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Crítica | Ghost in the Shell: The New Movie

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

O sucesso da primeira adaptação em anime de The Ghost in the Shell abriu as portas para inúmeras obras baseadas no mangá de Masamune Shirow. Algumas explorando outros aspectos da mitologia criada pelo mangaka, enquanto outras, como MatrixMetal Gear Solid, simplesmente se inspiraram no anime ou mangá. Arise, uma série e conjunto de OVAs (original video animations) para televisão produzida pela Production I.G é uma dessas obras, que funcionam como uma espécie de prelúdio para o filme de 1995. Ghost in the Shell: The New Movie funciona como o desfecho desse seriado, mas pode ser visto separadamente sem o menor problema, contando com um início, meio e fim que atuam como algo fechado em si próprio.

A trama tem início quando a Major Motoko Kusanagi é contratada pelo governo, junto e sua equipe. Sua primeira missão consiste em resolver uma crise envolvendo inúmeras pessoas sendo mantidas como reféns por um grupo de terroristas. Durante a tarefa, contudo, o primeiro ministro japonês é assassinado através de uma bomba, que estoura durante uma reunião secreta na qual o político fazia parte. Cabe à major, ao lado de seus companheiros, aliados à Seção 9, descobrir quem está por trás da morte do ministro.

Ao contrário de Ghost in the Shell e sua sequência, A Inocência, que contam com uma abordagem mais filosófica, The New Movie nos entrega um filme de ficção científica mais focado nos questionamentos acerca do próprio avanço da tecnologia, colocando a obsolescência das próteses e implantes, que substituem partes do corpo de pessoas nesse universo, em xeque. A grande problemática gira em torno da impossibilidade de indivíduos já com partes robóticas terem seus corpos melhorados ainda mais, em virtude da compatibilidade dos novos sistemas com os antigos. Certamente o longa pode não contar com a mesma profundidade em termos filosóficos, mas traz uma questão bastante válida dentro dessa mitologia e, mais importante, não apenas repete o que veio antes, estabelecendo, portanto, seu valor próprio.

O grande problema dessa nova adaptação do mangá está em sua montagem, que faz uso de constantes elipses sem nos preparar sequer um pouco. Repentinamente nos vemos em uma situação completamente diferente e precisamos verdadeiramente nos esforçar para entender o que está acontecendo. Para uma obra com história relativamente simples isso se demonstra um grande deslize, visto que não são as ideias complicadas que prejudicam nossa imersão e sim os aspectos técnicos do filme. A impressão passada é a de que inúmeros cortes foram feitos até chegarmos ao produto final, criando, assim, buracos na narrativa, muitos dos quais, são deixados em aberto.

Felizmente, as sequências de ação conseguem nos distanciar desse fator, rivalizando com aquelas da animação de 1995. A fluidez dos movimentos dos personagens é verdadeiramente algo notável e a direção de Kazuchika Kise e Kazuya Nomura sabe controlar exatamente a duração de cada plano a fim de não deixar tudo extremamente confuso. Constantemente mudando o foco entre os personagens, temos uma ideia mais completa do cenário e realmente sentimos como se muitas coisas estivessem acontecendo ao mesmo tempo. É notável, também, a integração de Motoko com os outros membros da equipe, cada um deles demonstrando ser essenciais para o cumprimento das missões.

Por outro lado, a arte dispensa o refinamento dos longas de 1995 e 2004, que utilizavam a computação gráfica para fluidizar os movimentos e construir o cenário cyberpunk à sua volta. O que vemos aqui esquece um pouco esse subgênero da ficção científica, optando por ambientes mais limpos, pasteurizados, representando um futuro, sim, dominado pelas corporações, mas que não transmite a mesma angústia de seus antecessores. O mesmo vale para o traço dos personagens, que respeitam os originais de Masamune Shirow, mas caem na normalidade do que estamos acostumados em relação aos animes de hoje em dia, com uma colorização, feita no computador, que soa como produtos saindo de uma grande linha de produção.

Mesmo com tais deslizes, porém, Ghost in the Shell: The New Movie consegue ter seus pontos positivos colocados em maior evidencia que seus negativos, representando uma bela adição à essa mitologia criada por Shirow em seu mangá. Explorando mais o lado tecnológico que o espiritual ou filosófico, o filme certamente será apreciado pelos fãs da franquia, funcionando plenamente como uma obra fechada em si própria, por mais que deixe o gancho para o clássico moderno de 1995.

Ghost in the Shell: The New Movie (Kôkaku Kidôtai) — Japão/ EUA, 2015
Direção:
 Kazuchika Kise, Kazuya Nomura
Roteiro: John Burgmeier, Clint Bickham, Tow Ubukata (baseado no mangá de Masamune Shirow)
Elenco: Maaya Sakamoto, Ken’ichirô Matsuda, Ikkyu Juku, Kazuya Nakai, Kenji Nojima, Mayumi Asano, Megumi Han
Duração: 100 min.

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