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Crítica | H2O: Meninas Sereias – A Série Completa

por Leonardo Campos
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Cada narrativa audiovisual que aborda o universo das sereias, seja no cinema ou TV, emprega determinadas peculiaridades no desenvolvimento do mito nas mais diversas situações dramáticas. Com H20 Meninas Sereias não seria diferente e um dos elementos interessantes da abordagem é a relação das personagens com elementos da astronomia, desde a abundância de significados da lua cheia ao advento de eclipses, etc. Tudo isso, embalado num pacote de três temporadas que focam no entretenimento, mas permitem algumas reflexões superficiais sobre amizade, família, amor próprio, aceitação, relações pessoais, controle diante de potencialidades, dentre outros temas que inicialmente podem parecer abordados numa perspectiva pueril (e, de fato, são), mas que ao passo que avançamos da primeira para as próximas temporadas, se tornam gostosos de se contemplar, haja vista os personagens carismáticos, a ambientação sempre muito intensa e a leveza das questões retratadas, geralmente focados no público juvenil, mas que pode muito bem funcionar como diletantismo para gente adulta, tal como quem vos escreve.

Com um total de 78 episódios distribuídos ao longo de três temporadas, produzidas e exibidas por um canal australiano, H20 Meninas Sereias ofertou ao público unidades em torno dos 25 minutos, com temas mesclados entre o fechamento de um conflito no próprio interior do capítulo ou com a ampliação de uma crise dramática para situações subsequentes da série, exibida entre 2006 e 2010. Dirigidas por Colin Budds e Jeffrey Walker, as aventuras das três meninas sereias contou com uma sala de roteiristas relativamente expressiva, responsáveis por criar momentos de tensão no processo de amadurecimento do trio protagonista, figuras que tinham determinados momentos de suas vidas ficcionais iniciados e encerradas pela canção tema “Ordinary Girl”, interpretado por três cantoras diferentes ao longo de cada temporada. Assinada pelo showrunner Jonathan M. Shiff, H20 Meninas Sereias nos apresentou ao universo de Nanda (Claire Holt), Cleo (Phoebe Tonkin) e Drica (Cariba Heine), três jovens garotas que saem para velejar e se divertir e acabam adentrando além do conhecido na Ilha Mako, um local mágico que funciona como ponto de referência para as sereias ao longo de todos os episódios. Lá, ao se banhar numa piscina natural interna, elas se transformam em sereias. Tudo isso porque a lua cheia passou por cima da ilha e permitiu que esse instante de magia acontecesse. Outros filmes e séries abordam essa concepção do mito com os astros que gravitam em torno do planeta, mas aqui há uma abordagem mais especial.

Logo no primeiro episódio, percebemos essas relações e, para quem conhece, lembramos das lendas que envolvem o firmamento, isto é, o amor entre a lua e o mar, presente em diversas culturas. Indo além das alegorias oriundas de percepções folclóricas, o comportamento das águas nas noites de lua cheia é algo que sai do campo mitológico e é compreendido na seara científica, inclusive em nossas aulas de geografia física na escola, alguém lembra? O fenômeno das marés, como se sabe, é causado pela alteração promovida pela lua e sol diante do nível das águas. A força gravitacional não impacta necessariamente nos continentes, mas promove inquietação oceânica por causa da fluidez das águas. Basicamente, explicamos da seguinte maneira: a lua puxa as marés para si e por isso, promove a conhecida protuberância e gera as tais lendas que gravitam em torno da lua supostamente chamar o mar. Em seu território, as sereias se tornam então vulneráveis aos movimentos em questão, sendo a lua o astro que define muito de suas ações e nos desdobramentos de H20 Meninas Sereias, o luminoso astro ganha significação importante, inclusive nos momentos de eclipse lunar, período que pode extrair os poderes das jovens por 12 horas, caso estejam se banhando nesta ocasião nas aguas da piscina da Ilha Mako, além do alinhamento planetário que ocorre a cada 50 anos e pode tirar os poderes delas para sempre, neste caso, se estiverem nas mesmas condições, isto é, inseridas na tal piscina mágica.

Assim, após a mencionada transformação, cada uma delas precisa lidar com as mudanças vertiginosas ocorridas em suas vidas. Nanda, por exemplo, era uma exímia nadadora e precisou aprender a lidar com o afastamento das atividades, tal como Cleo, jovem que sofria de hidrofobia e, após a mudança, deixou o medo por completo e se tornou uma aliada das águas profundas. Drica é a mais desprovida de conflitos, tranquila diante do ocorrido e melhor desenvolvida depois da primeira metade da temporada inicial para o fim. Ela é a jovem cabeça fria, despreocupada até mesmo quando há momentos de maior gravidade para resolver. Na primeira temporada, elas precisam aprender a lidar com a situação nova e os seus desafios, algo ampliado no segundo ano, período demarcado pela entrada de novos personagens e situações conflitantes, em especial, o aumento considerável de seus poderes. Na terceira e última temporada, novos perigos surgem nas águas da Ilha Mako e a chegada de Bella (Indiana Evans) na cidade traz para o centro da série problemas novos e uma aliada diante das mais variadas aventuras vividas intensamente pelas meninas sereias, personagens que dividem bastante tempo entre a terra firme e os momentos subaquáticos, captados pela direção de fotografia assinada por Bruce Phillips e Zenon Sauko, setor com passagens diurnas constantes e bom aproveitamento da luz nas cenas noturnas, além de cumprir bem os desafios de se filmar embaixo da água.

Supervisionados por Barry Lanfrazchi, os efeitos visuais em H20 Meninas Sereias estão acima da média para o que se produzia no período e dão conta da construção de momentos convincentes quando os personagens estão diante de “situações mágicas”. Treinadas para mergulho e acrobacias aquáticas, as sereias da série conseguem dar conta do recado e entregam desempenhos convincentes dentro das propostas temáticas do material textual criado pelos realizadores da pré-produção. Com o sucesso de público, a indústria do consumo logo tratou de criar uma série derivada, Mako Mermaids, desenvolvida ao longo de quatro temporadas e com uma atmosfera visual e dramática muito similar ao trajeto de Nanda, Cléo e Drica. Dentre os demais personagens relevantes, temos a misteriosa Sra. Margot (Missa Chatham), espécie de mentora das garotas; Léo (Angus McLaren), um carismático aspirante a cientista, interesse amoroso de Cleo no do meio para o desfecho da primeira temporada; Igor (Burgess Abernethy), moço simpático inicialmente bem irritante, mas que evolui ainda no primeiro ano e se torna namoradinho de Drica, relação cheia de idas e vindas e bastante desentendimento juvenil. Ademais, H20 Meninas Sereias é o tipo de narrativa chiclete, quando grudamos, não conseguimos parar de consumi-la. Os dez primeiros episódios são menos interessantes que o esperado, mas depois a produção pega um ritmo minimamente válido para funcionar como entretenimento.

H2O: Meninas Sereias (H2O: Just Add Water, Austrália/2006-2010)
Criação: Jonathan M. Shiff
Direção: Colin Budds, Jeffrey Walker
Roteiro: Jonathan M. Shiff, Anthony Morris, Sam Carroll, Max Dann
Elenco: Cariba Heine, Phoebe Tonkin, Angus McLaren, Burgess Abernethy, Claire Holt, Alan David Lee, Cleo Massey, Jamie Timony
Duração: 23 min. (cada episódio – 78 episódios no total)

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