Home TVEpisódio Crítica | Game of Thrones – 7X05: Eastwatch

Crítica | Game of Thrones – 7X05: Eastwatch

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

– Contém spoilers do episódio. Acessem, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.

Com apenas mais dois episódios pela frente, já está bastante clara a completa ausência de preocupação dos showrunners de Game of Thrones em relação aos aparentes teletransportes/fast travels dos personagens da série. Evidente que um problema como esse é preferível a uma temporada inteira de enrolação (quinta e sexta temporadas, estou olhando para vocês). O que vimos aqui nesse sétimo ano do seriado facilmente poderia ter sido dilatado em dezenas de capítulos, mas, felizmente, Benioff e Weiss demonstram estar conscientes do quanto resta até o fim da série.

Estamos falando, contudo, de um programa original da HBO, o mesmo canal que revolucionara toda a estrutura de séries dramáticas através de Família SopranoThe Wire, seriados que moldaram a televisão como a conhecemos hoje. Simplesmente deixar de lado claros problemas narrativos, portanto, seria uma grande injustiça com o próprio canal, que foi construído em cima da qualidade de suas produções próprias.

Dito isso, há de causar grande estranhamento a repentina chegada de Tyrion e Davos em King’s Landing, ou a viagem instantânea de Jon a Eastwatch e até mesmo o reencontro de Daenerys com Jorah Mormont, que volta para o lado de sua rainha. Curiosamente, nesse mesmo episódio, temos um bom exemplo de como transmitir a ideia de passagem de tempo, por meio de Clegane e os outros da Irmandade, que partiram para a Muralha logo na season première. Mas, é claro, todos esses problemas nos levam de volta às temporadas de enrolação que criaram a necessidade de que essas duas fossem um tanto corridas.

Agora que tiramos do caminho o mais evidente problema que assola tanto esse episódio quanto os anteriores da temporada, vamos para o que Eastwatch nos apresentou em sua trama.

Matt Shakman novamente demonstra sua preferência por grandes planos abertos, como podemos ver já nos minutos iniciais do capítulo. O diretor evidencia o poder de Daenerys ao retratá-la em quadro junto com o seu dragão e parte dos dothraki, com seus possíveis novos súditos à sua frente. Temos aqui uma sequência importante para a construção da trama principal, especialmente para aqueles que tem acompanhado o surgimento das diversas teorias relacionadas à profecia de Azor Ahai, que falam sobre a possibilidade da mãe dos dragões ser traída, questão que já vem sendo trabalhada desde o episódio anterior, com a discussão entre ela e Tyrion e, claro, o olhar desolado do anão sobre o campo de batalha e a chacina cometida ali.

O roteiro de Dave Hill, que apenas segue a questão introduzida anteriormente, cria um paralelo entre Daenerys, seu pai e Cersei, diminuindo a diferença entre os três por intermédio de suas ações. A Targaryen não demonstra qualquer relutância em acabar com uma família inteira, da mesma forma que a rainha Lannister fizera com os Tyrell. Há de ser observada, também, a oposição entre ela e Jon se nos lembrarmos da famosa frase de Ned Stark: aquele que passa a sentença deve usar a espada – Daenerys se abstém de matar, ela própria, os condenados pelos supostos atos de traição, ela assassina aqueles que optam por manter a honra e os observa serem queimados da mesma forma que Aerys II fizera antes dela.

O fato de Dickon ter ido logo cedo, claro, evidencia o truque barato de roteiro, visto que ele nos fora apresentado brevemente, com poucos diálogos, para que nos importássemos com sua morte – isso, porém, não chega a incomodar, visto que ele cumpriu sua função de motivar o subsequente diálogo entre Varys e Tyrion, na sala do trono em Dragonstone, sequência, aliás, que nos remete às interações entre o eunuco e Littlefinger, dentre outros personagens, em King’s Landing. É aberta, aqui, a indagação sobre Daenerys ser ou não adequada para reinar, o que nos leva para o trecho mais fan service do capítulo.

Refiro-me, claro, ao pouso de Drogon logo em frente à Jon Snow, gerando uma situação extremamente forçada apenas para reforçar a legitimidade do Rei do Norte, que ainda não sabe sobre sua verdadeira linhagem. A sequência em si é emblemática, espelha-se no primeiro encontro de Tyrion com os dragões e revela muito sobre Jon como Targaryen, mas soa solta dentro do episódio, não justificada – questão essa que poderia ser facilmente resolvida, caso estivessem ali presentes outros personagens, como se esperassem o retorno da possível rainha – aliás, muitos tomaram chá de sumiço neste capítulo, vide Missandei e Theon.

Outro aspecto a ser notado aqui é o olhar de Daenerys para Jon, que revela um ar de admiração e, ao mesmo tempo, estranhamento em razão da “docilidade” de Drogon em relação ao nortenho, olhar esse que novamente se apresenta quando Snow decide viajar para Eastwatch a fim de capturar um dos mortos. Há de se esperar que um possível romance entre os dois seja mostrado até o fim da temporada e detalhes como esse se fazem importantes nessa construção, especialmente a relutância da Targaryen em deixar o Rei do Norte ir embora, que mais parece uma vontade de não se despedir do que falta de confiança efetivamente.

Do lado de Jaime, temos um personagem claramente abalado pelo que ele acabara de experienciar na batalha contra os dothraki e o dragão, o que nos leva à sua tentativa desesperada de acabar com Daenerys no final de The Spoils of War. A jornada de redenção do Lannister já vem sendo construída desde as primeiras temporadas do seriado e o fato dele estar pronto para entregar sua vida a fim de terminar com a guerra revela muito sobre sua evolução como personagem. Claro que ele ainda está preso ao amor que sente pela sua irmã, o que nos leva a crer na possibilidade de Cersei ter mentido sobre sua gravidez a fim de estreitar os laços entre os dois. Vale lembrar que não ouvimos todo o diálogo entre ela e Qyburn, que foi ocultado de propósito, gerando a dúvida e preocupação na cabeça de Jaime. Isso, claro, encaixa-se com o fato de Cersei ter conhecimento sobre o encontro entre seus dois irmãos.

Esse encontro, aliás, também revela bastante sobre a disposição de Jaime e depende bastante da atuação de Nikolaj Coser-Waldau para tal. Sentimos como se ele tentasse dizer algo, mas sem conseguir, com as palavras presas em sua boca. Seu sentimento de raiva pelo irmão por ele ter matado seu pai, claro, se faz presente, mas recentemente foi provado que ele não havia sido o culpado pela morte de Joffrey e toda essa cisão na família ocorrera devido a essa acusação. Tudo isso nos mostra o quão dividido está Jaime, sendo afogado  pelas muitas questões que o envolvem, o que nos remete ao seu mergulho do episódio anterior, claramente apresentado de forma simbólica.

Ainda em King’s Landing, Gendry finalmente retorna, quebrando a teoria de que ele ainda estava remando por aí. Pelo que foi apresentado aqui, fica bastante claro que ele passará a atuar como um espelho do jovem Robert Baratheon, tanto pela sua arma de preferência, quanto pela forma direta como age, não querendo ocultar sua verdadeira linhagem de Jon. Naturalmente que tudo isso pode ser enxergado como mais um fan service, mas, ao menos esse é justificado pela construção narrativa. O único aspecto que nos faz levantar a sobrancelha é o fato de ele simplesmente aceitar a luta contra os mortos sem mais nem menos, como se ele próprio estivesse assistindo aos episódios de Game of Thrones e, portanto, estando perfeitamente inteirado sobre a crise que se aproxima.

Já em Winterfell, Bran funciona como o batedor (o único da série) de todos ali, enxergando a aproximação dos white walkers. Seu aviso, claro é utilizado para criar o vínculo com os trechos focados em Sam, que, enfim, decide sair da Cidadela, não antes, porém, de quase ouvir por completo uma das mais importantes informações da série que nos revela que Rhaegar se casou com Lyanna Stark, fazendo de Jon, portanto, o herdeiro legítimo do Trono de Ferro. Há de se esperar que isso gere uma possível cisão entre ele e Daenerys ou a necessidade ainda mais forte de uma aliança, que pode ser firmada com um casamento. Sim, eles são tia e sobrinho, mas os Targaryen tinham o costume de se casar entre si para fortalecer a linhagem.

Ainda no norte, Littlefinger, enfim, começa a colocar seu plano em movimento, transformando o arco de Winterfell em uma verdadeira história de intriga e espionagem, com ele de um lado e Arya do outro. Já está bastante óbvio que a irmã vai acabar salvando Sansa, mas não antes de uma boa crise interna que certamente dialogará com a pequena discussão ocorrida entre as duas nesse episódio. Considerando que Brienne também está presente no local, certamente essa história não irá terminar bem para Baelish e, dessa forma, Game of Thrones irá se livrar de mais um antagonista (ou não…). O que permanece como um mistério é o fato de Jon não ter sequer pedido ajuda das casas do norte em sua missão suicida, o que abriria espaço para Littlefinger apresentar-se como uma ameaça ainda maior, visto que Winterfell ficaria mais vazia. Aparentemente, somente os personagens principais contam com a facilidade do fast travel.

Com alguns deslizes, em geral ligados ao roteiro e a necessidade de acelerar a narrativa em razão da pura enrolação das duas temporadas anteriores, Eastwatch, ainda assim, consegue ser um bom capítulo de Game of Thrones, que prepara o terreno para o clímax da temporada, que, em geral, ocorre no penúltimo episódio do ano. Testemunhamos, aqui, uma considerável progressão narrativa, com importantes revelações sobre a linhagem de Jon Snow. Mesmo que o plano de capturar um morto seja uma imbecilidade completa, não há como não ficar ansioso pela próxima semana – basta tomar aquela boa dose de suspensão de descrença.

Game of Thrones – 7X05: Eastwatch — EUA, 14 de agosto de 2017
Showrunner:
 David Benioff, D.B. Weiss
Direção: Matt Shakman
Roteiro: Dave Hill
Elenco: Peter Dinklage, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Emilia Clarke, Kit Harington, Aidan Gillen, Liam Cunningham, Sophie Turner, Maisie Williams, Nathalie Emmanuel, Gwendoline Christie, Conleth Hill,  John Bradley, Isaac Hempstead Wright, Hannah Murray, Kristofer Hivju, Rory McCann, Iain Glen, Jim Broadbent, Pilou Asbæk, David Bradley, Anton Lesser, Richard Dormer,  Paul Kaye, Jacob Anderson, Ellie Kendrick
Duração: 59 min.

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