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Crítica | Garantia de Morte

por Ritter Fan
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Great. Now we have all the assholes in one room.
– Burke, Louis

Ah, que delícia que é o subgênero “filme de prisão” (ou seria um gênero?)… Eu realmente adoro, seja uma obra-prima como Um Sonho de Liberdade, sejam clássicos como Papillon ou Alcatraz – Fuga Impossível ou até mesmo bobagens como Rota de Fuga ou a série Prison Break, todos tendo a oferecer um pouco dos clichês em comum, como rebeliões, diretor e guardas malvados, presos simpáticos, outros malignos e, claro, um herói cuja fuga – quanto mais complicada melhor! – torcemos constantemente, seja a abordagem séria, repleta de nuanças sócio-políticas, seja ela focada apenas na ação e pancadaria. E é claro que uma obra desse tipo não poderia faltar à carreira de Jean-Claude Van Damme, de forma que ele pudesse exibir suas acrobacias marciais em ambiente confinado.

Primeiro roteiro de David S. Goyer, o longa lida com o detetive canadense Louis Burke (Van Damme) que aceita a missão de se infiltrar em uma prisão americana na Califórnia para investigar uma série de misteriosos assassinatos de detentos. Seu único contato com o mundo exterior é a advogada Amanda Beckett (Cynthia Gibb) que se passa por sua esposa, podendo visitá-lo para então fazer a troca de informações necessária para a solução do caso. Como é de se esperar de qualquer filme estrelado pelo belga, não demora e ele tem que usar suas habilidades atléticas, formando um laço com Hawkins (Robert Guillaume), um prisioneiro mais velho e sem um olho que, aos poucos, vai abrindo as portas para o policial, revelando uma conspiração ampla que vai muito além dos encarcerados.

Sabem aqueles clichês de filme de prisão que mencionei logo no primeiro parágrafo? Pois bem, eles obviamente estão devidamente presentes aqui, mas Goyer consegue inseri-los de maneira eficiente, com a direção de Deran Sarafian criando um ritmo simples, mas constante para a progressão narrativa, sem maiores enrolações, ainda que ele tente imprimir uma tentativa de “estilo visual” com o uso de ângulo holandês e de câmera em primeira pessoa que, apesar de irritante e sem nenhuma lógica interna para isso, pelo menos não chama atenção demasiadamente para esses artifícios. Mas o que acaba surpreendendo é que, mesmo com lutas no estilo “de rua” substancialmente menos inspiradas que no ótimo filme anterior do ator, Leão Branco, o Lutador Sem Lei, elas não são a grande atração, já que Goyer se dá ao luxo de realmente desenvolver uma trama investigativa básica, mas interessante e que “ocupa” corretamente a duração do longa.

Com isso, pela segunda vez no mesmo ano, Van Damme tem algum espaço para mostrar minimamente seus limitados dotes como ator, inclusive tendo a oportunidade de contracenar com a personagem de Gibb e, por incrível que pareça, estabelecer uma razoável química entre eles. Aliás, Gibb também ganha destaque na ação fora da prisão, equilibrando bem as duas pontas do longa, além de ter algumas cenas toscamente engraçadas com o inoportuno hacker adolescente Tisdale (Joshua John Miller), sugerido por Burke e que não para te azarar a advogada, para somente tomar todo tipo de fora.

Produzido inicialmente pela Cannon que, em meio às filmagens, finalmente foi à falência, o longa, juntamente com outros que estavam em diversas fases de produção, acabou sendo adquirido pela MGM que, como era de se esperar, acabou interferindo no material de forma a reduzir a violência, esperando que o filme alcançasse o público mais amplo possível, o que acabou levando a alguma sequências estranhas, que parece ter sido picotadas para deixar os momentos mais fortes fora do enquadramento, além de acabar prejudicando a luta final que, na verdade, só existe mesmo para que o filme possa ter um final boss, pois ela é completamente desnecessária e de certa forma até sem relação com a trama principal, ainda que dê lá o fechamento para o preâmbulo à la 007. Teria sido interessante ver qual era o plano original de Goyer e Sarafian em termos de exposição de sangue e violência, mas até que o resultado final acabou funcionando dentro do espírito do longa.

Garantia de Morte está lá naquele metiê dos filmes de prisão que existem porque os tropos do gênero são absolutamente irresistíveis. Está longe, bem longe de ser algo memorável, mas pelo menos não está também próximo aos piores exemplares que são lançados por aí como o abominável Rota de Fuga 2: Hades, mantendo, portanto, um nível de qualidade até alto para a carreira de Van Damme.

Garantia de Morte (Death Warrant – EUA, 1990)
Direção: Deran Sarafian
Roteiro: David S. Goyer
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Robert Guillaume, Cynthia Gibb, George Dickerson, Art LaFleur, Patrick Kilpatrick, Abdul Salaam El-Razzac, Armin Shimerman, Joshua John Miller, Larry Hankin, Hank Stone, Conrad Dunn, Joe Dassa
Duração: 89 min.

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