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Crítica | Hanna – 2ª Temporada

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leia, aqui, a crítica da temporada anterior e do filme.

A premissa de Hanna é indubitavelmente intrigante: uma adolescente treinada durante sua vida toda por seu pai para sobreviver nas condições mais inóspitas possíveis sendo largada no mundo real dentro de uma estrutura de espionagem e vingança. Acontece que, pelo menos até o momento, a ideia tem sido melhor do que a execução, seja considerando o filme original de 2011 dirigido por Joe Wright, seja considerando a série da Amazon baseada nele e capitaneada por David Farr, co-roteirista do longa.

Se o filme prende a atenção, mas desperdiça seu potencial com a forçada trama de amadurecimento de uma jovem, a série tenta corrigir o rumo, mas não conseguiu acertar o tom na primeira temporada que contava com Joel Kinnaman como contraponto à personagem vivida por Mireille Enos, repetindo a parceria de The Killing, deixando a Hanna da competente Esme Creed-Miles como a corda tensionada entre os dois. Sem Kinnaman, muito da segunda temporada depende da relação de amizade hesitante entre Hanna e Clara Mahan (Yasmin Monet Prince), a única recruta da base da Utrax que segue a invasora, com as duas começando a ação juntas, na floresta da Romênia, mas logo se separando em razão do desejo de Clara de saber sobre sua mãe.

É o sequestro de Clara pela Utrax, agora comandada por John Carmichael (Dermot Mulroney), que catalisa a história, com Hanna fazendo parceria com Marissa Wiegler para mais uma vez achar Clara. A temporada, no entanto, é hesitante e demora muito a engrenar mesmo tendo apenas oito episódios. Depois que a ação é estabelecida ao final do primeiro capítulo, há muito vai-e-vem, muita indecisão, muitos começos falsos até que a ação retorne ao ponto certo, algo que só acontece lá pelo sexto episódio, ponto de virada na narrativa.

Entre uma coisa e outra, o showrunner trata de trabalhar Clara com mais cuidado, com um bom trabalho da atriz que vai de uma jovem naturalmente abrutalhada considerando seu condicionamento na fria e impessoal base em que vivia até uma garota que consegue demonstrar camadas e mais camadas de sentimentos. Ao mesmo tempo, somos apresentados a diversas recrutas, particularmente Sandy Phillips (Áine Rose Daly) e Jules Allen (Gianna Kiehl), a primeira reunindo inocência e psicopatia em um pacote perturbador e, a segunda, uma simpatia socialmente engajada mesmo considerando seu isolamento na base nova, batizada de The Meadows. O aprofundamento em Clara e as novas adições são boas notícias para a série, mas seu uso dentro da narrativa acaba sendo muito fragmentado, com roteiros que as usam na base do revezamento, ou seja, quando uma está em evidência, as demais desaparecem, o que normalmente indica uma certa preguiça dos roteiristas em criar harmonia e equilíbrio no elenco disponível.

A própria transferência das recrutas para a nova base para treinamento de socialização, ou seja, de integração ao mundo real, parece muito mal manejado em termos de passagem temporal e de convencimento de o que está ocorrendo realmente é possível. Temos que lembrar que as jovens eram como animais enjaulados que mal falavam entre si e dormiam em quartos espartanos com portas trancadas do lado de fora. O mundo verdadeiro, para elas, era um mistério absoluto e não são acomodações luxuosas com identidades dadas a elas pelo comando que conseguiria mudar isso no intervalo de alguns meses, que é o tempo em que a temporada se passa. 17 anos de prisão não permitem que alguém seja reinserido na sociedade – especialmente como espião – em tão pouco tempo. Basta ver o exemplo de Hanna, que viveu como bicho com o pai na floresta gelada e que, fora dela, é um ser acuado, quieto, ainda que observador, astuto e altamente inteligente.

Portanto, é difícil comprar essa ideia, assim como é difícil vê-las em missão nos episódios finais. Mas, se esquecermos, o legado problemático, há diversão ali nos três episódios finais com muitas reviravoltas e muita pancadaria atrás de um MacGuffin (a lista) inventado um tanto quanto do nada, mas que, se novamente fecharmos os olhos, funciona descompromissadamente. Ah, é também necessário compreender que nada do funcionamento tanto da Utrax quanto da rede que quer derrubar a Utrax é explicado, em um exercício irritante de David Farr em deixar o espectador completamente ignorante até o fim.

A segunda temporada de Hanna tem a vantagem de manter as linhas narrativas entrelaçadas, o que não aconteceu na primeira. Por outro lado, há uma economia muito grande de ação efetiva e de esclarecimentos sobre o que exatamente está acontecendo para além do óbvio. Não que eu queria detalhes e textos expositivos com gráficos explicando os meandros do jogo de espionagem e dos objetivos-macro da Utrax, mas seria bom pelo menos aquela sardinha que a foquinha ganha de recompensa por fazer um truque corretamente. Afinal, como a foca, eu assisti tudo diligentemente e a sardinha não veio…

Hanna – 2ª Temporada (EUA – 03 de julho de 2020)
Criação: David Farr
Direção: Eva Husson, Ugla Hauksdóttir, David Farr
Roteiro: David Farr, Paul Waters, Laura Lomas, Nina Segal, Charlotte Hamblin
Elenco: Esme Creed-Miles, Mireille Enos, Yasmin Monet Prince, Áine Rose Daly, Gianna Kiehl, Dermot Mulroney, Anthony Welsh, Cherrelle Skeete, Katie Clarkson Hill
Duração: 388 min. (8 episódios no total)

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