- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e séries do universo e, aqui, dos quadrinhos.
Reclamei que Sam sequer apareceu no episódio anterior, mas fiquei feliz que ele, aqui, ganhou o destaque que merecia não ajudando seus amigos a tirar Cate da prisão, mas sim ao tentar voltar para sua família que o recebe com hesitação e medo, mas com suficiente amor no coração para insistir no desafio que é ter um filho com problemas de saúde mental que, ainda por cima, é superpoderoso. Ryan Hollyman e Lisa Ryder, respectivamente como Ted e Janet Riordan, fazem um bom trabalho de nos convencer com a rapidez necessária dos desafios que eles enfrentaram e ver mãe e filho no balanço do jardim finalmente reconciliando-se foi um momento bonito, especialmente porque o roteiro fez o favor de tratar os transtornos mentais não como decorrentes do Composto V, mas sim algo intrínseco a Sam e parte de sua família.
Esse é o tipo de abordagem que consegue diferenciar Gen V até mesmo da série mãe, pois é raro ver questões de saúde sérias em adolescentes serem tratadas com sobriedade e seriedade, sem invencionices e saídas fáceis, mas sim como parte inexorável da vida deles como elas efetivamente são no mundo real. Não adoro o artifício de séries antigas que fazem desse tipo de coisa um tema repetido ao longo de todo o episódio, com reflexos em outros personagens, já que essa mesma questão é ecoada em Emma e em Marie sem necessidade, já que essa exploração já havia acontecido antes. Mesmo assim, talvez seja bom relembrar que a série não está tratando de jovens com transtornos mentais causados por um agente químico externo, mas sim, simplesmente, de jovens com transtornos mentais e ponto final.
O que funcionou menos em As Crianças Não Estão Nada Bem é a incapacidade de Marie, Emma e Jordan de compreenderem, a essa altura do campeonato, que o reitor Cipher não é alguém com quem se possa brincar. Se havia alguma dúvida disso, ela tinha que ter sido dissipada quando ele revelou ser capaz de controlar outras pessoas como se fossem marionetes durante a luta entre Marie e Jordan. O envio de Cate para Elmira, alardeado com pompa e circunstância por Cipher, era tão obviamente uma armadilha para todos os demais, que chega a ser decepcionante que eles caiam na esparrela tão facilmente, basicamente criando um plano em 10 minutos e saindo para executá-lo como se fosse a coisa mais fácil do mundo. E esse jogo de gato atrás do rato, com Cipher pensando em 15 jogadas a frente, continua dentro da própria prisão, já que tudo o que ele queria era forçar Marie a subir alguns patamares na manipulação de seu poder, ao salvar sua irmã da morte certa. Claro que tudo isso mostra o quanto Cipher é ardiloso e frio, mas não era necessário que isso fosse feito às expensas da inteligência da trinca – e depois quadra – central de personagens.
Mesmo que Marie seja a grande razão de ser para a presença de Cipher na Universidade Godolkin e, sendo sincero, para toda a temporada, e que a importância de seus poderes ainda esteja envolta em mistérios, tenho para mim que é o próprio Cipher a melhor coisa da temporada até agora. Não só Hamish Linklater vem compondo um personagem intrigante, como tudo o que gravita ao seu redor tem uma aura envolta em sombras que vem funcionando muito bem para impulsionar a história, com a doentia transa dele com Mana Sábia (Susan Heyward) diante do corpo queimado do “pai” só pontuando essa afirmação. De um lado tem o projeto que resultou no nascimento de Marie, claro, mas, do outro, tem o suposto pai de Cipher na câmara hiperbárica e a natureza de seus poderes que, pelo visto, não resultam de Composto V. Pode ser até um “truque sujo” da produção inventar esse messianismo de Marie, mas eu diria que esse é o coração da série derivada e que Cipher é como o fio guia. A única coisa que eu espero é que a resolução desse mistério tenha impacto em The Boys, com Marie eventualmente tendo participação efetiva na série principal, potencialmente ajudando na derrocada do vilão, algo que parece ser justamente o que a alternância de séries promete.
As Crianças Não Estão Nada Bem, portanto, é mais um sólido capítulo do segundo ano de Gen V que sabe lidar bem com seus problemáticos personagens sem facilitar as coisas para eles e com toda a charada que envolve Cipher e Marie que permanece tão interessante quanto no primeiro episódio. Como aconteceu com o primeiro ano da série, estamos diante de uma temporada que sabe cultivar e prender a atenção do espectador a cada novo episódio a ponto de a espera de uma semana ser até torturante, mas no bom sentido, já que esse negócio de série que é derramada uma temporada inteira por vez não está com nada.
Gen V – 2X05: As Crianças Não Estão Nada Bem (Gen V – 2X05: The Kids Are Not All Right – EUA, 1º de outubro de 2025)
Desenvolvimento: Craig Rosenberg, Evan Goldberg, Eric Kripke
Direção: Karen Gaviola
Roteiro: Lauren Greer
Elenco: Jaz Sinclair, Lizze Broadway, Maddie Phillips, London Thor, Derek Luh, Asa Germann, Sean Patrick Thomas, Hamish Linklater, Susan Heyward, Ryan Hollyman, Lisa Ryder
Duração: 48 min.
