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Crítica | Hanna – 3ª Temporada

O final da saga de Hanna.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas das temporadas anteriores e do filme.

Em termos narrativos, Hanna, série que adapta o longa-metragem homônimo de 2011, não tinha muito para aonde correr sem repetir sua temática e sua estrutura infinitamente, pelo que seu encerramento com três temporadas é uma notícia boa e não ruim, como muitos podem achar. Afinal, temos que combinar que não se trata de uma série de ação espetacular, mas sim apenas boa e é melhor acabar desse jeito do que despencar de vez em qualidade. E, felizmente, com dois episódio a menos do que o padrão, David Farr faz exatamente isso: encerra a história bem a contento e dentro de uma lógica interna satisfatória.

Na verdade, ele consegue ir um pouco além das temporadas anteriores em termos de concisão narrativa, subindo um degrau na escada do “mistério da Utrax”, desta vez com a introdução de Ray Liotta como Gordon Evans, o final boss, que é também o pai abusivo de Marissa Wiegler, a personagem de Mireille Enos, o que cria uma circularidade narrativa, além de uma boa paralelização às avessas com o drama da própria Hanna, com Esme Creed-Miles tendo sua melhor atuação na série. O fato de o líder secreto da Utrax ser pai de Marissa não é algo que eu adoro, mas definitivamente funciona para dar peso narrativo à história e criar essa “fase final” na violenta história da criação de uma tropa de elite feminina por meio de doutrinação militar para a eliminação de futuros subversivos pelo mundo.

A premissa da temporada final é o retorno de Hanna, com a ajuda de John Carmichael, à Utrax, com o objetivo de minar a organização por dentro, frustrando as tentativas de assassinato. Sem perder tempo, todas as jovens são ativadas e enviadas para os países onde deverão atuar e Hanna, juntamente com Marissa e a ajuda razoavelmente hesitante de Carmichael e também da providencial Terri Miller (Cherrelle Skeete), que ganha mais destaque aqui, partem para impedir as mortes. É tudo um pouco fácil demais, com a suprema conveniência que é Hanna apaixonar-se quase que imediatamente por seu alvo, Abbas Nazir (Adam Bessa) ao ponto de não só salvá-lo, como também visitá-lo estupidamente em seu esconderijo, dando azo a que a Utrax comece a perceber que há algo de podre com a menina.

Mas essas facilidades de roteiro – que eu poderia chamar de preguiça, mas estou me sentindo benevolente hoje – são marcas da própria série, que, apesar de criar um certo grau de complexidade às operações da Utrax, não desenvolve isso, preferindo jogar no campo da simplicidade. E essa simplicidade chega a ser engraçada aqui na 3ª temporada, pois, se pensarmos em retrospecto, perceberemos que todos os  momentos de tensão e perigo envolvendo Hanna são solucionados com objetos que ela sub-repticiamente consegue pegar e usar das mais variadas maneiras, seja um caco de vidro para cortar as algemas ou uma caneta para escrever nos pulsos e assim por diante. Diria até mesmo que essa é grande especialidade da jovem, com os roteiros sempre recorrendo a esses momentos para criar a reviravolta necessária, e isso sem contar com aquelas momentos em que a morte é certa, mas que alguém chega para evitá-la no centésimo de segundo correto.

Por outro lado, mesmo com esses problemas crônicos, a temporada final é dinâmica o suficiente para que possamos perdoar em parte o uso exagerado desses tropos narrativos e focar a atenção na pancadaria incessante e na tensão que os trabalhos da trinca de diretoras conseguem criar. Ajuda que são apenas seis episódios de duração normal e o fato básico que o objetivo de Hanna e Marissa não é mais necessariamente investigar, mas sim, somente, matar todo mundo da organização secreta, agora com uma base em Berlim. Com isso, a obviedade da série fica mais escancarada e honesta, sem firulas dramáticas que não funcionaram antes e que, quando são tentadas novamente, não funcionam aqui, como a forçada paixão de Hanna por Abbas e a conturbada – e que cai de paraquedas – relação de pai e filha entre Marissa e Gordon. O “pão, pão, queijo, queijo” é bem-vindo e é também bem-vindo o retorno de Hanna, no capítulo final, ao seu habitat original, ou seja, uma floresta na Alemanha que nos remete ao ambiente em que ela foi criada por seu pai.

Apesar de ser cheia de reviravoltas cansadas, a 3ª e última temporada de Hanna diverte daquela maneira bem descerebrada com sequências de ação que a colocam ligeiramente acima dos anos anteriores, servindo com uma bela forma de nos despedirmos da sofrida máquina de matar chamada Hanna. Quem sabe um dia ela não volta em algum revival? Eu sei que eu assistiria.

Hanna – 3ª Temporada (EUA – 24 de novembro de 2020)
Criação: David Farr
Direção: Sacha Polak, Weronika Tofilska, Anca Miruna Lăzărescu
Roteiro: David Farr, Selina Lim, Paul Waters
Elenco: Esme Creed-Miles, Mireille Enos, Áine Rose Daly, Gianna Kiehl, Dermot Mulroney, Chloe Pirrie, Gabriel Akuwudike, Adam Bessa, Léann Hamon, Cherrelle Skeete, Ray Liotta
Duração: 290 min. (6 episódios no total)

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