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Crítica | Hacks – 2ª Temporada

Uma road trip de autodescoberta.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.

A segunda temporada de Hacks, que tem todo o jeito de ser a última por encerrar muito bem os arcos de autodescoberta de suas protagonistas, começa do ponto exato em que a primeira acabou, com a comediante de stand–up Deborah Vance (Jean Smart), no crepúsculo de sua carreira, decidindo retornar às suas raízes fazendo um show itinerante pelos EUA e com a jovem escritora Ava Daniels (Hannah Einbinder), em grande parte responsável pelo atual stand-up mais pessoal de Deborah, na dúvida mortal entre contar ou não para sua chefe que ela enviara um e-mail para uma produtora de comédia relatando todos os segredos sujos da estrela. E, sem perder tempo, quase que como no bater seguinte do coração, as duas já partiram primeiro de carro pelas estradas, aguardando a chegada do mega-ônibus personalizado do tour.

A estrutura de road trip, portanto, impera, o que abre oportunidades para o uso de outros ambientes, todos eles longe de combinar com a Deborah Vance bem-sucedida que conhecemos e também de alguns novos personagens convidados, que aparecem brevemente para dar relevo ao seu passado remoto que vai aos poucos preenchendo “espaços em branco” aqui e ali do porquê Deborah ser como é. Entre o dilema de Ava e a conexão dela com Deborah antes e depois de revelar seu segredo, as personagens estão imediatamente excelentes em seus papeis, algo que, pelo menos no tocante a Einbinder, demorou a acontecer na temporada inaugural. Sob diversos aspectos, a dinâmica da dupla é o que realmente importa na nova temporada e é o que realmente encanta do começo ao fim, com as duas se compreendendo melhor quando toda a poeira da viagem baixa.

Por outro lado, essa mesma estrutura sempre em movimento dificulta as coisas no que se refere ao personagens coadjuvantes de relevo da série. A abordagem do drama do simpático agente de talentos Jimmy LuSaque (Paul W. Downs), que trabalha tanto para Deborah quanto para Ava, e que luta primeiro para livrar-se de sua insuportável, ineficiente, mas hilária secretária – e filha do chefe – Kayla (Megan Stalter) e, depois, contra seu próprio chefe Michael (W. Earl Brown substituindo Brent Sexton) parece encaixar-se com a narrativa principal dada sua importância para as comediantes, mesmo que tudo aconteça sem que os personagens dividam a tela por quase todo o tempo. No entanto, o mesmo não acontece com Marcus (Carl Clemons-Hopkins), responsável pelos negócios de Deborah, e cujo drama se limita a sua separação de Wilson (Johnny Sibilly), o inspetor de águas que ele conhecera na primeira temporada, que o leva a mergulhar ainda mais em seu trabalho. O problema é que seu relacionamento não conversa de maneira fluida com a história principal e a distância acaba tornando artificiais todos os retornos a Las Vegas para lidar com o assunto e infelizmente a coisa não melhor quando ele é finalmente levado ao ônibus juntamente com a crupiê Kiki (Poppy Liu), outra perdida na história.

Por outro lado, a segunda temporada parece abrir ainda mais espaço para Smart e Einbinder, o que é sempre uma boa notícia, especialmente no que se refere á primeira, que está mais uma vez excelente no papel de Joan Rivers. Não só a relação das duas funciona, com Ava sendo um pouco menos aquela pessoa que explica, aos espectadores, todas as bandeiras levantadas pela série, como há sequências inteiras – capítulos inteiros da temporada encurtada, na verdade – que são geniais, como é o caso do cruzeiro de lésbicas em que Deborah vai apresentar seu número, apesar de ela tradicionalmente ter sempre apresentado para um público de homens gays, em que ela deixa o sucesso afetar suas decisões e começa a fazer piadas fora de roteiro que rapidamente a levam do céu ao inferno.

Espero que não inventem uma nova situação artificial para justificar eventual terceira temporada de Hacks, pois o final de Deborah e Ava têm aqui é maduro, logico e muito bem construído a partir de tudo o que aprendemos sobre as duas desde a temporada inaugural. Mesmo que seja um prazer ver Jean Smart atuando no que podemos chamar de ponto de alto de sua carreira, prefiro que essa imagem se perpetue e não a exploração de fios narrativos que tendem a diluir o que foi alcançado na série.

Hacks – 2ª Temporada (Idem – EUA, 12 de maio a 02 de junho de 2022)
Criação e showrunners: Lucia Aniello, Paul W. Downs, Jen Statsky
Direção: Lucia Aniello, Paul W. Downs, Trent O’Donnell
Roteiro: Lucia Aniello, Paul W. Downs, Jen Statsky, Ariel Karlin, Pat Regan, Andrew Law, Aisha Muharrar, Joe Mande, Samantha Riley
Elenco: Jean Smart, Hannah Einbinder, Carl Clemons-Hopkins, Paul W. Downs, Rose Abdoo, Christopher McDonald, Mark Indelicato, Megan Stalter, Poppy Liu, Kaitlin Olson, Johnny Sibilly, Angela Elayne Gibbs, Jane Adams, Joe Mande, Lauren Weedman, Lorenza Izzo, Luenell, W. Earl Brown, Martha Kelly, Ming-Na Wen, Laurie Metcalf, Wayne Newton, Margaret Cho, Harriet Harris, Susie Essman, Devon Sawa
Duração: 257 min. (oito episódios)

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