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Crítica | Godzilla: O Despertar dos Monstros

por Luiz Santiago
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Depois de oito filmes no que posteriormente se convencionou chamar de Era Showa, a popularidade dos filmes de Godzilla estava caindo, o que preocupava bastante a Toho. Sabendo da importância do personagem, o estúdio resolveu fazer uma espécie de “despedida temporária” do lagarto atômico, reunindo uma grande quantidade de brutos (a maior até o momento, e que permaneceria assim até 2004) e adicionando um claro tom de despedida, mas deixando o velho e bom gancho para uma possível retomada futura. O que a gente pode dizer disso tudo é que O Despertar dos Monstros (1968) reacendeu o interesse do público pelo personagem e deu munição para o estúdio produzir mais seis filmes do lagartão, até o hiato de 9 anos que voltaria com ele em outra Era, com o filme O Retorno de Godzilla (ou Godzilla 1985 — que na verdade foi lançado em 1984).

Com Ishirô Honda na direção e roteiro, ao lado de Takeshi KimuraO Despertar dos Monstros se passa no ano de 1999, que para os japoneses de 1968 seria o verdadeiro ápice e conquista da tecnologia, a julgar pelo que exploram nesse enredo. Aqui, os grandes monstros da Terra foram contidos em um local das Ilhas Ogasawara chamado Monsterland (futuramente, Monster Island). O roteiro diz que os bichos vivem ali “na mais perfeita harmonia” e uma rápida passagem pelos hóspedes da Ilha dos Monstros nos faz vez a dimensão da realização tecnológica capaz de colocar em um mesmo ambiente, por maior que seja, as seguintes criaturas: Godzilla, Mothra, Rodan, Anguirus e Gorosaurus, só para falar dos monstros apresentados já na narração de abertura da fita.

Quando a grande batalha acontece (o melhor momento do filme, sem dúvidas), ainda vemos outros kaijus, que subtendemos fazer parte da Ilha, a saber, Minilla, Manda, Kumonga, Baragon, Varan, além de imagens em vídeo das Kamacuras. É bicho demais para um filme só — e isso não é uma reclamação! Uma preocupação me veio, logo no começo do filme: qual será a motivação para fazer com que esses bichos invadam o continente, comecem uma destruição? Porque nos primeiros minutos, tudo está funcionando perfeitamente. E eis que a motivação aparece, e ela é boa, causada por uma raça alienígena (todas mulheres, aparentemente) que implantam dispositivos de controle nos animais e, após anularem as barreiras tecnológicas que prendiam os kaijus à ilha, fazem com que ataquem cidades importantes. Em pouco tempo estamos vendo Godzilla destruindo Nova York; Rodan destruindo Moscou; Mothra destruindo Pequim; Gorosaurus destruindo Paris e Manda destruindo Londres.

A trilha sonora de Akira Ifukube faz dessa onda de destruição uma verdadeira ópera de maquetes esmagadas por monstros, primeira impressão estranha das cenas de ação, como se não fossem para acontecer, como se não combinassem com esses monstros em seu status atual. Ao contrário de outras entradas da série, o núcleo humano aqui é inicialmente sólido (infelizmente caindo progressivamente de qualidade, dada a repetição de planos e ações ao longo do filme) e através delas temos a visão de que essas grandes criaturas na verdade são “amigos brutos” da humanidade, por isso, mesmo sabendo que estão sob controle, a colocação deles destruindo cidades parece… deslocada. Mas isso é bem justificado no texto como obra da raça Kilaak, que além dos animais, dão um jeito de controlar humanos, criando agentes para facilitar sua invasão à Terra.

O roteiro é meio ambíguo na exploração de planos dos Kilaak, mas não há dúvidas de que suas intenções são hostis. Com o passar dos minutos, a direção se torna menos dinâmica na forma como expõe o núcleo humano e o roteiro começa a cair em facilidades e conveniências, o que não é inédito na série dos kaijus, mas que sempre incomodam. A mais banal desas exposições é a justificativa para a derrota dos Kilaak. Todavia, o que realmente importa no filme vem na meia hora final, com todos os monstros batalhando contra King Ghidorah, que é (aparentemente) morto ao fim da luta. Tudo bem que tem uns kaijus que parecem só fazer número mesmo e eu comecei a revirar os olhos com os takes de Minilla fazendo absolutamente nada a maior parte do tempo, só levantando os braços e tampando os olhos. Apenas no final é que um pequeno anel de seu sopro atômico é emitido e termina por matar uma das cabeças do Rei. Missão cumprida.

A despeito dos problemas pontuais de exposição de personagens e desenvolvimento do roteiro (do meio para o fim do filme), O Despertar dos Monstros é uma excelente demonstração de que quanto mais monstros, em um filme de monstros, melhor. Um longa com uma batalha para ninguém mais se esquecer. O verdadeiro despertar dos monstros.

Godzilla: O Despertar dos Monstros (怪獣総進撃 / Kaijû Sôshingeki / Destroy All Monsters) — Japão, 1968
Direção: Ishirô Honda
Roteiro: Ishirô Honda, Takeshi Kimura
Elenco: Akira Kubo, Jun Tazaki, Yukiko Kobayashi, Yoshio Tsuchiya, Kyôko Ai, Andrew Hughes, Chôtarô Tôgin, Yoshifumi Tajima, Kenji Sahara, Hisaya Itô, Yoshio Katsuda, Heihachirô Ôkawa, Ikio Sawamura, Yutaka Sada, Hiroshi Okada
Duração: 89 min.

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