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Crítica | Gregory Hunter – Vol.1: O Ranger do Espaço

Rompendo fronteiras.

por Luiz Santiago
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As ações da série Gregory Hunter se passam em um Universo paralelo ao nosso. O conceito geral para a série, publicada entre março de 2001 e agosto de 2002, ao longo de 17 edições e mais um Especial Maxi, nos é dado já nas primeiras páginas da revista. A introdução é feita pelo Monge Nômade, um Ser de manto esfarrapado, cujo capuz encobre o rosto por completo. Ele também porta uma espécie de cajado muito velho. É esse indivíduo que nos guia por todo o enredo e traz para nós uma gostosa sensação de quebra de quarta parede, ao mesmo tempo que explica a existência das Terras paralelas. Ou seja, o que lemos aqui em O Ranger do Espaço ocorre numa outra versão de nosso planeta, num outro Universo, onde foi desenvolvido um sistema de propulsão (as baterias Coleman) que, praticamente sem custo, permitiu que a humanidade viajasse pelo espaço em grandes velocidades e colonizasse milhares de planetas pela Galáxia.

Essa apresentação e tudo o que acontece quando o protagonista entra em cena é feita com uma mescla de bom humor e linhas sérias a respeito dos rumos da humanidade, havendo também um número muito grande de referências culturais, algo que já conhecemos de histórias de Antonio Serra como Nathan Never ou Legs Weaver, por exemplo. Em uma das entrevistas que deu sobre a criação, o autor disse que, para construir esse mundo de Gregory Hunter, se inspirou em uma porção de elementos vindos de Duna, de Star Wars, de Corto Maltese, do Quarteto Fantástico e das criações cósmicas, fantasiosas ou espaciais de Jack Kirby. Não demora muito tempo para que a gente perceba isso nas entrelinhas ou até mesmo como referência visual aqui, seja na brincadeira com a quebra da quarta parede (onde vemos a capa da primeira edição do Quarteto, o talão da primeira publicação de Zagor, chamado A Floresta das Emboscadas, os Beatles e personagens da série britânica Os Vingadores, de 1961), seja na forma de narração do Monge Nômade ou na riqueza de espécies e tipos de crimes que encontramos nesse Universo.

O autor divide a história em pequenos contos que estão plenamente ligados um ao outro. A introdução tem o mesmo título da edição e, logo a seguir, temos A Cidade Fantasma, que mostra apenas Nova York, mas incorpora, nessa cidade, toda a situação da Terra no ano de 2001, depois de a maioria da humanidade migrar para outros planetas. Vemos a demolição de diversos edifícios e percebemos que Cyrus Coleman está transformando tudo em um grande jardim, plantando milhares de árvores. É também nesse bloco que, enfim, conhecemos Gregory Hunter, que está caçando um criminoso que colocou na cadeia uma década atrás, quando ainda era um simples caçador de recompensas. É um bloco com ação simples, elencando um pouco da burocracia desse mundo e como é a vida dos que ainda trabalham na Terra. Em termos narrativos se parece muito com o modus operandi de Nathan Never, embora o tom seja menos sério e o roteiro não tenha um lado tão profundo.

Nesse bloco também conhecemos o companheiro de andanças de Gregory Hunter, o tallariano Badger, um símio cuja história é parcial e didaticamente narrada aqui, de como ele foi salvo por GR e de como se tornou o seu braço direito. No conto seguinte, Viagem Entre as Estrelas as coisas ficam bem mais interessantes. O roteiro ainda sofre de exposições desnecessárias e de um didatismo nos diálogos que atrapalha o andamento de certas cenas, mas no geral, a qualidade do que a gente vê do meio para o final do volume é notável, tanto na história — abrindo mais o leque de informações e possibilidades — quanto na arte de Elena Pianta. Os desenhos dela para as mais diversas espécies alienígenas e o fenomenal trabalho que faz na sequência da briga de Badger no “bar” do espaçoporto ou na ótima sequência com as baleias espaciais (que me lembrou muito The Beast Below, uma história futura de Doctor Who) mostram o nível de detalhe e cuidado da artista na criação desse Universo.

A narrativa não termina nessa edição, mas isso será comum para todos os volumes da saga, embora exista alguns arcos internos que normalmente se fecham no meio de um número X, para que então outro bloco se abra e dê continuidade à aventura. A apresentação dos personagens nessa edição foi a real preocupação de Antonio Serra. Ele não desenvolve muito nenhuma das linhas de enredo que apresenta, apenas pincela situações. Elas servem, porém, para dizer quem é quem nesse cenário (e termina, inclusive, com a introdução de um tal Capitão Qabar, aparentemente alguém que vai dar muita dor de cabeça para o protagonista); qual o alinhamento de cada um e como são as regras nesse Universo paralelo. Fica em suspenso o mistério envolvendo o “espectro” de um maléfico Yul Brynner, parte de uma maldição jogada em GR e que ele corre para retirar, porque pode representar, com o tempo, algo verdadeiramente moral (eu simplesmente adorei esse conceito!).

O leitor fará aqui aproximações do Monge narrador com O Vigia e do tipo de “realidade alternativa” com as histórias de O Que Aconteceria Se…, com a diferença de que esse título não está preocupado em fazer constantes comparações com a Terra real. Uma vez nesse planeta paralelo, que todos sofram as consequências (boas ou ruins) daquilo que foi modificado. E para ser sincero, é um Universo que eu gostaria muito de viver.

Gregory Hunter – Vol.1: O Ranger do Espaço (Il ranger dello spazio) — Itália, março de 2001
Roteiro: Antonio Serra
Arte: Elena Pianta
Letras: Erika Bendazzoli
Capa: Elena Pianta
100 páginas

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