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Crítica | Hawthorne: A Série Completa

A história de Christina Hawthorne, uma enfermeira chefe dedicada e apaixonada, que luta para equilibrar sua vida profissional e pessoal.

por Leonardo Campos
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O drama médico Hawthorne, criado por John Masius e exibida no canal TNT entre 2009 e 2011, encapsula o intricado equilíbrio entre a vida profissional e pessoal de uma enfermeira dedicada em um ambiente hospitalar desafiador. Com um total de 30 episódios distribuídos em três temporadas, cada um com uma média de 42 minutos, a narrativa gira em torno de Christina Hawthorne, interpretada por Jada Pinkett Smith, uma personagem apaixonada pelo seu trabalho como Chefe de Enfermagem no Richmond Trinity Hospital, na Virgínia. Essa produção, disponibilizada num período de exaustão do estilo narrativo dramático hospitalar é até interessante, mas com personagens tediosos em algumas passagens, bem como emocionalmente exagerados em seus respectivos complexos de heróis, além dos clichês abundantes em cada uma dos dez capítulos de suas temporadas, numa produção que não apenas aborda os dilemas éticos enfrentados por profissionais de saúde, mas também explora a complexidade das relações interpessoais dentro e fora do ambiente de trabalho. Interessante, mas oriundo de uma época onde a televisão insistia num formato desgastado com o avanço de Grey’s Anatomy e o desfecho de ER: Plantão Médico, Hawthorne se torna sim um microcosmo que reflete a luta pela dignidade e integridade em um sistema de saúde cada vez mais conturbado que, no entanto, se conforma em ser mais do mesmo. Não é ruim, mas cansa.

Christina Hawthorne é apresentada como uma figura central que encarna o espírito de luta e a dedicação inabalável de muitos profissionais de enfermagem. Sua paixão pelo cuidado dos pacientes a leva a defender vigorosamente tanto seus pacientes quanto sua equipe, mesmo quando essas ações colocam em risco seu próprio emprego. Essa característica torna Christina uma heroína contemporânea e realista, cujas motivações e desafios refletem a realidade de enfermeiros e enfermeiras que enfrentam constantes pressões e dilemas éticos. A série a coloca como uma espécie de heroína da Marvel da saúde, ao mostrar as dificuldades que a protagonista enfrenta, especialmente quando o Richmond Trinity Hospital é fechado, forçando-a e sua equipe a se adaptarem a um novo ambiente no James River Hospital. Essa transição serve como uma metáfora poderosa para os desafios que os profissionais de saúde enfrentam em um sistema em constante mudança, destacando a resiliência exigida para sobreviver em meio à adversidade.

Além das tensões no local de trabalho, Hawthorne tenta se aprofunda nas complexidades da vida pessoal de sua protagonista, especialmente no que diz respeito ao seu relacionamento com o Dr. Tom Wakefield, interpretado por Michael Vartan. O relacionamento traz um novo conjunto de desafios, pois Christina luta com a incerteza sobre a habilidade de se comprometer novamente após experiências passadas de perda e dor. A produção aborda temas de amor e compromisso, questionando o que realmente significa abrir-se para outra pessoa em meio a tantas responsabilidades. À medida que Christine se estabelece ao seu novo ambiente e navega por sua relação com Tom, os dilemas emocionais que ela enfrenta acrescentam uma camada de tensão dramática à trama. Quando finalmente se casam na terceira temporada, os desafios que eles enfrentam, incluindo questões de lealdade e infidelidade, revelam os altos e baixos de um relacionamento em construção, salpicados de nuances que tornam a narrativa novelesca, mas ainda assim possível de ser assistida, com certo desdém, mas sim, suportável.

O drama médico em questão apresenta uma narrativa que segue fórmulas já estabelecidas neste gênero, trazendo à tona situações comuns que não oferecem grandes inovações. Ao longo da série, alguns momentos se destacam por suas emoções genuínas, proporcionando ao público cenas comoventes. No entanto, outros trechos da trama se tornam repetitivos, refletindo o que já foi explorado em produções anteriores e, assim, induzindo uma sensação de marasmo. Essa mesmice nas abordagens e nas histórias contadas pode desestimular espectadores que buscam algo mais original. Entre os membros da equipe, existem personagens como Ray, um enfermeiro que luta para se afirmar em um campo predominantemente feminino, e Candy Sullivan, outra enfermeira que também faz parte do grupo de Christina. A dinâmica entre eles é enriquecida por diferentes perspectivas e vivências, mostrando as complexidades de trabalhar na área da saúde.

Apesar das críticas sobre sua previsibilidade e clichês, surpreendentemente, a série Hawthorne conseguiu manter-se no ar por mais de uma temporada. Essa longevidade pode ser atribuída ao apego de uma base de fãs que valoriza as dinâmicas emocionais e os dramas cotidianos do ambiente hospitalar, mesmo que não ofereçam grandes inovações. A familiaridade com os personagens e suas lutas pessoais, entrelaçadas com os desafios profissionais, pode ter conquistado uma audiência que aprecia o conforto das narrativas tradicionais, mesmo quando estas se arrastam em pontos previsíveis. Assim, embora o enredo não revolucione o gênero, sua permanência pode ser um reflexo da paixão do público por histórias que, embora repetitivas, ressoam em suas experiências emocionais. Confesso que mesmo entediado em muitos momentos, adentrei numa maratona da série durante apenas um final de semana. Como somos seres complexos, não é mesmo? Assim como outros dramas hospitalares de sucesso, como o já mencionado ER: Plantão Médico, Hawthorne apresenta uma variedade de cenas repletas de adrenalina, nas quais médicos e enfermeiras se esforçam para salvar pacientes em situações extremas, incluindo casos de tentativas de suicídio, como o cuidado de um bebê sem-teto, dentre outras celeumas que se dividem entre o envolvente e o irritante.

O que podemos perceber na direção de realizadores variados e nos textos oriundos de uma sala de roteiristas com poucas opções para inovar, é que Hawthorne busca não se limitar a ser uma simples série de drama médico. Importante: eu disse busca, diferente de afirmar que consegue, combinado? A produção seriada é um retrato da luta cotidiana que muitos profissionais de saúde enfrentam, num enredo que consegue humanizar as enfermeiras, muitas vezes deixadas à margem nas narrativas de filmes e séries médicas, trazendo à tona suas lutas internas, desafios e triunfos. Jada Pinkett Smith brilha no papel de Christina, trazendo uma profundidade emocional que permite que o público se conecte com sua jornada, mas muitas vezes, irritante. Teimosia e batalha são elementos importantes para a identificação do público, mas nalguns casos, os excessos da protagonista beiram ao absurdo e, concomitantemente, ao constrangimento dramático. Ao longo das três temporadas, o drama médico pode se destacar por sua capacidade de misturar drama, amor e os desafios do cotidiano em um ambiente hospitalar, tornando-se uma obra significativa, mas que funciona pouco para quem acompanha o estilo narrativo em questão constantemente.

É como se estivéssemos vendo a mesma coisa de outros programas, o que não é ruim, pois a indústria do entretenimento precisa ofertar opções diversas, mas a sensação, nesta produção, é ver tudo igual no quesito dramático, tendo como modificação apenas o elenco. Péssimo? Nunca. Ótimo? Também não. Apenas bom e funcional, caro leitor, a depender de sua paciência.

Hawthorne: A Série Completa (Hawthorne, Estados Unidos/2009-2011)Criação: John MasiusDireção: VáriosRoteiro: VáriosElenco: Jada Pinkett Smith, Michael Vartan, Suleka Mathew, David Julian Hirsh, Christina Moore, Hannah Hodson, Vanessa Lengies, Marc Anthony, Anne Ramsay, Adam Rayner, Derek Luke, James Morrison Duração: 43 min. (Cada episódio – 30 episódios no total)

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