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Crítica | Grace de Mônaco

por Leonardo Campos
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Ao lado de nomes como James Dean, Marilyn Monroe e Bette Davis, Grace Kelly é um dos mitos hollywoodianos mais conhecidos e citados nos manuais de história do cinema. Dona de uma beleza estonteante, a atriz que foi uma das musas de Alfred Hitchcock morreu em 1982, por conta de um acidente automobilístico. Ganhadora do Oscar e do Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática por Amar é sofrer, Grace Kelly dedicou parte da sua vida às obras de caridade, haja vista que o casamento com o príncipe de Mônaco, Rainer III, a impedia de exercer a carreira de atriz.

De acordo com as principais biografias, Grace Kelly era muito ruim em matemática, o que deixava o seu pai extremamente preocupado. No filme, entretanto, ela parece saber lidar com “problemas”. A produção mantém o foco em um período específico, 1961-1962, época que a atriz desempenhou um importante papel nas negociações políticas entre o presidente da França e o seu marido.

O outro ponto nevrálgico da narrativa é o casamento, considerado por muitos como um conto de fadas, mas que após cinco anos de relacionamento, demonstrava uma profunda crise. O coração da atriz palpitava pelas emoções de estar num estúdio filmando, afinal, a beldade se sentia isolada com as frequentes viagens do marido, bem como inútil, pois as frivolidades da vida de “aparências” que o posto de princesa pede custavam um preço alto.

Com o divórcio latente, logo somos apresentados a um possível momento de redenção da carreira cinematográfica: a atriz recebe um caricato Alfred Hitchcock (Roger Ashton-Griffiths) em sua casa, oferecendo-lhe o papel principal em Marnie, Confissões de uma Ladra, oferta que mais adiante, ela terá de declinar, por uma série de questões políticas envolvendo o seu posicionamento como Princesa de Mônaco.

Como aponta a professora Eneida Maria de Souza, no livro Janelas Indiscretas – Ensaios de Crítica Biográfica, biografar é metaforizar o real. Logo na abertura do filme, somos informados que a produção é inspirada em fatos reais, o que deixa espaço para inserções de cenas da mais pura representação fictícia, o que não agradou nem um pouco os representantes da atual realeza de Mônaco: segundo os filhos de Grace Kelly, há glamourização excessiva e erros históricos. O roteiro foi apresentado aos familiares, houve algumas solicitações de cortes, não atendidos pelos produtores, o que desaguou numa briga pública desde 2013, com direito a notas de repúdio por parte dos membros da família real de Mônaco.

As metáforas do real, no entanto, não agradaram aos familiares, tampouco ao campo da crítica: Grace de Mônaco foi massacrado por quase todos os veículos de crítica cultural do Brasil e do mundo. Convenhamos, há razão para tudo isso. O filme é arrastado, a direção de Oliver Dahan peca por falta de emprego de emoção. A cenografia em si não consegue dar conta de tudo, assim como a atuação de Nicole Kidman, uma excelente atriz que até se esforça, mas não consegue desviar da obviedade do roteiro, cheio de momentos novelísticos mais clichês que qualquer episódio de A Usurpadora.

A câmera, melhor amiga de um bom cineasta, capta closes repetidamente, no intuito de passar emoção para o espectador com base na performance de Nicole Kidman, mas as tentativas funcionam mal. Há uma sensação de incompletude ao terminar a sessão do filme, uma experiência fria e opaca, muito longe do que imaginamos, afinal, não é Hollywood que adora a boa e velha redenção ao estilo Cinderela?

Grace de Mônaco (Grace of Monaco, Estados Unidos – França / 2015)
Direção: Olivier Dahan
Roteiro: Arash Amel
Elenco: Nicole Kidman, Tim Roth, Derek Jacobi, Frank Langella, Robert Lindsay, Parker Posey, Paz Vega, Roger Ashton-Griffith, Milo Ventimiglia.
Duração: 103 minutos

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