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Crítica | Gavião Arqueiro – 1X05: Ronin

Macarrão com molho de pimenta.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Todas as séries do Marvel Studios são degraus em uma escada sem fim que constrói e amplia um cada vez mais complexo universo compartilhado. Aliás, grande parte dos filmes também é assim. E, claro, Gavião Arqueiro não seria diferente. Eu já fiz as pazes com isso há muito tempo e tento apreciar esses degraus pelo que eles são, alguns excelentes, outros bons e alguns poucos mais fracos, como tudo na vida. A série focada em Clint Barton e que introduz Kate Bishop ao Universo Cinematográfico Marvel me ganhou desde os minutos iniciais pela sua simplicidade, sua atmosfera e, principalmente, pela absurda simpatia que é Hailee Steinfeld.

Ronin é um capítulo “cheio de coisas”, mas que, mesmo com pretensões grandiosas, começando com um prelúdio em 2018 com o “estalo” e o “blip” de Yelena Belova e terminando com a revelação de que o final boss é ninguém menos do que o Rei do Crime, mas não um qualquer e sim o de Vincent D’Onofrio, o mesmo da magnífica série do Demolidor (uma coisa que é absolutamente incrível no UCM é como eles conseguem sincronizar seus eventos – entendedores entenderão…), o que mais me chamou a atenção foi a prosaica conversa entre as legatárias dos mantos de Viúva Negra e Gavião Arqueiro dividindo um panela de macarrão com molho apimentado no apartamento semidestruído de Kate. Reparem que esse momento não tem grandes revelações – não para nós, espectadores – e nenhuma ação, mas eu poderia muito facilmente assistir um episódio inteiro só das duas tendo uma versão expandida dessa conversa.

A série, portanto, privilegia o “cotidiano”, o “normal”, mesmo que esse normal seja uma superespiã sentada à mesa com uma pretendente à super-heroína e é impressionante notar como ela consegue fazer isso tão bem, de maneira tão crível e gostosa. Ver Florence Pugh fazendo sotaque russo (uma graça, mas que não faz sentido algum se pensarmos bem) e muito claramente se divertindo na repetição de seu papel de Viúva Negra e Steinfeld continuando a acertar na mosca o tom de sua personagem, que mistura inocência, deslumbramento e defesa resoluta de seus ideais e das pessoas que idolatra simplesmente não tem preço, mesmo que o preço disso seja a trama rodar em falso, algo que é particularmente problemático se considerarmos que há apenas mais um episódio para a minissérie (ou temporada, não sei) acabar.

Mas esse problema não é tão sério assim justamente pela metáfora dos degraus da escada com que abri a presente crítica. Tudo faz parte de um pacotão maior que tem como objetivo criar mais galhos para serem desenvolvidos – como a já anunciada série solo da Eco – e, a essa altura do campeonato, nem faz muito mais sentido reclamar que arcos não serão fechados e coisas do gênero. Estamos, inevitavelmente, gostando ou não, diante de uma outra forma de se apreciar obras cinematográficas e televisivas e há que haver um ajuste de expectativas, o que de forma alguma significa aceitar passivamente qualquer coisa que o estúdio joga em nosso colo.

E isso me leva ao confronto de Clint, fardado como seu alter-ego assassino, contra Maya Lopez. Ao contrário do diálogo regado a macarrão das duas jovens, aqui temos um daqueles momentos que fazem a narrativa andar de verdade, com a revelação – mais do que esperada, claro – de que a morte de William Lopez não se deu pela espada selvagem de Ronin, havendo uma trama mais complexa e insidiosa por trás. No entanto, ironicamente, a pancadaria que leva a esse momento foi, na melhor das hipóteses, burocrática, com uma coreografia apenas passável que parece querer nos indicar que o importante não é a ação, mas sim a conversação, ainda que Echoes tenha provado que o showrunner Jonathan Igla, quando quer focar na pancadaria, sabe fazer a coisa.

Incomoda também que a importância do relógio Rolex provavelmente será uma revelação do último episódio – e eu não tenho muita esperança que seja algo realmente interessante – e que a série como um todo seja baseada em MacGuffins “de designer“, ou seja, um uniforme de ninja aqui, um relógio caro ali, mas a grande verdade é que isso encontra resguardo na proposta mais simples e pedestre – no bom sentido – que a série mostrou ter desde os primeiros segundos de projeção. É uma jornada despretensiosa, mas mais simpática do que provavelmente tinha o direito de ser e que serve como um daqueles agradáveis momentos semanais de respiro audiovisual. Já fico até triste em imaginar que tudo acaba em uma semana…

P.s.: O diálogo dos dois membros da Gangue do Agasalho na hora em que Clint marca o encontro com Lopez é absolutamente impagável. Jamais imaginaria que um roteiro da série – de qualquer série da Marvel – faria conexão com um filme de Wes Anderson, mas ele fez e, melhor ainda, fez todo sentido!

Gavião Arqueiro – 1X05: Ronin (Hawkeye, EUA – 15 de dezembro de 2021)
Criação e desenvolvimento: Jonathan Igla
Direção: Bert & Bertie (Amber Templemore-Finlayson, Katie Ellwood)
Roteiro: Jenna Noel Frazier
Elenco: Jeremy Renner, Hailee Steinfeld, Tony Dalton, Fra Fee, Brian d’Arcy James, Aleks Paunovic, Piotr Adamczyk, Linda Cardellini, Simon Callow, Vera Farmiga, Alaqua Cox, Zahn McClarnon, Florence Pugh, Ava Russo, Ben Sakamoto, Cade Woodward, Jolt, Clara Stack, Zahn McClarnon
Duração: 44 min.

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