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Crítica | Ghostbusters: Mais Além

Mais aquém seria mais preciso.

por Ritter Fan
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A fraquíssima primeira continuação de Os Caça-Fantasmas, fenômeno pop dos anos 80, já havia demorado mais do que o normal para uma franquia desse nível de sucesso, o que fez com que o terceiro longa ficasse em processo de gestação por décadas a fio sem caminhar muito para a frente até o reboot gender bender de Paul Feig que, mesmo com a desnecessária e histérica polêmica ao redor (ou talvez por causa dela), reviveu o interesse pela franquia. O resultado foi uma continuação/remake/legado/homenagem por Jason Reitman, filho do diretor original, que conta com poucos, mas ótimos filmes em seu currículo, e que segue a escola de Star Wars: O Despertar da Força.

E que escola é essa? Simples. A escola que determina que, para reacender franquias de uma certa idade para uma nova geração, é necessário jogar seguro e basicamente refazer a obra original, mas com “pequenas diferenças” e reunindo o novo e o antigo. Ou seja, a escola da preguiça milimetricamente calculada para maximizar o retorno financeiro. A desvantagem de Os Caça-Fantasmas é que a mitologia é… digamos… quase que completamente inexistente, no mínimo infinitamente menos interessante do que a da galáxia muito, muito distante, o que dificulta o trabalho de base. Por outro lado e talvez tendo isso em mente, Reitman, que co-escreveu o roteiro com Gil Kenan, acrescenta um fortíssimo elemento de homenagem ao saudoso diretor, roteirista e ator Harold Ramis, falecido em 2014 e que viveu o introspectivo cientista Egon Spengler, líder da equipe original de caçadores de fantasmas, o que acaba dando azo à criação de uma ponte mitológica à história que, mal ou bem, reúne o “vazio” de décadas desde o primeiro longa (o filme não desdiz, mas solenemente ignora tanto o segundo filme quanto o reboot, curiosamente, por outro lado, pegando emprestado material do videogame de 2009, à época considerado por Dan Aykroyd como essencialmente o terceiro filme).

E o elemento “homenagem” não é um detalhe no longa. Muito ao contrário, ele faz parte da infraestrutura narrativa aqui, já que o filme começa com a morte de Egon em uma fazenda cercada por um milharal pelas mãos de uma ameaça fantasmagórica misteriosa, o que abre espaço para que a narrativa legatária, de passagem de bastão, comece, mas que não perde de vista o personagem clássico em momento algum. E o retorno dos Caça-Fantasmas começa quando a falida Callie Spengler (Carrie Coon), filha de Egon há décadas abandonada pelo pai, ao se ver sem opção, acaba se mudando para a fazenda no meio do nada com lugar nenhum que herda, levando a tiracolo seus filhos Trevor (Finn Wolfhard), o típico adolescente reclamão e de hormônios saltitantes, e Phoebe (Mckenna Grace), basicamente a versão feminina e bem jovem do avô, inclusive em aparência. Não demora e Phoebe faz amizade com seu colega de escola Podcast (Logan Kim) e Trevor se enamora com sua colega de trabalho Lucky (Celeste O’Connor), com o professor/sismólogo/curioso/fã dos Caça-Fantasmas originais Gary Grooberson (Paul Rudd) juntando-se ao grupo como interesse romântico de Callie.

Curiosamente, apesar da presença carismática de Rudd e de Coon, que são desperdiçados completamente, o longa é das crianças, mais especificamente de Mckenna Grace como Phoebe, já que é ela que, aos poucos, vai desvendando os mistérios da herança do avô e a ameaça que o matou e que, no processo, ganha mais tempo de tela, fazendo com que todos os demais não passem de coadjuvantes, especialmente os adultos. Chega a ser até curioso como Trevor é basicamente deixado de lado, não sendo mais do que o motorista do grupo, ressuscitando o combalido Ecto-1 e, mais ainda, como, mais uma vez, temos um personagem negro – no caso Lucky – que “entra” na equipe meio que de supetão, como o token black guy, de forma não muito diferente de como Winston (Ernie Hudson) ingressou na equipe original, em uma indesculpável ironia do destino (que a segunda cena pós-créditos até tenta corrigir, mas, por sua característica de apêndice, fica longe de conseguir).

No entanto, como disse no começo, se o espectador conhecer o primeiro filme, sabe exatamente – cada detalhe! – como Mais Além se desenvolve, o que pode dar aquela sensação de um lugar quentinho e familiar para o longa, mas que também deixa transparecer a mais completa aversão à riscos aqui. Com exceção das idades (os personagens são mais novos e o equipamento é mais velho) e da localização geográfica (Nova York é trocada pelo interior americano), tudo segue o roteiro original de Aykroyd e Ramis, fazendo com que o filme caminhe quase que exclusivamente com base em nostalgia e nas para lá de intrusivas referências para o fã apontar para a tela e dizer “olha lá o/a [preencher com a referência]”. E isso não é um elemento negativo por si só, que fique claro, mas é sem dúvida um tanto quanto frustrante por nada verdadeiramente novo ser oferecido (há até um fantasma que é a versão azul do Geleia) ao espectador.

Claro, há as participações especiais esperadas (não leiam a ficha técnica abaixo se não quiserem saber nada) e há as obrigatórias cenas pós-créditos (são duas!) que estabelecem o potencial futuro da franquia, mas, em seu conteúdo mesmo, que é o que importa, o que se sobressai é unicamente a questão da citada homenagem à Harold Ramis, pois os personagens novos são apenas arquétipos que são o que são, sem qualquer desenvolvimento, e a história – que, vamos combinar, quase não tem fantasmas – é pouco imaginativa mesmo que a intenção tenha sido repisar o material anterior. No final das contas, há talvez muita diversão para os saudosistas principalmente, mas se tem uma coisa que Mais Além não faz é ir “mais além” do que o básico.

Ghostbusters: Mais Além (Ghostbusters: Afterlife – EUA/Canadá – 2021)
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Gil Kenan, Jason Reitman (baseado em personagens criados por Dan Aykroyd e Harold Ramis)
Elenco: Carrie Coon, Finn Wolfhard, Mckenna Grace, Paul Rudd, Logan Kim, Celeste O’Connor, Bokeem Woodbine, Marlon Kazadi, Sydney Mae Diaz, Tracy Letts, Josh Gad, J. K. Simmons, Olivia Wilde, Harold Ramis, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Annie Potts, Sigourney Weaver
Duração: 124 min.

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