- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e séries do universo e, aqui, dos quadrinhos.
No final de minha crítica do excelente Semana Infernal, afirmei que não gostaria que Thomas Godolkin morresse agora, mas apostei que não só ele, com também Cate e Polarity seriam eliminados da série. Fiquei feliz em só acertar uma de três previsões, ainda que meu acerto não passe de uma vitória de Pirro, já que o mais interessante – e menos desenvolvido nessa forma – dos três acabou tendo sua cabeça explodida por uma raivosa e vingativa Marie Moreau. Mas seguir esse caminho mais viajado em finais de série faz absolutamente parte do jogo. Godolkin seria disruptivo demais para a vindoura última temporada de The Boys, pois a absorção dos jovens heróis é mais gerenciável, pois eles podem muito facilmente ficar em segundo plano quase o tempo todo, só vindo para a superfície em momentos importantes e mesmo assim só para constar. Não é o que eu gostaria, mas é o que acho que acontecerá, de maneira que o foco da narrativa na série-mãe permaneça em seus personagens originais.
Mas que foi um desperdício matar Godolkin, continuo achando que foi, especialmente em um episódio que, como Trem-Bala, corre desesperadamente até a linha de chegada depois de os sete anteriores terem trabalhando todo o mistério de Cipher/Godolkin de maneira compassada, quase em queima lenta, inteligente fazendo uso de mistérios em cima de suposições. Mesmo sendo perfeitamente compreensível o grande vilão ir com toda essa sede ao pote quase que de imediato considerando que ele passou décadas vivendo por intermédio de outros enquanto seu corpo jazia paralisado, queimado e em um caixão de vidro, o que leva Mana Sábia a sabotar seu plano libertando Polarity, teria sido sensacional se, no mínimo, a produção tivesse dado tempo ao tempo e mantido o mesmo tipo de contenção narrativa de antes, talvez esticando o episódio em pelo menos dois ou dobrando a duração desse, ainda que o ideal fosse permitir que o vilão continuasse de alguma forma vivo (ficarei surpreso – positivamente – se isso tiver sido feito na forma de transferência de consciência para algum dos alunos ali presentes, mas não creio que ele tenha esse tipo de poder).
Seja como for, mesmo com o “tempo comprimido” do episódio, a estrutura do texto de Justine Ferrara e Michele Fazekas manteve-se intacta e de alta qualidade, com um Godolkin crescentemente mais insano e obsessivo em sua corrida atrás do poder absoluto, receita clássica para o fracasso. Apesar de ter adorado o “Ânus de Troia (tenho certeza que Homero teria aplaudido!), fiquei um tanto quanto cabreiro com as sucessivas reviravoltas da categoria do óbvio ululante telegrafado, como a entrada triunfal de Marie Moreau na arena depois de uma ajuda de Cate devidamente curada, seguida de seus amigos sendo defecados, o controle de Marie por Godolkin e, por último Polarity tendo também sua entrada triunfal. E, vale notar, esse problema só existe porque a direção de Steve Boyum, obviamente por ordem (ou seria controle mental?) de Eric Kripke e companhia, teve que fazer em minutos o que, em um mundo ideal, deveria ter sido bem mais espaçado. Vou parecer um disco quebrado, mas o controle de diversos supers ao mesmo tempo também teria se beneficiado demais de calma e paciência nas demonstrações do poder crescente do vilão, pois tudo o que vemos é ele fazer como um supercarro e acelerar de 0 a 100 km/h em menos de três segundos, sem que o espectador seja brindado com as etapas que levam de um ponto ao outro.
A presença de Mana Sábia, por outro lado, foi bem trabalhada, assim como o uso providencial – mas lógico – de Black Noir II (Nathan Mitchell), mesmo que eu tenha ficado com pena do pobre do Doug. E o epílogo com o recrutamento de Marie e os Renegados por Luz-Estrela e Trem-Bala tenha sido simpático, ainda que tenha tornado evidente que ninguém realmente importante morreu na temporada do lado dos “mocinhos”, com exceção de Andre, por razões óbvias (e tristes), o que esvaziou um pouco a tensão da temporada como um todo, especialmente em um universo em que mortes acontecem o tempo todo das maneiras mais horríveis. Talvez fosse o caso de termos visto uma eliminação chocante e traumática, talvez por intermédio de uma Marie controlada por Godolkin, mas a produção decidiu jogar seguro não sem bem o porquê.
Mas Troia, mesmo com evidente potencial para ter sido espetacular, continua sendo um ótimo encerramento de temporada que encerra com competência todo um arco narrativo de um dos melhores vilões com superpoderes que já tive o prazer de ver no audiovisual e prepara, com categoria, a temporada final de The Boys. Gen V despede-se com a criação do primeiro supergrupo “do bem” da franquia na TV e só nos resta agora esperar que ele seja bem utilizado e não fique, como desconfio que ficará, no banco de reservas para entrar no jogo só por alguns segundos aqui e ali.
Gen V – 2X08: Troy (Gen V – 2X08: Trojan – EUA, 22 de outubro de 2025)
Desenvolvimento: Craig Rosenberg, Evan Goldberg, Eric Kripke
Direção: Steve Boyum
Roteiro: Justine Ferrara, Michele Fazekas
Elenco: Jaz Sinclair, Lizze Broadway, Maddie Phillips, London Thor, Derek Luh, Asa Germann, Sean Patrick Thomas, Hamish Linklater, Keeya King, Ethan Slater, Wyatt Dorion, Alexander Calvert, Maia Bastidas, Georgie Murphy, Susan Heyward, Nathan Mitchell, Erin Moriarty, Jessie T. Usher
Duração: 47 min.
