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Crítica | Gasparzinho, o Fantasminha Camarada

por Iann Jeliel
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Gasparzinho

Baseado nas animações da Famous Studios e HQs da Harvey Comics, Gasparzinho: Um Fantasminha Camarada chega no embalo da estética “Tim Burton” dos anos 90, em conjunto à realidade da computação gráfica que tornava possível o protagonismo de um personagem totalmente digital. Desde sua origem, Gasparzinho era uma obra que flertava com a infantilização do sombrio, mas onde a estética cartunesca claramente amenizava o efeito do sobrenatural de modo a tratá-lo quase como inexistente, algo que em live-action certamente não funcionaria, especialmente considerando as limitações de recursos técnicos para isso. Portanto, a estética Burton cai como uma luva para sobrepor esse teor imagético do assustador e usá-lo em contraste à condução infantil de um modo que ficasse extremamente marcante para as crianças.

Sou bastante a favor dessa ideia de contraste narrativo, especialmente nos desenhos animados, mas também para live-actions. Os cenários da mansão e a própria idealização visual dos fantasmas correspondem de início a essa ideia, logo completamente desvirtuada pela falta de equilíbrio no tom e nos exageros estereotipados de sua construção dramática protocolar para se promover uma história a se acompanhar. O filme até tenta trazer algo novo quando puxa a história para a origem de Gasparzinho, que consta de um flerte existencialista com a morte que poderia ser interessante. Os personagens humanos sofrem da mesma dramática, Bill Pulman é viúvo e se transforma em um “caça-fantasma” para tentar uma comunicação espiritual com sua esposa, enquanto viaja de cidade em cidade e deixa sua filha refém da mesma solidão que acompanha Gasparzinho, que não consegue ter amigos por geralmente humanos terem medo de fantasmas.

O roteiro consegue arrumar bem essas possibilidades em boas dinâmicas, mas amarra tudo através dos conectivos mais irregulares possíveis. O alívio cômico dos três outros fantasmas não funciona em nenhum momento, e o filme não só insiste neles como os usa para construir o drama final da filha com o pai em termos de solidão. Solucionado por um artefato mágico que surge repentinamente na narrativa, o que não faz o menor sentido partir dessa solução dramática forçada e de modo igualmente forçado para criar uma “vilã” à história. E consegue piorar quando a conexão de Gasparzinho com Kat é direcionada para o lado de um romance impossível. Como se um romance entre um fantasma e uma pessoa já não fosse bizarro o suficiente, colocar esse romance como apoteose climática de um filme infantil é muita coragem, para não dizer sem noção.

Nada contra a ideia de romance em si, pode funcionar – como é em Ghost: O Outro Lado da Vida -, mas é preciso casca no desenvolvimento, casca essa inexistente aqui. Na verdade, é algo completamente jogado, todos esses elementos coming of age são colocados sem a menor sutileza, o que às vezes parece ser apenas mais um utensílio de humor – que também não funciona – do que um mote narrativo. E se fosse isso mesmo, seria até melhor, os melhores momentos do filme estão nas desventuras episódicas, especialmente nas interativas entre os dois personagens que criam um vínculo verdadeiro de amizade ali. Infelizmente, se há duas cenas em que isso acontece nesse tom é muito, o filme acaba se perdendo com outros subplots pouco interessantes, e mais tarde, como dito, direciona a interação para um romance proibido que é estranho demais para funcionar da forma como foi colocada.

Mas ora, esse não seria o princípio “burtiano”? Abraçar a estranheza para a normalidade. É… mas não estamos falando de um filme conduzido por Tim Burton para isso ser comprável. Brad Silberling nem é mau diretor, mas certamente seu estilo não está atrelado à sensibilidade de Burton para esse lado, inclusive, sequer existe um flerte com a estranheza aqui, é estranho porque soa estranho e não porque tem que ser estranho. Pegue essa estranheza e junte à artificialidade de alguns exageros da trama, Gasparzinho envelhece mal até mesmo para aqueles que podem guardar lembranças nostálgicas dele na infância.

Gasparzinho, o Fantasminha Camarada (Casper | EUA, 1995)
Direção: Brad Silberling
Roteiro: Deanna Oliver, Sherri Stoner, Joseph Oriolo (Baseado na criação de Seymour Reit e Joe Oriolo)
Elenco: Malachi Pearson, Bill Pullman, Christina Ricci, Cathy Moriarty, Eric Idle, Ben Stein, Don Novello, Joe Nipote, Joe Alaskey, Brad Garrett, Clint Eastwood, Mel Gibson
Duração: 100 minutos

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