram, como manipulação genética e robôs mais emotivos (o problema nunca foi fidelidade ao material original, apenas uma equipe criativa sem ideia do que fazer).

Mas se o arco do Império foi me conquistando aos poucos, tudo foi perdido nesse último episódio, que parecia a bagunça sem originalidade de Star Wars: A Ascensão Skywalker, depois de Star Wars: Os Últimos Jedi. Enquanto esse segundo se arriscou tentando mudar a dinâmica política e social do universo de uma franquia completamente estagnada nos cinemas, o primeiro ficou assustado demais com as mudanças e decidiu voltar ao status quo original, que já estava cansativo e previsível. Foi o mesmo com Fundação, que começou com diversos clichês e estereótipos da ficção científica, mas aos poucos passou a desconstruí-los, e utilizando uma das personagens menos envolventes da série, o que foi uma surpresa.

Mas assim que tudo parecia estar em uma rota de mudança, com o antagonista principal em uma crise de consciência que abria a porta para diversas possibilidades do que fazer com a personagem e sua influência nesse universo, e um enorme dilema envolvendo seu legado em confronto direto com sua mortalidade, The Leap foi um episódio covarde, e escolheu apagar qualquer tipo de avanço, para se manter como a mesma série de ação genérica que pretendia ser desde o começo. Se eles queriam ser Game of Thrones, Duna ou The Expanse, eles conseguiram, mas chegaram tarde e agora são uma série baseada em um material original incrível, mas vivendo na sombra das próprias obras que inspirou.

Mais uma vez, devo elogiar a direção de arte e algumas atuações da série (menos Leah Harvey, que considera ficar de boca aberta enquanto assiste personagens menores fazerem mais do que ela atuação, e não possui metade da carisma de Lou Llobell, uma atriz sem metade do currículo de Harvey), mas é cada vez mais difícil tolerar as decisões ruins e a falta de desenvolvimento das personagens, assim como tramas de resolução fácil e conveniente. David S. Goyer queria muito ir contra a visão original de Asimov, talvez por vergonha, ou por nunca ter lido os livros, o que seria completamente perdoável se isso fosse o suficiente para explicar algo tão sem originalidade quanto essa série. É como eu sempre digo sobre adaptações, você não precisa ser fiel, desde que tenha algo novo em mente. Porque, se não for pra criar uma produção diferente, ou que vá além do original, você está apenas usando a popularidade do nome de uma obra aclamada e adorada por tantos, sem ter a mínima ideia do que fazer com ela.

Fundação tinha a chance de ser a maior produção de ficção científica da década, com um orçamento que a transformaria na próxima Westworld, e uma obra original que rivalizaria com algo grandioso como Duna, mas o envolvimento de um roteirista fajuto como David S. Goyer estragou todas as chances de termos um novo clássico sci-fi.

Fundação (Foundation) – 1X10: The Leap (EUA, 19 de Novembro de 2021)
Direção: David S. Goyer
Roteiro: Josh Friedman, David S. Goyer, baseado na obra de Isaac Asimov
Elenco: Lee Pace, Jared Harris, T’Nia Miller, Chipo Hung, Laura Birn, Terrence Mann, Alfred Enoch, Leah Harvey, Cassian Bilton, Teyarnie Galea, Daniel MacPherson, T’Nia Miller, Pravessh Rana, Kubbra Sait, Clarke Peters, Buddy Skelton.
Duração: 59 min.

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