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Crítica | Gavião Arqueiro vs. Deadpool

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

Leves Spoilers

Minissérie em 5 edições (um número #0, que serve como prólogo, mais 4 revistas com a trama principal), Gavião Arqueiro vs. Deadpool foi publicada originalmente nos Estados Unidos entre novembro de 2014 e março de 2015, e contou com roteiro de Gerry Duggan, o mesmo do ótimo one-shot A Morte do Wolverine: Deadpool & Capitão América (2014).

Se fosse unicamente pelo título, um leitor como eu, já escaldado por histórias questionáveis do Mercenário Tagarela (pelo menos nas minisséries), poderia torcer o nariz e achar que se tratava de mais um “Deadpool mata tudo” da vida, ou qualquer bagunça que Cullen Bunn tenha pensado em escrever para o personagem, mesmo que, segundo os meus caros Guilherme e Ritter, ele tenha feito um trabalho bacana em A Noite do Deadpool Vivo, sua sequência O Retorno do Deadpool Vivo e o “tie-in que não é tie-in” As Secretas Guerras Secretas de Deadpool. Mas Gavião Arqueiro vs. Deadpool é muito melhor. E não é uma emulação de Gerry Duggan para as loucuras de enredo de Cullen Bunn. Bem longe disso.

A trama começa no Dia das Bruxas e coloca Wade Wilson e sua filha Eleanor Camacho mais uma agente da S.H.I.E.L.D. chamada Emily Preston pedindo doces na porta de Clint Barton, o Gavião Arqueiro, que praticamente irrita as crianças pelo “tamanho pequeno divertido” dos doces que está distribuindo. Tudo parece normal até que eles partem para perseguir um hacker que possui informações muito importantes em um pen drive e que chamou a atenção da Gata Negra, que entre contatos perigosos e buchas de canhão que ela chama de “aliados”, dará muita dor de cabeça para Deadpool, o Gavião e a Gaviã Arqueira (Kate Bishop).

deadpool gaviao arqueiro

A história não só é muito bem conduzida como também mantém o tom pueril, nonsense e totalmente maluco de humor do Deadpool, colocando inúmeras referências sobre a relação do Piscina Morta com os Vingadores, os Novos Vingadores e falando de maneira rápida e inteligente sobre o atual momento da vida de Clint (temporariamente surdo), de Wade, Kate e do cotidiano do heroísmo em Nova York. O que mais impressiona aqui é a forma ágil e inteligente com que o autor coloca esses heróis/anti-herói em situações que já são esperadas, mas nunca abandonando problemas pessoais, neuroses, conflitos internos e culpas que, no final de todo o processo, precisam resolver consigo mesmo, sem clichês e sem apelar para o melodrama. É o espírito da Marvel em sua grande forma.

Além dessa abordagem madura e ao mesmo tempo despreocupada dos dois lados desses “defensores da cidade”, Duggan faz questão de não levar a vilã a sério demais e até na reta final da história, quando poderia escorregar para um possível arrependimento ou coisa do tipo, mantém o caráter de desapego da Gata Negra, as responsabilidades dos que salvaram o dia e a soma dos erros que cometeram e com os quais devem lidar.

O tratamento dado ao Gavião Arqueiro é o mais amargo, profundo e interessante da HQ, tanto porque respeita a configuração comportamental do personagem como porque adiciona ao enredo um contraste através da seriedade, o oposto da visão de Deadpool para as mesmas questões.

Matteo Lolli e Jacopo Camagni ilustram e finalizam a história com graça, apostando em uma arte sem grandes e intricados cenários e focando principalmente em ações de ângulo fechado e de preferência em quadros retangulares, evitando ao máximo páginas duplas ou ações de página inteira. A aparência final disso acaba sendo, por incrível que pareça, uma maior aproximação do leitor com os personagens, por vê-los tão de perto e com suas ótimas caras e bocas, especialmente dos dois gaviões em relação às atitudes do Deadpool. Isso acaba funcionando também para a diagramação que, pela escolha de abordagem artística, é mais simples, o que não quer dizer que não seja atrativa nem nada disso, basta olhar para as cenas de perseguição e ‘grande luta’ para se animar muito com a representação da dupla, que no meio de tudo isso ainda encontra espaço para fazer referência um famoso meme e a Freddie Mercury cantando Bicycle Race.

Exceto por uma pequena confusão narrativa na explicação depois da luta final e na repentina mudança de tom nos últimos quadros, esta história certamente garantirá um baita divertimento para fãs e não fãs de Deadool. E é mais um exemplo do que um bom roteirista pode fazer com um personagem como este.

Gavião Arqueiro vs. Deadpool (Hawkeye vs. Deadpool) — EUA, 2014 – 2015
Roteiro: Gerry Duggan
Arte: Matteo Lolli, Jacopo Camagni
Arte-final: Matteo Lolli, Jacopo Camagni
Cores: Cristaine Peter e Nick Filardi (apenas na edição #4)
Letras: Cory Petit
Capas: James Harren, Jordie Bellaire, Matthew Wilson, Cris Peter
30 páginas (cada edição)

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