Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Green Arrow 80th Anniversary 100-Page Super Spectacular

Crítica | Green Arrow 80th Anniversary 100-Page Super Spectacular

por Luiz Santiago
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O Arqueiro Verde, assim como o seu parceiro Speedy (Ricardito) apareceram pela primeira vez nos quadrinhos nas páginas da revista More Fun Comics #73, com data de capa de novembro, 1941. Um misto de Robin Hood com o protagonista do livro The Green Archer (Edgar Wallace, 1923) — ou, mais especificamente, o protagonista do homônimo seriado cinematográfico da Columbia Pictures, que adaptou a obra de Wallace para as telonas em 1940 — mais um certo tempero de Batman, o Green Arrow passou por diversas modificações ao longo dos anos, sendo a principal delas a dos anos 1970.

Um pouco antes, no final de 1969, nas páginas da The Brave and the Bold #85, o público se deparou com um Arqueiro Verde fisicamente modificado pelos desenhos de Neal Adams (finalizados por Dick Giordano): ali estava um novo uniforme e um novo estilo, com cabelos um pouco maiores e, pela primeira vez, a barba/cavanhaque que se tornaria uma marca registrada do personagem. No ano seguinte, a partir do arco Na Estrada, ao lado do Lanterna Verde, o personagem ganharia um tom abertamente crítico (também autocrítico) e politicamente alinhado à esquerda em suas histórias, o que igualmente acabou se tornando uma marca do Arqueiro nos quadrinhos.

Nesta edição especial, a DC Comics faz uma homenagem ao personagem, em comemoração aos seus 80 anos de existência, numa daquelas revistas onde muitos desenhistas e escritores são convidados para criarem a sua própria aventura com o aniversariante. Abaixo, seguem meu pequenos comentários para cada uma das histórias contidas nesse Especial.

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The Disappearing Bandit?

O tom dessa história de Mariko Tamaki e a homenagem estilística que ela faz ao Arqueiro Verde da Era de Ouro justifica essa aventura como abertura do Especial. Nela, Oliver Queen e seu parceiro Roy Harper estão às voltas com um jovem bandido que simplesmente desaparece após cada roubo que executa, de modo que os heróis não conseguem capturá-lo das primeiras vezes. É uma trama  que tem mais charme artístico do que narrativo. Os desenhos e finalização de Javier Rodriguez são excelentes (eu gosto muito desse tipo de traço mais harmônico, ondulado, e penso que combina com o período retratado aqui), a aplicação de cores, também de Rodriguez, não é apenas protocolar — a própria resolução do caso tem a ver com um excelente uso de cores — e as letras da Andworld Design fazem também o seu showzinho de representação, com destaque para o quadro onde cria diferentes balões demonstrar diferentes funções das flechas no acervo do Arqueiro e também na representação das letras durante as cenas de ação. O final é bobinho demais para uma trama contemporânea, mesmo sendo uma homenagem a uma Era de “histórias bobinhas”, mas não chega a ser ruim.

The Disappearing Bandit? (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Mariko Tamaki
Arte: Javier Rodriguez
Arte-final: Javier Rodriguez
Cores: Javier Rodriguez
Letras: Andworld Design
Editoria: Ben Abernathy, Dave Wielgosz, Amedeo Turturro, Ben Meares
8 páginas

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Punching Evil

Uma boa surpresa de Tom Taylor, aqui! Histórias que elencam a preparação de heróis consagrados, que mostram os bastidores de seu cotidiano, a forma como conseguem a excelência em seu trabalho acabam tendo um fascínio grande sobre nós, e cá está um dos exemplos muito bons disso. O roteiro funciona de duas formas, uma delas como uma lição para o Arqueiro Verde, que está aprendendo a lutar mano-a-mano, e outra com uma lição para o treinador Wildcat, que no começo da história está “se despedindo” de um outro aluno: ninguém menos que o Morcegão. O elemento bobo do enredo é a chegada repentina de Yellow Wasp e a maneira como Taylor explorou a presença do vilão na trama, mas no fim, acabou abrindo espaço para que “o outro lado” também aprendesse uma boa lição de humildade e de entendimento do valor de seu aluno. No fim das contas, tudo o que vem para somar, no treinamento de um indivíduo ou mesmo em sua já estabelecida vida de herói (na ativa ou aposentado), é válido.

Punching Evil (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Tom Taylor
Arte: Nicola Scott
Arte-final: Nicola Scott
Cores: Annette Kwok
Letras: Clayton Cowles
8 páginas

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Who Watches the Watchtower?

Tem algo de muito instigante e de muito chamativo na forma como as brigas entre heróis acontecem, enquanto fazem parte de uma grande equipe. Para quem está acostumado com os quadrinhos da Liga da Justiça, especialmente a partir dos anos 1970, sabe muito bem como é esse espírito de antagonismo parceiro entre os diferentes heróis, e isso se estendeu, em maior ou menor grau, até os dias de hoje nas tramas da equipe. Aqui, Stephanie Phillips encontra o motivo da briga no fato de o Arqueiro Verde ser designado para cuidar da Torre de Vigilância enquanto o restante da equipe segue para uma missão. Tudo aqui tem o charme da época que representa: a briga do Arqueiro com o Gavião Negro, a interferência cheia de sabedoria do Superman e a grande surpresa que o vigilante da vez encontra durante a sua ronda. O tom cômico no final é a cereja que faltava no bolo!

Who Watches the Watchtower? (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Stephanie Phillips
Arte: Chris Mooneyham
Arte-final: Chris Mooneyham
Cores: Mike Spicer
Letras: Tom Napolitano
8 páginas

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…just the usual sort of stuff.

O ponto levantado por Mike Grell aqui é importantíssimo. Esta é uma história sobre uma “importante mercadoria” que um grupo de bandidos está para comercializar no porto. É “mais uma noite de patrulha” do Arqueiro Verde, aqui, ao lado de Shado. O ponto levantado, como eu disse, é importante, pois estamos falando de tráfico humano, de tráfico de mulheres, normalmente é feito para que essas pessoas trabalhem como prostitutas em outro país. Infelizmente, o texto não contribui em nada para dar suporte a essa história de tom tão sério. O início, em retrospecto, parece desrespeitoso, fora de lugar, estranho àquela realidade, e a conversa do Arqueiro com Shado não chega a lugar algum. Infelizmente, um baita desperdício de temática.

…just the usual sort of stuff. (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Mike Grell
Arte: Mike Grell
Arte-final: Mike Grell
Cores: Lovern Kindzierski
Letras: Travis Lanham
8 páginas

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The Arrow and the Song

Conseguir lirismo em uma história de super-herói, especialmente um como o Arqueiro Verde não é algo fácil. A temática lírica não combina exatamente bem com o gênero e, nesse caso, o herói parece ter uma boa resistência, em sua constituição, a esse tipo de abordagem. Isso significa que uma história lírica com ele é impossível? Não. Só significa que é bem difícil conseguir criá-la. E aqui temos um bom exemplo disso. Uma jornada pela vida do personagem, por suas principais fases, histórias e mudanças de pensamento e comportamento, com uma espécie de “lição de maturidade ao final” que pelo menos para mim, não funcionou nada bem.

The Arrow and the Song (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Ram V
Arte: Christopher Mitten
Arte-final: Christopher Mitten
Cores: Ivan Plascencia
Letras: Aditya Bidikar
6 páginas

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One

Eu já estava me perguntando quando é que Connor Hawke, o Arqueiro Verde II apareceria e… eis aqui o garoto! Esta é basicamente uma outra história que se destaca muitíssimo mais pela arte (nesse caso, de Jorge Corona), que tem uma finalização mais crua, suja, combinando com o ambiente hostil, quente e literalmente explosivo em que o nosso herói está. O roteiro de Brandon Thomas explora aquela linha de diálogo e sentimento de um personagem que está assumindo o manto de outro, e muitos dos questionamentos, medos e anseios conhecidos por nós, desse tipo de caso, estão colocados aqui. Todavia, o fato de estarmos diante de uma história curta acaba impedindo que tudo isso seja verdadeiramente bem trabalhado e alcance o peso e a importância que deveria ter. É uma trama sólida, diante da proposta que traz, mas que não consegue alçar um voo alto.

One (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Brandon Thomas
Arte: Jorge Corona
Arte-final: Jorge Corona
Cores: Mat Lopes
Letras: Steve Wands
8 páginas

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Green-Man and Autumn-Son

Devin Grayson nos conta aqui uma história fofíssima da jornada de Roy Harper, que aparece em ação, sob o manto de Arsenal. É uma retrospectiva narrada no modelo de compartilhamento de história dos navajos, com quem Roy passou sua infância. A arte e as cores de Max Fiumara reforçam o modelo de narrativa oral típico de diversos povos indígenas, representando em um moldura e com cores mais difusas, os momentos tristes e felizes desse homem que agora tem uma grande responsabilidade diante de si: uma filha para educar. A sorte dele é que também tem um grande amigo para compartilhar muitas coisas e uma postura muito bonita diante da filha, de contar a verdade sobre seu passado, sem esconder ou maquiar os maus momentos.

Green-Man and Autumn-Son (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Devin Grayson
Arte: Max Fiumara
Arte-final: Max Fiumara
Cores: Max Fiumara
Letras: Ariana Maher
8 páginas

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Star City Star

Do que fala essa história? Qual é o propósito real dessa história? O que essa história está fazendo aqui nessa revista? Qual é a temática dessa história? Como é que essa história passou pela editoria da revista? Por que tanta confusão nessa história? Por que uma trama que roda tanto e não chega a lugar algum? Pois é. Eu não sei. Você não sabe. Phil Hester, que escreveu, também não sabe. Ninguém sabe. É um mistério.

Star City Star (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Phil Hester
Arte: Phil Hester
Arte-final: Ande Parks
Cores: Patricia Mulvihill
Letras: Clem Robins
8 páginas

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Happy Anniversary

Essa história fala sobre uma comemoração que não sai exatamente como previsto, mas que acaba funcionando bem para as duas partes, não sem antes de trazer questionamentos e algumas verdades à mesa. O tema central explorado por Vita Ayala nesse roteiro é a tal do “recuo doméstico” que alguns heróis acabam fazendo quando se casam ou estão de alguma forma comprometidos com alguém. Ter uma família sempre foi um motivo de certa complicação para os heróis, por motivos de proteção, mas também por motivos verdadeiramente familiares, de comemorar coisas, de compartilhar, de viver coisas juntos. No caso dos pombinhos aqui, a relação está no caminho da tensão, e percebemos isso já no início da história, que evolui de forma muito dinâmica para uma noite de ação que mantém os dois ocupados e, mais importante, juntos.

Happy Anniversary (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Vita Ayala
Arte: Laura Braga
Arte-final: Laura Braga
Cores: Adriano Lucas
Letras: Becca Carey
8 páginas

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The Sympathy of the Woods

Eu quero começar dizendo que eu gosto muito da arte de Otto Schmidt, e este foi um dos fatores que me trouxe direto para essa história. O texto aqui é sobre união, e mesmo Benjamin Percy trabalhando de maneira canhestra o lado político de Ollie, consegue uma boa levada na forma como estabelece a ajuda que um indivíduo dá ao outro em momentos de dificuldade, olhando para esse “corpo de defesa” de uma forma bastante orgânica, comparando com a natureza. Uma história sobre ser herói juntamente com outros heróis amados ao seu lado.

The Sympathy of the Woods (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Benjamin Percy
Arte: Otto Schmidt
Arte-final: Otto Schmidt
Cores: Otto Schmidt
Letras: Nate Piekos
8 páginas

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The Last Green Arrow Story

De certa forma, essa trama se conecta espiritualmente com a história seguinte, indicando o fim de um ciclo e início de outro, de um novo mistério na vida de alguém. Ocorre que o terreno cheio de possibilidades aqui não sai muito do lugar. Começa com uma excelente marca, com Ollie, já velho, voltando à ilha que “lhe deu origem”. Mas o amontoado de símbolos que se seguem, sem muita ajuda do roteiro para encadear um verdadeiro sentido para toda a apresentação, mina o que essa simbologia toda tinha de bom para entregar. Termina sendo uma boa história, claro, mas poderia ter sido muito mais do que foi.

The Last Green Arrow Story (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Jeff Lemire
Arte: Andrea Sorrentino
Arte-final: Andrea Sorrentino
Cores: Jordie Bellaire
Letras: Rob Leigh
8 páginas

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Tap Tap Tap

Eu não estou chorando. Vocês é que estão chorando.

Tap Tap Tap (EUA, 29 de junho de 2021)
Roteiro: Larry O’Neil
Arte: Jorge Fornés
Arte-final: Jorge Fornés
Cores: Dave Stewart
Letras: Jorge Fornés
8 páginas

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