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Crítica | Grand Hotel

por Ritter Fan
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estrelas 2

O único filme que Tarantino teve envolvimento e que eu não havia assistido era Grand Hotel, de 1995. Perdi a oportunidade nos cinemas por razões que agora não me recordo e toda vez que me deparei com ele em DVD ou mesmo na TV, lembrava que queria ver, mas alguma coisa me dizia para não ver.

Agora que assisti, devo confessar que essa “alguma coisa”, que talvez fosse meu instinto, estava absolutamente correta. Não que o filme seja completamente imprestável – ele não é, ainda que se esforce para ser – mas foram 98 minutos que teriam sido mais bem empregados lendo até mesmo uma revista de fofocas, daquelas que são automaticamente oferecidas pelo meu barbeiro como se ele já não soubesse que eu as abomino.

Mas eu divago. Grand Hotel era, na época de sua concepção, uma ideia até interessante: quatro diretores indies se juntariam para, cada um, contar uma história curta passada em um mesmo hotel decadente na véspera do Ano Novo, todas elas ligadas primordialmente pela figura de um único e solitário mensageiro. No entanto, como a história demonstrou, dos quatro diretores – Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino – apenas dois deles verdadeiramente deslancharam, sendo que Rodriguez, apesar do sucesso financeiro, tem suas limitações. E o interessante, no final das contas, é que Grand Hotel prevê bem esse futuro (é bem verdade, porém, que olhar para trás é bem mais fácil do que para frente).

Talvez o maior problema do filme não seja seus segmentos díspares em termos de técnica e conteúdo, mas sim a “cola” que os une: o mensageiro vivido por Tim Roth. Roth é um ator que, mesmo à época, já havia provado seu valor em filmes como Cães de Aluguel e Fuga para Odessa. No entanto, ele está absolutamente ridículo como uma pálida tentativa de imitação de Jerry Lewis em O Mensageiro Trapalhão, de 1960.

E a culpa não é de Roth, pelo menos não completamente. A questão é de escalação e de um roteiro que limita muito o personagem, ao ponto de ele não passar de uma irritante ponte entre um episódio e o seguinte. Roth não consegue fazer algo minimante engraçado ou mesmo que crie um rapport entre o personagem e a audiência. Assim, a chave para o sucesso – ou a mera aceitação – de todo o projeto já nasceu maculada. E a coisa não melhora a partir daí.

O primeiro episódio, intitulado The Missing Ingredient e dirigido por Allison Anders, consegue encapsular tudo que está errado com o filme. Para começar temos Roth fazendo papel de semi-imbecil e cujos comentários já teci acima. Além disso, a história, sobre bruxas querendo conjurar uma deusa que morrera na suíte de lua-de-mel do hotel não tem nenhum apelo, a não ser – e mesmo assim com muita boa vontade – os peitos desnudos de duas das atrizes. E, como se isso não bastasse, a bruxa chefe é vivida por Madonna, em sua pior atuação no cinema e que merecidamente lhe valeu o Framboesa de Ouro.

O segundo episódio (The Wrong Man, dirigido por Alexandre Rockwell) não é muito melhor, ao colocar o mensageiro Ted às voltas com Siegfried (David Proval), um marido fazendo um jogo sexual (ou algo do gênero) com sua esposa Angela (Jennifer Beals). As atuações são tão carregadas e forçadas que os atores parecem estar de má vontade. Além disso, apesar de durar não mais do que 25 minutos, o episódio parece longo e arrastado.

Finda a tortura, chegamos ao terceiro episódio, que decididamente é melhor que os anteriores, ainda que longe de justificar a existência desse filme: The Misbehavers, dirigido por Robert Rodriguez. A razão principal da melhora na qualidade não é necessariamente a direção de Rodriguez, mas sim o roteiro dele, que faz questão de colocar duas crianças nas situações mais politicamente incorretas possíveis. Para começar, elas são largadas sozinhas no quarto de hotel na véspera do Ano Novo por seus pais irresponsáveis (Antonio Banderas e Tamlyn Tomita). Mas não é só isso, pois elas acabam fumando, bebendo, assistindo semi-pornografia na TV e mais um sem-número de eventos que acabam fazendo um bom uso do insensível mensageiro vivido por Tim Roth.

E, então, chegamos ao último episódio, escrito e dirigido por Quentin Tarantino em seu estilo verborrágico de sempre. The Man from Hollywood trata de uma frenética e amalucada reencenação da famosa aposta de Man from the South, conto de Roald Dahl adaptado diversas vezes para televisão e cinema, mais famosamente na série Alfred Hitchcock Presents em que um homem aposta que, se conseguir acender seu isqueiro dez vezes seguidas, ganhará o automóvel do outro. Se não conseguir, porém, ele perderá seu dedo mínimo.

O interessante nesse episódio é o trabalho de câmera, com pelo menos duas longas sequências sem cortes que deve ter enlouquecido o câmera em sua steadycam. E os diálogos são em uma velocidade tal, especialmente quando é o próprio Tarantino que os fala (ele faz o papel de um diretor veterano de Hollywood), que é difícil pegar todas as referências. Há, ainda, a participação de Jennifer Beals no mesmo papel do segundo segmento de Grand Hotel, além de Bruce Willis, mas sem receber crédito algum, pois violou as regras do Sindicato dos Atores ao aceitar participar sem receber um tostão.

Mesmo a diversão proporcionada por The Man from Hollywood, porém, não faz valer passar pelos episódios anteriores. Grand Hotel é um filme que não deveria ter sido feito ou eu, pelo menos, deveria ter continuado sem assisti-lo.

Grand Hotel (Four Rooms, EUA – 1995)
Direção: Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez, Quentin Tarantino
Roteiro: Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez, Quentin Tarantino
Elenco:  Tim Roth, Antonio Banderas, Jennifer Beals, Paul Calderon, Sammi Davis, Valeria Golino, Madonna, David Proval, Ione Skye, Lili Taylor, Kathy Griffin, Marisa Tomei, Tamlyn Tomita, Bruce Willis, Quentin Tarantino
Duração: 98 min.

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