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Crítica | Halo – 1X02: Unbound

Dimensionando o lado “ficção científica" de Halo com didatismo.

por Iann Jeliel
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Unbound

  • COM SPOILERS. Acompanhe por aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Passadas as primeiras boas impressões na ação e na abertura de possibilidades desse universo, o segundo episódio de Halo, intitulado Unbound, precisava desenvolver personagens e conceitos anteriormente apresentados, fazendo isso da maneira mais segura possível: com didatismo. Não tenho nada contra o recurso professoral do roteiro. Desde que ele não subestime a inteligência do telespectador, é um caminho válido para fornecer uma apresentação vasta de elementos em pouco tempo de tela. Na TV, por conta do espaçamento natural da experiência seriada, é ainda mais fácil evitar que a didática se torne meramente mastigada, pois pode-se repartir as explicações em blocos longos que soem orgânicos ao senso de progressão narrativa.

Exatamente esse o mérito conquistado pelo capítulo, que compensa a falta de ação num ritmo agradável de contextualizações parciais, suficientes para terminarmos o episódio com a compreensão necessária do que será relevante na história. Unbound coloca em pauta principal o prefixo do debate de ficção científica da franquia, no caso, como a tecnologia usada para extrair a performance máxima dos seres humanos acabou atuando em sua desumanização no contexto de guerra com os Covenants. É interessante como o episódio alinha a criação de Cortana (Jen Taylor) – uma das personagens mais importantes da saga – com a jornada de Master Chief (Pablo Schreiber), confuso com o próprio lapso de desobediência ao fugir da UNSC para salvar a jovem Kwan (Yerin Há) que seria assassinada para acobertar testemunhas do massacre em Madrigal. O projeto de inteligência artificial da Dr. Halsey (Natascha McElhone) negado no primeiro episódio, é aceito neste (mesmo com suas ilegalidades) sobre esse pretexto de uma possível desobediência dos soldados como Chief, por sua inerente humanidade.

Inclusive, o fato dele passar boa parte do episódio sem o capacete (haverá quem reclame pelo fato disso nunca ter ocorrido no material original) é uma boa premissa para reforçar o quanto aquelas armaduras retiram as emoções dos homens por de trás do capacete. Fora que é um método mais justo para aproximá-lo do telespectador comum, distanciando-o um pouco do que foi feito recentemente em The Mandalorian e acaba funcionando, dada a performance encaixada do intérprete principal com a proposta dessa versão mais humana do personagem. Na primeira cena em flashback, averigua-se que não é a primeira vez que ele questionou o sistema, quase fugindo em liberdade junto com um amigo Soren (Bokeem Woodbine), a quem encontra no presente em busca de respostas que justifiquem seu ato “despertador” e o expliquem qual é a influência e o que é o objeto misterioso encontrado em Madrigal.

A dinâmica dos dois dialogando geram ótimos contrastes em cima dessa tese crítica levantada por todo capítulo, que dá prosseguimento ao acinzamento dos contornos da construção de mundo da série. A própria ambientação da colônia localizada nos asteroides é um acréscimo visual fantástico. Representa um lugar de meio, um refúgio entre os dois lados de uma guerra que não parece ter mocinhos ou vilões. É claro que ainda falta a série explicar mais sobre pormenores e motivações das duas entidades envolvidas, mas, no momento, tanto a UNSC, quanto os Covenants – que aparecem brevemente no episódio em cenas envolvendo seu Conselho de líderes interagindo com um sobrevivente alien de Madrigal e orquestrando a infiltração da sua aliada humana (Charlie Murphy) no Comando Espacial – seguem preceitos dúbios e compartilham de um mesmo objetivo: obter o artefato Macguffin que está com Chief.

Embora tenha sentido falta de o episódio explorar mais a personagem de Kwan e sua química com o Chief, gosto de como isso se justifica na conclusão um tanto subversiva de deixá-la na companhia de Soren nos asteroides, enquanto Chief retorna para UNSC. Pelo visto, a dinâmica da jovem em ser “aprendiz”/pupila, tal como a relação de John com Soren, não será relevante para o restante da temporada e os questionamentos de Chief acerca do seu livre arbítrio serão contornados pela sua “mãe”, Halsey, que pelo diálogo dos dois, ao final, parece já ter um histórico de administração de situações semelhantes. Fica a deixa para isso ser mais explorado por outros flashbacks que nos ensinem sobre o processo de criação de máquinas de matar com emoções reprimidas.

Unbound amplia aos poucos a mitologia de Halo, organizando uma narrativa que tem tudo para ser equilibrada em simular visualmente a atmosfera shooter futurista do jogo dentro de uma trama de ficção científica acessível, mas conceitualmente vistosa de ser refletida.

Halo – 1X02: Unbound | EUA, 31 de Março de 2022
Criação: 
Kyle Killen, Steven Kane
Direção: 
Otto Bathurst
Roteiro:
Steven Kane
Elenco: 
Pablo Schreiber, Shabana Azmi, Natasha Culzac, Olive Gray, Yerin Ha, Bentley Kalu, Kate Kennedy, Charlie Murphy, Danny Sapani, Jen Taylor, Bokeem Woodbine, Natascha McElhone, Jamie Beamish, Burn Gorman, Julian Bleach, Ryan McParland, Keir Dullea, Julian Bleach, Karl Johnson, Hilton McRae, Johann Myers, Fiona O’Shaughnessy, Logan Shearer, Jude Cudjoe, Anna Trokán, Gábor Nagypál, Tylan Bailey, Miranda Wilson, Francisco Labbe, Iván Fenyö, Dávid Csányi, Iringó Réti
Duração: 58 min.

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