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Crítica | Guerras Sujas

por Guilherme Coral
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estrelas 4

“Nós os chamamos de Talibãs americanos” – essa frase é dita por um cidadão afegão que teve parte de sua família morta por soldados americanos. Ela funciona como um grande exemplo de por onde o filme se constrói, questionando as ações do governo estadunidense nos países do Oriente Médio. Em Guerras Sujas acompanhamos o jornalista investigativo americano Jeremy Scahill que procura descobrir o motivo por trás das ações questionáveis de seu governo e da JSOC (Comando de Operações Especiais Conjuntas).

O documentário se dá através de uma narração em off do jornalista enquanto sua investigação progride. Seu tom de voz melancólico se encaixa perfeitamente no tom da obra, transformando-o em um personagem que conseguimos nos identificar. Com isso, a fita, ganha um caráter não só expositivo, como introspectivo – é, ao mesmo tempo, um documentário sobre a investigação e o investigador. Isso se amplifica ao ponto que suas indagações passam a gerar um perigo à sua vida. O ponto negativo desse foco em Jeremy é o tom de artificialidade que o longa ganha, devido, principalmente, a cenas claramente encenadas do jornalista em seu apartamento/ local de trabalho pensando nos dados coletados.

A experiência em campo é um somatório dos registros filmados de sua investigação, que consiste principalmente de entrevistas, e de imagens de filmagens amadoras realizadas pela população local, mostrando uma parcela das ações americanas ali conduzidas. Ao mesmo tempo que isso funciona como uma prova que Scahill precisa é, também, algo que dá força ao documentário – são imagens fortes que convencem o público da veracidade daquela investigação. Em alguns pontos, porém, existem imagens de arquivo de soldados americanos ou navios realizando bombardeios que acabam tirando força das imagens coletadas no local.

Guerras Sujas, contudo, não é um documentário com o intuito de vilanizar os Estados Unidos, embora assim pareça em primeira instância. Jeremy, durante todo o tempo de projeção, é um indagador do porquê tais ações estão sendo conduzidas. Ele tenta entender, junto do espectador, a função da JSOC, que atua livremente em qualquer país, estando sujeita somente ao presidente. Há um tom levemente sensacionalista na obra, mas nada comparado a documentários como Fahrenheit 9/11, por exemplo. Os questionamentos do jornalista seguem uma linha narrativa e vão se aprofundando conforme mais fatores vão sendo descobertos.

Funcionando organicamente junto da narrativa está a fotografia do filme, repleta de planos detalhes e closes que conseguem ilustrar as emoções, reações em cada relato obtido. Muitas vezes ela nos mostra mais do que as próprias entrevistas. A montagem intercala de maneira efetiva as imagens coletadas com as filmadas especificamente para o documentário, criando o tom de indagação e até mesmo suspense do longa-metragem.

O documentário Guerras Sujas consegue transformar Jeremy Scahill em um verdadeiro personagem, com o qual conseguimos nos identificar. Ele atua como o espectador em suas perguntas, fazendo com que, de alguma forma, participemos de sua investigação. Sua narração em off consegue conduzir a linha narrativa de maneira efetiva, tornando constante o tom melancólico do filme, ressaltando sempre o perigo no qual sua vida se encontra. Aos poucos vamos nos perguntando os motivos dos chamados Talibãs americanos e enxergando a força dessa obra, mesmo que ela contenha suas falhas.

Guerras Sujas (Dirty Wars, EUA , Afeganistão , Iraque , Quênia , Somália , Iêmen – 2013)
Direção: Rick Rowley
Roteiro: David Riker, Jeremy Scahill
Elenco: Jeremy Scahill, Nasser Al Aulaqi, Saleha Al Aulaqi, Muqbal Al Kazemi, Abdul Rahman Barman, Saleh Bin Fareed, Andrew Exum.
Duração: 87 min.

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