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Crítica | Geração X

por Ritter Fan
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Sabe aquela pergunta clássica sobre que poder você escolheria ter se pudesse ter qualquer um? Pois bem, depois de ver Geração X, telefilme produzido pela Fox para ser o piloto de uma série de telefilmes sobre o grupo mutante homônimo da Marvel Comics que, ainda bem, nunca viu a luz do dia, não tenho dúvidas em escolher o poder de “desver”. Foram 87 minutos dolorosos que me fizeram refletir sobre como a mesma produtora conseguiu contribuir, quatro anos depois, para o renascimento do interesse sobre filmes de super-heróis com X-Men: O Filme.

O piloto em formato de longa-metragem usa dois mutantes recém-descobertos, Jubilation “Jubileu” Lee (Heather McComb cuja escalação, à época, causou frisson, já que a personagem dos quadrinhos é descendente de asiáticos) e Angelo “Derme” Espinosa (Agustin Rodriguez), que são recrutados por Emma Frost, a Rainha Branca (Finola Hughes) e Sean Cassidy, o Banshee (Jeremy Ratchford), que são os diretores da Escola Xavier para Estudantes Superdotados com veículos para que o espectador aprenda sobre seus poderes e sobre a escola, além das personalidades de seus diretores, além de apresentar os demais alunos, Monet (Amarilis), Mondo (Bumper Robinson), Buff (Suzanne Davis) e Refrax (Randall Slavin), os dois últimos inventados para a série em substituição a Câmara e Escalpo, já que não havia orçamento para emular os poderes desses dois na telinha. Paralelamente, descobrimos a existência de  Russell Trask (Matt Frewer), uma versão idiota e histriônica de Doc, da Trilogia De Volta para o Futuro, que envergonharia Sportacus, de LazyTown (sim, isso me veio à cabeça agora para vocês verem o efeito que esse filme teve em mim…), que quer mutantes para fazer experiências nazistas – para o “bem do mundo” – com eles.

Os valores de produção são paupérrimos do começo ao fim, não havendo nada que salve a não ser, talvez, a tentativa heroica de Eric Blakeney, o roteirista, de manter uma razoável semelhança com a equipe original criada por Scott LobdellChris Bachalo. O problema é que isso significou, para a direção de arte, conseguir figurinos assustadores de ruins e para a equipe de efeitos visuais colocar em tela efeitos práticos e “digitais” que não passam pelo mínimo escrutínio do fã menos exigente do mundo, ou seja, o mesmo tipo de gente que consegue ver algum valor naquela novela abissal sobre mutantes produzida pela Record. Jubileu é reduzida a uma portadora do gene X que solta estalinhos e Derme alguém que acabou de emagrecer 200 quilos e ficou com pele sobrando para todo lado aguardando uma intervenção de algum cirurgião plástico. E os demais mutantes não têm melhor sorte, talvez com exceção da Rainha Branca e Banshee, já que a manifestação de seus poderes é mais trivial, por assim dizer.

E, no meio de todo esse horror, Jack Sholder, na direção, age como se fosse um cineasta renomado (ele até fez Noite de Pânico, que é um slasher trash clássico interessante) e começa a tentar sofisticar o uso da câmera com ângulo holandês e plongées que, ao contrário do efeito desejado, retira toda a seriedade que uma mutante vestida de prateado constantemente discutindo com um irlandês de sotaque carregado que não quer saber de nada poderia ter. E, como todo filme com direção fraca e elenco próximo do amador, as atuações são enterradas debaixo de exageros como o já citado histerismo irritante e caricatural de Matt Frewer – de longe o ator mais experiente do longa – ou a pseudo-rebeldia de Jubileu que mais parece uma criança cujos pais se recusaram a comprar um doce.

Considerando que a CBS tentou por três vezes em dois anos seguidos emplacar séries do Doutor Estranho e do Capitão América por intermédio de longas, com resultados desastrosos, não é surpresa alguma que a Fox tenha tentado o mesmo com mutantes. A surpresa vem mesmo pela produtora ter tentado apenas uma vez e, apenas quatro anos depois, ela mesma ter efetivamente catapultado todo o Universo Cinematográfico Mutante com direito a diversos filmes e duas séries de TV (uma delas, Legion, absolutamente sensacional) a partir do inovador longa de 2000. Mesmo assim eu reivindico meu poder de desver essa atrocidade chamada Geração X.

Geração X (Generation X, EUA – 1996)
Direção: Jack Sholder
Roteiro: Eric Blakeney (basedo em criação de Scott Lobdell e Chris Bachalo)
Elenco: Finola Hughes, Jeremy Ratchford, Amarilis, Heather McComb, Bumper Robinson, Agustin Rodriguez, Suzanne Davis, Randall Slavin, Matt Frewer
Duração: 87 min.

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