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Crítica | Guardiões da Galáxia (1990-1995): #1 a 62 e Anuais #1 a 4

por Ritter Fan
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estrelas 4

Engraçado como são as coisas. A primeira versão dos Guardiões da Galáxia, depois de sua origem no longínquo ano de 1969, literalmente desapareceu do Universo Marvel durante toda a década de 80, sendo visto pela última vez na excelente revista Marvel Two-in-One #69, dividindo os holofotes com o Coisa.

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O primeiro número!

No final da década de 80, Tom DeFalco, então editor-chefe da Marvel, ouvindo excitadas conversas de corredor na editora sobre a série de TV Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, que estourava naquela época, decidiu cavar fundo no baú de personagens Marvel e sugeriu o revival dos Guardiões, entregando o projeto para o futuro co-fundador da Image Comics, Jim Valentino. A ideia que surgiu dos primeiros rascunhos do roteirista e desenhista era de uma série limitada de 12 edições apenas. No entanto, quando o primeiro verdadeiro título próprio dos Guardiões da Galáxia chegou às lojas em junho de 1990, o sucesso foi imediato e a série limitada transformou-se, quase que instantaneamente, em uma publicação regular que duraria por cinco anos e 62 edições, além de quatro anuais.

A grande jogada de Valentino, que escreveu a série até seu número 29 (desenhando quase todos os números também), em 1992, quando saiu para fundar a Image, foi manter os Guardiões em seu próprio tempo, ou seja, o século XXXI. Afinal de contas, com exceção da revista Marvel Super-Heroes #18, de janeiro de 1969, todas as demais aventuras do grupo se resumiam a heróis do presente por alguma razão sendo transportados para o futuro ou os Guardiões viajando para o presente. Apesar de muitas histórias interessantes terem sido criadas em cima dessa premissa, a estrutura cansaria em um título regular. Assim, Valentino resolveu lidar com o futuro longínquo do Universo Marvel – deixando bem claro que se trata de um futuro alternativo, claro, para não haver comprometimentos com o Universo Marvel normal, chamado de Terra-616 – sob a ótica de Vance Astro, Martinex, Charlie-27, Yondu, Nikki e Starhawk.

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Wolverine? Não, é a Rancor!

Mas mais do que isso, Valentino fugiu o máximo possível do que se poderia esperar de uma história passada no futuro, ou seja, de heróis Marvel do presente que sobrevivem por mil anos para se juntar aos Guardiões. Ele até fez isso, mas discretamente, como elemento narrativo funcional e não chamariz para a série. Mas como atrair o público então? Bem, ele simplesmente usou os elementos – não personagens – do universo Marvel que conhecemos e os imaginou em mil anos. E o primeiro exemplo disso é a aventura que abre a série, em Guardiões da Galáxia #1, em que os heróis aparecem lutando contra um vilão aparentemente genérico com o nome ridículo de Taserface. Acontece que Taserface é o representante de uma raça que se auto-denomina Os Stark. Perceberam a esperteza de Valentino? E olha que a razão para a existência dos Stark, seres altamente tecnológicos até faz muito sentido, considerando-se, claro, que estamos falando de uma publicação mainstream de super-heróis: Marte invadiu a Terra no século XXI e Tony Stark, o Homem de Ferro, para impedir que sua tecnologia caísse em mãos erradas, enviou tudo para o espaço. No entanto, no lugar de cair em um planeta desabitado, suas armaduras, armas e planos caíram em um planeta primitivo, mas habitado por seres que, ao longo dos séculos, conseguiram assimilar a tecnologia e usá-la.

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Vance Astro se transforma no Major Victory.

Outro exemplo de como Valentino consegue levar o presente para o futuro é o escudo do Capitão América, que é o objeto da procura de Vance Astro quando enfrenta Taserface. O Capitão já morreu há séculos, mas seu escudo é indestrutível, não é mesmo? Assim, ouvindo uma lenda saindo de um livro de Yondu, Vance passa a ter certeza que o escudo sobreviveu e sai ao seu encalço, finalmente encontrando-o.

No entanto, Valentino não para por aí e, sem perder muito tempo, nos apresenta a um planeta todo que descende de Wolverine, controlado pela violenta Rancor, a versão permanentemente feral do baixinho canadense. Além disso, somos apresentados a Malevolence, filha de Mefisto e a uma gangue devota ao Justiceiro. Vemos, também, a versão do século XXXI do Motoqueiro Fantasma, chamado, apenas, de Espírito da Vingança e da Fênix, dessa vez encarnada em um homem. Há também o Surfista Prateado, que sai de um auto-imposto exílio e que, quando aparece vestido quase que com uma toca romana, vemos os braceletes quânticos de Quasar em seus pulsos.

Mas Valentino não foca só futuro do Universo Marvel, ainda que, claro, isso é que tenha sido a verdadeira razão do merecido sucesso dessa publicação. O autor mexeu também nos próprios Guardiões, mantendo, porém, sua essência. A primeira grande alteração é a separação de Aleta de Starhawk. Os dois amantes, como explicado antes, dividiam o mesmo corpo e não poderiam aparecer simultaneamente. Valentino acabou com isso e acrescentou Aleta ao grupo, separando-a inclusive sentimentalmente de Stakar (Starhawk) e aproximando-a de Vance Astro.

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Primeiro número sem Jim Valentino.

Outra modificação importante foi a eliminação da roupa de contenção de Vance Astro pela magia de Krugarr, ex-aprendiz do Doutor Estranho e Mago Supremo do século XXXI. Com isso, Vance, que sempre foi fã do Capitão América, adota um traje “patriótico” (que, se pensarmos bem, é anacrônico já que os EUA não existem nesse futuro, mas, como é uma homenagem ao Capitão, podemos aceitar), além do escudo que já usava, trocando seu nome para Major Victory (ok, reconheço que o forte de Valentino não é criar nomes).

Membros novos – além de Aleta – são adicionados. O primeiro deles é o inumano Talon, que é uma espécie de Fera do futuro. Outro é a versão feminina do Jaqueta Amarela, Rita DeMara, que é do presente, mas é levada ao futuro para se juntar ao grupo por intermédio de um esperto crossover com a saga Guerra Infinita.

Já depois da saída de Valentino, testemunhamos um aumento do poder cósmico de Aleta e a introdução do grupo spin-off Galactic Guardians, composto por Fênix, Espírito da Vingança, Mainframe, Senhor do Fogo (o ex-arauto de Galactus), Réplica, Martinex e Hollywood (apesar de nunca ficar explícito, tudo indica que é o Magnum que conhecemos, aparentemente imortal), grupo esse que ganharia breve título próprio em 1994. Major Victory volta à sua forma encarcerada em uma roupa hermética que é um simbionte muito parecido com o Venom e somos apresentados ao filho de Thor, Woden.

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Último número dos saudosos Guardiões

Mas essas novidades não ajudaram as vendas do título que passaram a cair com a saída de Valentino. Não que a série tenha ficado ruim, longe disso. Seu nível se manteve até o fim, com histórias intrigantes sobre um futuro possível do Universo Marvel. Mas o fato é que o interesse por heróis cósmicos começou a desaparecer juntamente com a falta de investimento da Marvel em heróis de segundo escalão em razão de sua péssima situação financeira à época. Mas bem que a editora foi insistente, pois os Guardiões sobreviveram ainda por trinta números sem Valentino.

No entanto, os cinco anos ininterruptos de Guardiões da Galáxia foram divertidos, com boas histórias e ótima arte em geral e qualquer leitor Marvel atual, tenho certeza, se divertirá com as aventuras desse fenomenal grupo no século XXXI. Não ficaria triste se a Marvel trouxesse esse grupo de volta das cinzas mais uma vez!

Guardiões da Galáxia # 1 a 62 e Anuais #1 a 4 (Guardians of the Galaxy #1 a 62 e Annuals #1 a 4 – 1990 a 1995)
Roteiro: Jim Valentino e outros
Arte: Jim Valentino e outros
Editora: Marvel Comics
Páginas: 22 por número e 40 por anual em média

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