Home QuadrinhosArco Crítica | Guardiões da Galáxia – Vol. 3 (2013-2015)

Crítica | Guardiões da Galáxia – Vol. 3 (2013-2015)

por Guilherme Coral
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estrelas 2

Assumir os Guardiões da Galáxia após a saída de Dan Abnett e Andy Lanning certamente não fora uma tarefa fácil. A dupla de roteiristas repaginou o grupo totalmente, definindo o tom de suas histórias como algo mais cômico, irreverente. Coube a Brian Michael Bendis, na fase Marvel NOW! encabeçar as revistas do grupo, tarefa que continuou fazendo até 2017. Em 2013, porém, os heróis ainda eram, em grande parte, desconhecidos pelo público, já que o filme ainda não havia sido lançado. Como parte dessa nova fase da Marvel Comics era natural que algumas mudanças aconteceriam, mas o que vimos nesse Volume 3 chega a ser um desrespeito com a história dos personagens até aqui.

Apesar de zerar a numeração, a trama continua pouco tempo após os eventos de A Imperativa Thanos de Abnett e Lanning, mantendo o mistério de como Peter Quill conseguiu escapar do Cancerverso (um universo distorcido no qual a morte não existe). Já encontramos, portanto, os Guardiões unidos, formados pelo Senhor das Estrelas, Gamora, Drax, Rocket e Groot, grupo que seria tomado como base no filme de James Gunn. Dito isso, Bendis faz, sim, inúmeras mudanças acerca do passado dos personagens, além de mesclar a história com outros personagens que nada tem a ver com esse lado cósmico da Marvel – claramente uma medida da editora para que as vendas fossem impulsionadas, afinal, um desses indivíduos que aparecem aqui é Tony Stark, que já era popular em virtude de sua adaptação cinematográfica.

De fato, não há o menor problema em tirar e colocar novos membros nos Guardiões da Galáxia, afinal, Lanning e Abnett o fizeram de forma maravilhosa, com dezenas de personagens. O problema está na maneira como isso é feito. O que vemos nesse volume 3 é algo claramente pensado com fins mercadológicos, com a revista sendo tratada como uma publicação B da editora, já que tais figuras desse universo simplesmente desaparecem de uma hora para a outra ou são chamadas sem mais nem menos, sem cumprirem qualquer função narrativa enquanto estão juntos dos guardiões. Vemos isso com Stark, que não é mais que um coadjuvante aqui, Angela, que simplesmente funciona como o pontapé inicial de uma saga/ evento da editora e, por fim, Venom (Flash Thompson), esse sendo o único bem aproveitado, já que vemos a origem do simbionte ser explorada.

Entramos, pois, em uma das maiores tragédias que assolam esse volume e, novamente, a culpa não é de Bendis. Ao longo das vinte e sete edições, no meio da história, quatro sagas ou eventos da editora aparecem para interromper a linha narrativa. Em uma revista estamos acompanhando uma determinada trama e na próxima tudo muda sem a menor explicação e a única maneira do leitor (que não compra tudo da Marvel) entender o que se passa é lendo a sinopse que vem nas primeiras páginas. O mais irritante, porém, é que, em todos os casos, nenhuma dessas histórias introduzidas são resolvidas em Guardiões da Galáxia e, quando partimos para o próximo número, nos vemos diante de um enredo completamente diferente. Assim sendo, é impossível definir com certeza absoluta quais os arcos esse volume 3 aborda, já que nenhuma história, durante as vinte e sete edições, conta com início, meio e fim.

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Um problema similar acontece na arte, provavelmente em virtude de prazos irreais estabelecidos pela editora. Estamos lendo uma página da revista e, de repente, o traço muda completamente, chegando ao ponto de criar erros de continuidade, como a Capitã Marvel com máscara em uma página e na outra sem, para, posteriormente, aparecer com ela novamente. Ainda que muitos dos artistas que assinam as publicações despejem a identidade de suas artes ao longo do volume, não podemos deixar de encarar isso tudo como uma bagunça completa, que chega a dar agonia no leitor. O que chega a parecer é que estamos diante de uma revista comemorativa na qual inúmeros artistas famosos foram convocados para participarem, mas esse não é o caso.

Mas Brian Michael Bendis não está totalmente isento da culpa em nos entregar quadrinhos de baixa qualidade. Fica bastante claro, principalmente nas páginas iniciais, como o autor demonstra dificuldade em achar o tom certo, principalmente nos diálogos. Um exemplo bem claro disso é a catchphrase de Rocket, blam! Murdered you! (blam! Te matei!), que está presente nos números iniciais e que desaparece conforme progredimos na história. Bendis também tem dificuldade em acertar no humor, somente conseguindo na segunda metade do volume, que traz algumas boas risadas. Além disso, nenhum dos personagens principais passa por uma verdadeira evolução ao longo da trama – da maneira que os encontramos, os deixamos no número vinte e sete, fazendo toda essa jornada soar como uma verdadeira perda de tempo.

Dito isso, o volume 3 de Guardiões da Galáxia soa como uma revista de transição, feita para nos levar da era Abnett e Lanning para algo mais, ainda que não soubéssemos o que na época. Com alguns conceitos bem introduzidos, mas mal trabalhados e com histórias sem início ou meio ou fim, temos aqui uma verdadeira tragédia, que não chega aos pés do volume 2. Fica bastante claro, porém, que a verdadeira culpada por isso tudo é a própria Marvel, que insiste em inserir sagas no meio da história sem se preocupar com os leitores e em jogar personagens, que nada tem a ver com os Guardiões, no meio do grupo sem mais nem menos. Com tamanhos deslizes, fica realmente difícil defender essa era dos personagens.

Guardiões da Galáxia – Vol. 3 — EUA, 2013 – 2015
Contendo: Guardiões da Galáxia (2013 – 2015 ) #0.1 a #27

Roteiro: Brian Michael Bendis
Arte: Sara Pichelli, Valerio Schiti, Ed McGuinness, Nick Bradshaw, Mark Farmer, Steve McNiven, Paolo Manuel Rivera, Skottie Young, Terry Dodson, Rachel Dodson, Mike Deodato Jr.
Cores: Justin Ponsor, Jason Keith, Edgar Delgado
Letras: Cory Petit
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: abril de 2013 a julho de 2015
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de publicação no Brasil: dezembro de 2014 a julho de 2016
Páginas: 540

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