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Crítica | GDLK

por Handerson Ornelas
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Na esteira de sucesso de séries documentais que a Netflix vem produzindo, GDLK (ou High Score, no título original) se promoveu com um marketing de documentário sobre a “história dos games”. Esse talvez seja seu maior erro, abrindo espaço para comentários e reviews na internet afirmarem que a série apenas arranha a superfíce da história dessa mídia, o que por si só não é mentira, mas demonstra uma enorme inocência e inexperiência com documentários de alguém que afirma tal ponto como demérito sem se aprofundar nas reais intenções da obra. GDLK se trata de uma série documental extremamente preocupada no fator humano da mídia games, consistindo em pessoas compartilhando suas experiências e paixão pelos games, com ênfase na parte criativa do desenvolvimento.

Narrada brilhantemente por Charles Martinet – a famosa voz do Mário – GDLK dedica cada episódio a um gênero, tema ou período da história dos games, focando na experiência dos desenvolvedores e game designers na busca por executarem suas ideias. Nesse percurso, fica bastante claro que a série, apesar de possuir um conteúdo informativo interessantíssimo, almeja muito mais construir uma carta de amor aos games ao apresentar como essa mídia moldou e segue moldando vidas, do que se ater a simples exposição histórica. Ao longo de seus 6 episódios, um catálogo inspirador de pessoas é apresentado, acertando principalmente por não se reservar aos padrões “homem cis-hetero branco” que se pode imaginar do gênero  – é fato que o cenário dos games ainda é um dos mais conservadores que existem – mas por explorar diferentes visões culturais.

Cada entrevistado de GDLK consegue exalar um carisma absurdo, muito em parte pelo excelente trabalho de montagem e edição da série, extremamente bem humorada e fazendo uso de ótimas sequências de animação pixelada. Entretanto, por mais encantadora que seja a aura criada pelo documentário, ele também possui alguns problemas de foco. Com algumas exceções, todo episódio dedica tempo a compartilhar a história de um jogador que venceu o primeiro campeonato/torneio do jogo sendo abordado no episódio, algo que se por um lado busca estreitar relação com o título original da série (High Score, algo como “pontuação máxima”), por outro se torna uma estrutura repetitiva e previsível ao avançar dos episódios, além de se afastar do foco nos desenvolvedores (bem mais interessante).

Um dos pontos mais fortes do documentário é sua sábia escolha de dar holofote, principalmente, aos underdogs da história dos games, as figuras que entraram totalmente no anonimato, mas que definiram o futuro da mídia. E dentro desse cenário, entrega um viés de representatividade bastante interessante sem se deixar entregar a meros intuitos lacradores. O negro que inventou o primeiro cartucho de videogame, a mulher responsável por alavancar a Nintendo nos EUA, a jogadora trans que venceu o primeiro campeonato de e-sports, a lista de figuras fascinantes é longa. Mas a melhor delas é reservada ao episódio 3 (RPG), ao explorar a brilhante história de Gayblade, o primeiro game LGBT já feito e que se tornou uma lenda de relíquia perdida, motivando uma busca incessante por alguém que ainda tivesse uma cópia do jogo.

Muito mais interessante que condensar a longa história dos games em poucas horas é apresentar personagens fascinantes que fizeram parte dela. É exatamente isso que GDLK compreende e sabiamente escolhe fazer, ainda optando por abrir espaço para figuras esquecidas que contribuíram imensamente para o futuro dessa mídia. No fim, se trata muito mais de uma obra documental sobre pessoas se manterem firmes a seus anseios e ideias do que sobre uma mídia em específico.

GDLK (High Score, EUA – 19 de agosto de 2020)
Criador: France Costrel
Direção: William Acks, Sam LaCroix, France Costrel, Melissa Wood
Disponibilidade no Brasil: Netflix
Duração: 37-47 min (6 episódios)

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