Eu venho sendo provado, massacrado e negativamente desafiado pelas forças kaijuísticas do Universo, só pode. Desde o primeiro semestre de 2025, com a terrível saga Godzilla vs. Marvel, tenho sido condenado a ler e a escrever sobre histórias do lagartão atômico descendo a porrada em super-heróis (o que, num primeiro momento, seria algo fantástico de fazer), mas em histórias que não valem a pena. Na maior parte das vezes, a minha pergunta central tem sido a respeito do propósito dessas criações. Um leitor metido a espertão pode dizer, sem pensar: “ué, o propósito é se aproveitar de um hype para vender revistinha!“. Sim. Isso é o óbvio ululante. Meu questionamento vai para um outro caminho. Eu tento entender qual o caminho tomado pelos roteiristas e mesmo pela editoria da minissérie em questão, buscando uma explicação para a criação do projeto e, principalmente, para as problemáticas, desenvolvimento e conclusão dessas histórias. Até agora, não consegui chegar a resposta alguma. O que não é uma surpresa.
As cinco edições que formam a minissérie Godzilla Destrói o Universo Marvel me fazem repetir a ladainha de sempre, talvez com umas poucas adições: as revistas trazem um princípio geral bem interessante; possuem momentos isoladamente bons; algumas cenas de batalha muito legais de acompanhar (a luta do Hulk contra Godzilla, aqui, é sensacional!); mas todo o enredo surge num ponto estranhamente enigmático, atravessa a dúvida e a falta de sentido em todas as edições e termina concluindo coisa nenhuma, além de rir da nossa cara e abrir a possibilidade de continuação, claro. Chega a ser desrespeitoso o nível de construção de projetos assim. E vejam que eu sou o maior defensor de que produções com kaijus devem focar nessas criaturas e destacar as lutas e a destruição acima de tudo! Esse louvor ao kaiju, contudo, precisa ter uma “razão de existir“, senão a própria presença de um personagem tão legal quanto Godzilla se perde. Vejam aqui, por exemplo: os escravos do Toupeira encontram uma parede de vibranium. Por algum motivo (de uma forma que, aparentemente, nem os roteiristas sabem), a instabilidade das moléculas desse vibranium despertou o Godzilla com uma ira imensa. E é isso. Está bom pra vocês?

O que se destaca, nessa série, para além do roteiro medíocre, é a arte e as brincadeiras com condições já bem conhecidas da Casa das Ideias, envolvendo particularidades do Quarteto Fantástico, do Pantera Negra e dos X-Men, que é quem tem os melhores encadeamentos na história. Em dado momento da leitura, tentei fazer com que a falta de sentido do enredo não me impedisse de curtir as partes boas do projeto, e talvez por isso eu tenha terminado a quinta edição achando que toda a saga foi “apenas medíocre“. Em ocasiões menos fofinhas de coração e humor, acredito que a percepção geral não seria muito diferente daquela que tive na maioria das edições de Godzilla vs. Marvel, ou seja, muito ruim.
No geral, penso que não é nem a fixação ridícula das editoras em continuações de histórias que não conseguem se resolver nem mesmo na versão original. O problema é insistir em crossovers que estacionam na palavra “potencial“. Aproveitando-se de um olhar simpático do público para um certo personagem (e, depois de Minus One, qualquer pessoa com o mínimo de senso reservou um lugarzinho no coração para o lagartão) e as infinitas possibilidades que os quadrinhos dão para uma história com tal criatura, cria-se um projeto que promete demais, sugere demais, anuncia coisas demais… só que não entrega algo lógico; algo que sustente a ideia tão alardeada e dê suporte ao projeto que, na teoria, tinha tudo para dar certo. Daí, assume-se que estamos numa era de coisas feitas de qualquer jeito simplesmente porque vendem. Percebem como a coisa toda fica pior quando começamos a pensar mais profundamente a respeito? Bem, acho melhor parar por aqui. Essa minissérie já tirou minha paz mais do que deveria. E eu só espero que a prometida continuação nunca venha.
Godzilla Destrói o Universo Marvel (Godzilla Destroys the Marvel Universe) — EUA, julho a novembro de 2025
Roteiro: Gerry Duggan
Arte: Javier Garrón, Paco Medina, Juann Cabal
Arte-final: Javier Garrón, Paco Medina, Juann Cabal
Cores: Jesus Aburtov, Andrew Dalhouse
Letras: Travis Lanham
Capas: Mark Brooks
Editoria: Drew Baumgartner, Mikey J. Basso, Lauren Amaro, Mark Paniccia
5 edições de 24 páginas, cada
