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Crítica | Halloween: O Legado de Michael Myers, de Dustin McNeill e Travis Mullins

Publicação suntuosa analisa historicamente e esteticamente a franquia de Michael Myers.

por Leonardo Campos
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Muito mais que um presente para os fãs, Halloween: O Legado de Michael Myers é um manancial para críticos e historiadores do cinema. Publicação de Dustin McNeill e Travis Mullins, originalmente lançada em 2019, foi adaptada para as atualizações recentes da franquia em sua veiculação brasileira, assumida pela Darkside Books, o livro é apresenta aos leitores uma profunda, humorada e dinâmica imersão no universo de Michael Myers, o antagonista mascarado que deu novos rumos ao subgênero slasher, em fase de transformação quando Halloween: A Noite do Terror, dirigido por John Carpenter e escrito numa parceria com a produtora Debra Hill, chegou aos cinemas como produção independente de baixo orçamento e logo se tornou um sucesso duplo, isto é, repleto de críticas favoráveis e retorno na bilheteria. Com sua trilha sonora minimalista, direção de fotografia eficiente e imersiva, bem como roteiro enxuto e cheio de mistério, os realizadores criaram um universo que ainda hoje rende bastante, refilmado, tomado por continuações questionáveis, levado aos quadrinhos e traduzido para o suporte literário.

Começo e desfecho empacotam uma cuidadosa jornada de pesquisa, análise e exposição de conteúdos. Logo no prefácio, intitulado Palavra dos Adoradores, os autores versam sobre a paixão diante do clássico de 1978 e o primeiro contato com a franquia, sessões de entretenimento que se transformaram em experiências profissionais na área de cinema. Curiosidades, inspirações, dentre outras informações sobre este universo com mais de dez filmes promoveram o interesse da dupla em escrever e assumir tal empreitada. Lá no final, a equipe da Macabra, produtora responsável por assumir a publicação, entrega aos leitores um posfácio intitulado O Carpinteiro de Haddonfield, reflexão breve, mas bastante elucidativa, sobre os elementos que compuseram a dinâmica de produção de John Carpenter, bem como traços estilísticos deste cineasta singular. Adiante, a dupla vai analisando cada filme da franquia, focados na importância cultural de cada um, nos possíveis erros e acertos, nas questões de bastidores, na recepção do público e da crítica, além do retorno financeiro, dentre outros pontos.

Sobre Halloween: A Noite do Terror, eles exploram a importância do filme para a história do cinema, o seu lugar de privilégio diante dos críticos de cinema, o perfil de Laurie Strode, interpretada por Jamie Lee Curtis, bem como as características da produção que a tornaram singular dentro de seu respectivo contexto. Halloween 2: O Pesadelo Continua, parte integrante da Safra 1981 do Slasher, é analisado na mesma linha, considerado impactante para a temática da época, tendo suas versões diferentes exploradas, tal como cenas deletadas e afins. Halloween 3: Dia das Bruxas, o famoso filme sem Michael Myers, uma curiosa obra-prima do cinema fantástico, ganha uma cuidadosa abordagem, sendo o menor capítulo do livro no quesito volume de páginas. Halloween 4: O Retorno de Michael Myers, retoma a extensa investigação dos capítulos anteriores, com detalhamento que o torna cheio de pormenores, produção considerada exitosa em comparação aos rumos que a franquia ganhou em Halloween 5: A Vingança de Michael Myers, uma das mais confusas narrativas deste universo, tediosa e completamente deturpada pelos problemas de bastidores, uma pausa na saga do antagonista mascarado.

Halloween 6: A Última Vingança apresentou ao público um desgaste ainda maior, pois mesmo lançado seis anos após o equivocado filme de 1989, trouxe mais confusão para a mitologia de Michael Myers e ficou famoso por sua tenebrosa jornada de bastidores, ganhando inclusive duas versões, cada um com finais diferentes. Moustapha Akkad e seus apoiadores e Harvey Weinstein com seu clã de produtores brigaram extensivamente pelo poder narrativo do filme e ambas as versões amargaram resultados complicadíssimos. Em 1998, no auge do slasher, graças ao sucesso do diretor Wes Craven e do roteirista Kevin Williamson em Pânico, era o momento de retomar com Halloween H20: Vinte Anos Depois, um dos melhores filmes da franquia, retorno de Jamie Lee Curtis que desconsiderou todas as continuações e focou apenas nos dois primeiros ataques de Michael Myers. Bem dirigida e escrita, a produção faturou bastante e garantiu mais um exemplar, Halloween: Ressurreição, trama que desfaz todo o charme de seu antecessor e traz a atriz no papel da protagonista apenas para ser aniquilada na abertura.

Chato, confuso e bobo, o oitavo episódio deste universo slasher enterrou as chances de revigoramento da linha narrativa desta franquia, resgatada posteriormente apenas na era do Slasher Refilmado, com o olhar relativamente interessante do músico e diretor Rob Zombie para a história pregressa de Michael Myers em Halloween: O Início, trama que não é unanimidade, mas conseguiu apresentar alguns pontos interessantes para os personagens, apesar dos exageros do cineasta em sua abordagem mais grotesca e vulgar de Haddonfield. Estressado com os bastidores conflituosos, o realizador preferiu não embarcar numa continuação, mas por insistência dos produtores, voltou, para se arrepender mais uma vez, pois Halloween 2 pode ser considerado um dos piores exemplares da franquia, produção que sofreu, segundo relato dos autores, com as demandas financeiras e crises de bastidores, tornando-se um fiasco de crítica. As curiosidades e informações, devo ressaltar, são complementadas com entrevistas interessantes, geralmente próximas ao desfecho de cada capítulo, material que contempla diretores de fotografia, roteiristas, diretores, montadores, dentre outros.

O pacote se completa com uma análise igualmente honrosa de Halloween (2018), dirigido por David Gordon Green, cineasta que tomou como ponto de partida o roteiro que dialogava apenas com o filme de 1978, criando uma espécie de “Halloween 40: Quarenta Anos Depois”, narrativa que trouxe Jamie Lee Curtis mais uma vez como Laurie Strode e desconsiderou todas as continuações, lançado numa época de debates sobre o #metoo e emancipação feminina diante das amarras tóxicas do patriarcado. Mulheres em combate, diante de uma macabra figura masculina assassina, receita ideal para um filme com discussões pertinentes sobre o seu tempo. Como sempre, os resultados críticos e de bilheteria garantiram mais uma continuação, agora uma nova trilogia, onde o suposto fim de Michael Myers está garantido. Halloween Kills: O Terror Continua, lançado em 2021, traz apenas boas curiosidades de bastidores, pois até o fechamento da edição, o filme não tinha sido analisado pela equipe editorial. Tampouco Halloween Ends, prometido para o encerramento da trilogia em 2022.

Ademais, um dos pontos que tornam Halloween: O Legado de Michael Myers uma publicação grandiosa é a sua edição brasileira, disponibilizada pelo selo editorial da Darkside Books, uma empresa cuidadosa na veiculação de materiais do tipo em nosso território, principalmente em sua estrutura. A tradução Antônio Tibau acerta em cheio ao pegar as peculiaridades da escrita ponto de partida e delinear adequadamente as expressões específicas da língua inglesa, não perdidas no processo de transposição. A ilustração da capa e do miolo, assumidas pelo design de Vitor Willeman, se apresentam de maneira formidável e tornam a leitura do livro mais prazerosa, não cansativa, mesmo diante do extenso volume de texto ao longo de suas 352 páginas, esparsas numa diagramação sem espaçamentos longos, isto é, com parágrafos grandes e muitas informações, deliciosamente contempladas por todos aqueles que gostam da saga de Michael Myers, Laurie Strode, do cinema de John Carpenter e também de análise fílmica. Imagens de bastidores, cenas deletadas e outras tantas ilustrações tornam o passeio pelo impacto e legado de Halloween uma aventura diletante com aprendizagem mais que garantida.

Halloween: O Legado de Michael Myers (Taking Shape: Developing Halloween From Script To Scream) — EUA, 2019
Autor: Dustin McNeill, Travis Mullins
Tradução: Antônio Tibau
Editora no Brasil: Darkside Books (Coleção Macabra)
Páginas: 352 (edição nacional atual)

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