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Crítica | Gato de Botas 2: O Último Desejo

O efeito raro de uma sequência.

por Felipe Oliveira
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Pode parecer cedo demais, mas é inevitável reconhecer e apontar Gatos de Botas 2: O Último Desejo como uma das melhores animações do ano além de ser uma grata surpresa. Chegando doze anos depois do seu prequel, o spin-off de Shrek detinha um certo receio talvez baseado em deduções de que poderia ser apenas mais uma sequência hollywoodiana tentando surfar na onda da nostalgia e que entregaria um resultado medíocre, esquecível e desnecessário. Porém, subvertendo as baixas expectativas, Puss in Boots retorna mais que pronto para sua próxima indicação ao Oscar.

Mas bem, focando no terceiro adjetivo da baixa expectativa, sequências geralmente não são necessárias, o que piora para um filme derivado de uma franquia que promete um quinto capítulo há anos, um risco até mesmo para o Suave Sedutor dublado por Antonio Banderas. Considerando que a tendência narrativa dos requels é o que mais tem movimentado as continuações de sagas em Hollywood recentemente, é surpreendentemente refrescante que The Last Wish chega depois de um longo intervalo voltado em contar uma história que não se preocupa em se adequar e fazer média a um modelo, e sim em expandir o macro de um personagem carismático, sagaz e divertido.

Diferente do anterior, Gato de Botas 2 possui uma história mais simples sem buscar viradas mirabolantes como ápice, mas traz em seu desfecho um escopo sobre maturidade, acolhimento e afetividade. Embora inicie com releitura musical dos eventos que marcaram o primeiro filme, há uma atmosfera muito bem-vinda e agridoce com que a direção de Joel Crawford e do co-diretor Januel Mercado ostentam a personalidade sarcástica de Puss enquanto gentilmente introduzem o que será o motor do longa: a desconstrução do lendário Amante Felino, uma escolha inteligente de retomar o personagem numa história mais intimista.

Na contramão de filmes solos derivados como Minions 2: A Origem de Gru e Lightyear, o roteiro de Tommy Swerdlow e Paul Fisher compreende o personagem que está em jogo e faz o melhor uso disso ao oferecer uma história madura e que não aceita ser nada menos que épica e emocionante. Esses são aspectos evidentes logo na cena inicial que abre com um grande número ao vermos como Mercado e Crawford se desafiam em compor a animação com estilos e técnicas marcantes e visualmente atraentes, deixando de lado o modelo realista do primeiro filme e aplicando traços mais cartunescos.

Em alguns momentos O Último Desejo parece uma pintura em constante transição visual diante da criatividade e capricho das cenas que alternam entre o uso do 2D e 3D. Aqui a montagem de James Ryan substitui o acompanhamento em divisão de telas do anterior e investe numa edição que valoriza a proposta visual, seja numa simples sobreposição de imagens com um jogos entre formas, há um esforço notável para não perder de vista que Puss in Boots está de volta não só com uma nova aventura, e sim esbanjando encanto com um estilo próprio e atraente repleto de vivacidade. Embora essa composição se assemelhe ao trabalho feito à mão de Homem-Aranha no Aranhaverso, diria que a Dreamworks evoca acenos à suas criações como as cores fortes e atraentes de Kung Fu Panda, ainda mais que a dupla de diretores participaram do Departamento de Arte e Animação do longa dos Cinco Furiosos.

Não restam dúvidas de que Gato de Botas 2 se qualifica como mais uma das sequências que superam o original, e a prova do domínio que tem ao seu conto de fadas clássico e subversivo soma-se até no modo sutil que insere referências, como a Mad Max: Estrada da Fúria. Ao cabo, é ótimo que animação chega em um momento que a Dreamworks busca por mais identidade visual e criatividade, entregando uma história familiar e simples, porém, absurdamente envolvente no seu espetáculo  visual, característica que denota até na forma em que o longa caminha para seu ápice sempre expandindo o cenário com mais e mais cores vibrantes e fascinantes.

Gato de Botas 2: O Último Desejo (Puss in Boots: The Last Wish – EUA, 2022)
Direção: Joel Crawford, Januel Mercado
Roteiro: Tommy Swerdlow, Paul Fisher
Elenco: Antonio Banderas, Salma Hayek, Harvey Guillén, Florence Pugh, Olivia Colman, Ray Winstone, Wagner Moura, Samson Kayo, John Mulaney, Da’Vine Joy Randolph
Duração: 102 min.

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