- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e séries do universo e, aqui, dos quadrinhos.
A segunda temporada de Gen V tem diversas qualidades, mas nenhuma delas barra a questão do mistério sobre Cipher, o novo reitor da Universidade Godolkin, vivido por Hamish Linklater. E não estou falando que esse mistério é excelente em função de sua revelação aqui, no penúltimo episódio da temporada, mas sim porque, desde o começo, ele tem sido intrigante, cativante e com uma atuação exemplar de Linklater. Tudo que se relaciona com Cipher foi imediata e inafastavelmente – pelo menos para mim – um atrativo daqueles que não dá para desviar os olhos, com a queima lenta primeiro sobre suas intenções, depois se ele tem ou não poderes e, agora, quem exatamente ele é, sendo material de primeira que, independente de qualquer outro aspecto, faz valer a temporada.
E não poderia haver um clímax melhor para o arco narrativo de Cipher. Sim, pelo menos três leitores aqui do site já haviam deduzido que a pessoa que achávamos que era Cipher nada mais era do que uma inocente marionete do Thomas Godolkin desfigurado que vive em uma câmera hiperbárica, mas, sem desmerecê-los, tenho certeza de que essa conexão foi feita também por metade da internet (não tenho provas, claro, pois eu passo longe de redes sociais e de teorias sobre o que assisto), só que essa sequer é a razão pela qual Semana Infernal é um baita episódio que prepara o fim da temporada. A razão está em toda a construção lógica que, em retrospecto, percebemos que foi feita cuidadosamente pelos roteiros e que chega ao encaixe final pelo texto escrito por Thomas Schnauz, que também dirigiu o episódio. A cadência lógica é invejável. Doug Brightbill, controlado por Cipher/Godolkin, assume a reitoria da faculdade, atrai Marie de volta, treina Marie para ela desenvolver seus poderes mais do que especiais não exatamente porque ela é uma espécie de messias, mas sim porque ela é a única que pode curar o grande vilão que quer dizimar a comunidade de supers, expurgando aqueles que têm poderes inúteis, algo que a lenta manipulação feita ao longo de todos os episódio leva a cabo aqui.
É como ver a montagem de um quebra-cabeças em que absolutamente todas as peças vão sendo calma e logicamente inseridas em seus encaixes sem a menor hesitação, formando um quadro belíssimo de manipulação vilanesca que chega a dar um frio na espinha imaginando o sofrimento (talvez de décadas) de Doug e a paciência de Jó por parte de Godolkin, com todos ao redor – inclusive, ao que tudo indica, mas pode ser que não, o próprio Stan Edgar – caindo como patinhos, entrando nesse jogo com muitas variáveis, mas todas elas controladas pelo marionetista-mor. A direção de Schnauz, por sua vez, consegue construir toda a tensão necessária, seja com o conceito genial de que Polarity, para evitar “possessões”, precisa saber quem será o próximo possuído, o que abre espaço para um confronto excelente no ginásio, seja com aquele momento que o espectador sabe que vai chegar, mas que fica tenso mesmo assim, com Marie então curando o corpo marcado de Godolkin (Ethan Slater) somente para ele se levantar já completamente vilanesco, com apenas Cate conseguindo deduzir o que diabos aconteceu ali. E, claro, ver Doug no chão, implorando parra Polarity não matá-lo, foi outro ótimo momento, pois percebe-se ao mesmo tempo sua felicidade por finalmente estar livre do controle de Godolkin e seu desespero para ter a chance de usar o tempo que lhe resta para finalmente viver sua vida (Linklater arrasou nessa cena, vale dizer).
Se, antes, achávamos que Homelander e Marie eram os mais poderosos supers da Terra, agora eles provavelmente têm competição nessa prateleira de cima no ranking de superpoderosos, pois Cipher/Godolkin tem, em princípio, o poder para fazer do próprio Homelander uma marionete. Sendo muito sincero, meu único receio é que o último episódio de Gen V mate tanto Godolkin quanto Cate, o que seria um desperdício enorme, o primeiro por não ter atingindo seu potencial destrutivo e a segunda por ter acabado de encontrar sua redenção ao se negar a controlar os amigos mesmo a pedido de Marie e com a promessa de ela reverter os danos causados ao seu cérebro. Mas, se eu tivesse que apostar, Godolkin e uma Cate curada terão algum tipo de embate final que acabará com os dois (ou três, pois Polarity também tem chances de morrer) de maneira que só Marie de realmente relevante seja “transportada” para a última temporada de The Boys. Eu espero estar enganado, mas, se eu não estiver, fica a torcida para que o encerramento da temporada – ou da série, pois não sei se Gen V funciona sem The Boys como pano de fundo – seja do nível que vimos aqui.
Gen V – 2X07: Semana Infernal (Gen V – 2X07: Hell Week – EUA, 15 de outubro de 2025)
Desenvolvimento: Craig Rosenberg, Evan Goldberg, Eric Kripke
Direção: Thomas Schnauz
Roteiro: Thomas Schnauz
Elenco: Jaz Sinclair, Lizze Broadway, Maddie Phillips, London Thor, Derek Luh, Asa Germann, Sean Patrick Thomas, Hamish Linklater, Keeya King, Ethan Slater
Duração: 41 min.